O SINDICALISTA LUIZ HUGO Por Rui Leitao
Publicado no jornal A UNIÃO edição de hoje
O SINDICALISTA LUIZ HUGO Por Rui Leitao
Um dos mais atuantes líderes sindicais da Paraíba, o bancário Luis Hugo Guimarães nasceu, em João Pessoa, no ano de 1925, na data em que é celebrado o Dia Internacional do Trabalho, coincidindo, assim, com a sua história de vida dedicada à defesa dos direitos trabalhistas. Formado em Direito pela UFPB, em 1955, foi orador da turma que seria pioneira no Curso de Ciências Jurídicas e Sociais na Paraíba. Seu espírito de liderança já se revelava desde o tempo em que frequentava os bancos escolares. Antes de se tornar bancário foi auxiliar de revisor e redator do jornal A União.
Ingressou em 1955, por aprovação em concurso público, no Banco do Brasil, lotado na agência de Natal – RN, exercendo o cargo de escriturário. Trabalhou ainda nas agências de João Pessoa, Guarabira, Porto Velho e Recife. No exercício da atividade bancária participou ativamente do movimento sindical, tendo sido presidente do Sindicato dos Bancários da Paraíba por quatro mandatos. Ocupou, também, os cargos de vice-presidente da Federação dos Bancários do Norte-Nordeste; delegado junto à Confederação Nacional dos Bancários – CONTEC e juiz classista da Junta de Conciliação e Julgamento de João Pessoa, por 12 anos.
Foi assessor sindical do governo de Pedro Gondim e serviu no gabinete do vice-presidente João Goulart. A militância política fez com que fosse incluído na primeira lista de cassações e intervenções nos sindicatos após o golpe de 64. Quando ocorreu o movimento que instaurou um governo totalitário militar, estava na presidência do Sindicato dos Bancários. Informado de que fazia parte de uma lista de procurados pelos promotores da ruptura democrática, ficou, por alguns dias, escondido na casa de um amigo, até que decidiu ir prestar esclarecimentos no 15RI – Regimento de Infantaria, por considerar que não tinha ligações com nenhum partido de esquerda, nem se classificava como um comunista, e, assim, não via motivos para ser preso. No dia seguinte ao seu depoimento, foi convocado a voltar ao quartel, oportunidade em que recebeu voz de prisão, sendo escoltado para o primeiro andar daquela base militar, lá encontrando diversos companheiros do movimento sindical, estudantil e camponês, além de intelectuais e servidores públicos.
Há um fato que merece registro, narrado por seu então companheiro na diretoria do Sindicato dos Bancários, João Fragoso. Ainda quando estava foragido, Luis Hugo recebeu a comunicação de que 20 sargentos estariam dispostos a resistir, contanto que ele fosse o comandante, o líder. Ele leu a carta que lhe foi apresentada e rasgou, afirmando: “Não tem mais jeito. Jango já saiu do Brasil. Vamos evitar que esses valorosos militares resistentes se envolvam em situação de risco”.
Ainda no mês de abril foi transferido para a Ilha de Fernando de Noronha, ali permanecendo até o mês de junho, onde dividiu espaço como ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes. Foi novamente preso em 25 de julho, em virtude da reabertura do Inquérito de Subversão pelo Major Cordeiro do 15 RI. Em setembro foi demitido do emprego de professor da UFPB. Em outubro foi transferido para a agência do Banco do Brasil em Rondônia.
Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano – IHGP, tendo sido seu presidente, reeleito para três mandatos consecutivos. Pertenceu, igualmente, ao Instituto de Genealogia e Heráldica da Paraíba. Publicou o livro 1964 – RECORDAÇÕES DA ILHA MALDITA e outros registros, em que conta a sua experiência como presidiário em Fernando de Noronha. Esse livro foi prefaciado pelo jornalista Gonzaga Rodrigues que, entre outras afirmações, coloca: “Luiz Hugo viu o ódio de frente. Ele e seus companheiros de prisão e de tortura tiveram de encarar o ódio armado, bestializado, treinado e montado para institucionalizar a traição: o dedurismo. Sem pretensões literárias, sem sacrificar sua verdade por qualquer ditame formal ou dogmático, Luiz Hugo nos leva pela mão a todos os cárceres, desde os da alma, aos do sistema”. Publicou, ainda, o livro intitulado CRÕNICAS DE UM TEMPO DISTANTE.
Faleceu em 2009, após algum tempo hospitalizado. Sua trajetória de vida fez com que fosse considerado um dos mais importantes protagonistas da história política de nosso país, notadamente durante o período em que enfrentou o arbítrio da ditadura militar que se instalou em 1964. Jornalista, escritor, historiador, ativista sindical e competente gestor público, deixou um legado a ser reconhecido e servido como exemplo para as gerações que o sucedem.
Rui Leitão- advogado, jornalista, poeta, escritor.