Bolsonaro é principal alvo e Lula evita confrontos em primeiro debate
O primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República teve tom elevado dos candidatos menos favorecidos nas pesquisas. Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Luiz Felipe d’Ávila (Novo) e Soraya Thronicke (União Brasil) elegeram Jair Bolsonaro (PL), segundo colocado nos levantamentos, como principal alvo de ataques.
Já Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as intenções de voto, esteve no foco do atual presidente. No entanto, teve tom mais comedido e evitou o confronto direto sempre que pode. Diferentemente do desempenho durante a sabatina do “Jornal Nacional”, o candidato petista se apresentou mais morno, sem entrar na pilha de seu principal adversário.
O clima tenso de dentro do estúdio, que não tinha plateia, se estendeu para os outros ambientes da Band. Na sala onde os assessores acompanhavam o confronto, os deputados André Janones (Avante), da equipe de Lula, e Ricardo Salles (PL) bateram boca .
Mas a principal marca do debate foi o ataque às mulheres. Bolsonaro foi ofensivo com a jornalista Vera Magalhães . “Acho que você dorme pensando em mim, você tem alguma paixão por mim”, disse o chefe do Executivo. Logo na sequência, foi grosseiro com a senadora Simone Tebet. A partir daí, o papel das mulheres na sociedade pautou as discussões, o que não foi favorável para o atual presidente.
Coube também a Tebet e Soraya Thronicke os ataques mais contundentes à gestão Bolsonaro, provocando os momentos de maior repercussão nas redes sociais.
O debate
Logo de cara, os candidatos tiveram um minuto e meio para responder perguntas programáticas. Felipe d’Ávila e Soraya falaram sobre os gastos públicos. Simone Tebet e Bolsonaro foram questionados sobre o conflito entre os poderes.
A candidata do MDB falou que o Brasil tem um presidente que ataca a democracia e, para pacificar as instituições, é preciso trocar o chefe do executivo. Bolsonaro justificou que não falta respeito da parte dele, mas é o Judiciário que, nas palavras dele, quer interferir no Executivo.
A última pergunta foi sobre melhorar a educação, principalmente em razão da pandemia de covid-19. Lula aproveitou para criticar a atual gestão do MEC. Já Ciro foi além. “Os problemas brasileiros não nasceram agora, o descuido com a educação parece ser um projeto de governo.”
Confronto direto
O primeiro embate direto aconteceu entre Bolsonaro e Lula. O atual presidente perguntou sobre a corrupção na Petrobras. O líder petista sorriu e disse que sabia que viria essa pergunta. “Citar números que são mentirosos não compensa na TV”. O atual presidente rebateu acusando a gestão petista de ser a mais corrupta da história. “O país que eu deixei é um país que o povo tem saudade”, devolveu Lula.
Na sequência, Ciro Gomes questionou Bolsonaro sobre a declaração de que no Brasil não tinha gente passando fome . “Qualquer pessoa que conhece o Brasil, que não tenha trocado o coração por uma pedra, sabe que a fome está nos lares”, enfatizou. O presidente não comentou sobre a frase, mas enfatizou os números do Auxílio Brasil, programa de transferência de renda.
Quando questionada sobre saúde por Soraya Thronicke, Simone Tebet lembrou da participação na CPI da Covid-19 e atacou a gestão federal da pandemia. “Eu não vi o presidente pegar a moto dele e ir a um hospital abraçar uma mãe que perdeu um filho. Eu vi escândalo de corrupção na compra de vacinas”, atacou.
Na vez de perguntar, Lula questionou Felipe D’Avilla sobre meio ambiente. Na réplica, aproveitou para criticar o atual governo, sem chance de Bolsonaro se defender. “Nenhum empresário sério vai fazer queimada ou destruir os biomas brasileiros. Entretanto, temos gente do governo que até incentiva. Tivemos ministro que falou ‘deixa a boiada passar'”.
Em uma dobradinha sobre educação, Simone Tebet citou o escândalo de corrupção com pastores no Ministério da Educação. Soraya Tronick disse que Empresa Brasil de Comunicação (EBC) foi usada para fazer campanha ao presidente da República durante a pandemia em vez de ter programas educativos.
Perguntas de jornalistas
No início do segundo bloco, Bolsonaro foi questionado sobre a manutenção do Auxílio Brasil de R$ 600 no próximo ano. O atual presidente disse que o valor se aproxima do “mínitmo necessário para a pessoa sobreviver” e garantiu que a continuidade do programa será dentro da responsabilidade fiscal. Bolsonaro fez ataques diretos ao PT, dizendo que o partido é “contra os pobres”.
Em seu comentário, Lula afirmou que Bolsonaro “cita números absurdos, que nem ele acredita” e destacou que o orçamento para o Auxílio Brasil de R$ 600 não consta na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2023. “Esse governo está dando certo. A economia está bombando”, disse Bolsonaro.
Na sequência, Ciro Gomes foi perguntado sobre vacinação. Antes da resposta, o presidenciável disse estar chocado com a fala de Bolsonaro e acusou os candidatos do PT e do PL de estarem “produzindo ódio”.
Bolsonaro, que deveria comentar a fala de Ciro, criticou a jornalista Vera Magalhães, autora da pergunta, e a acusou de estar tomando partido no debate. “Você é uma vergonha para o jornalismo”, atacou o presidente. Na sequência, mirou em Simone Tebet. “Você foi uma vergonha na CPI.”
Ciro Gomes foi perguntado se apoiaria Lula no segundo turno. Os dois candidatos tiveram um confronto direto. “O crescimento econômico do PT é mediocre”, disse Ciro, afirmando que Bolsonaro é fruto da insatisfação das pessoas com os governos petistas. Lula, por sua vez, atacou a viagem do opositor para Paris no segundo turno das eleições de 2018, quando Bolsonaro e Haddad disputavam o pleito.
Soraya Thronicke foi questionada sobre como garantir o estado laico e o respeito a todas as religiões. A senadora do União Brasil aproveitou a oportunidade para reprovar a conduta de Bolsonaro com a jornalista Vera Magalhães. “Quando homens são tchuthucas com outros homens e com mulheres viram tigrões, eu fico muito chateada.”
Em tom mais firme, a candidata garantiu que não tinha tempo para brigar, mas que poderia começar a fazer denúncias durante o debate caso a discussão continuasse. “Reforce a minha segurança, delegado”, disse no microfone. Apesar da cena, a senadora não fez nenhuma acusação nova contra algum dos participantes.
Novos confrontos
O último bloco começou com Simone Tebet questionando o tratamento que Bolsonaro dá as mulheres. Ela cita que o presidente, quando deputado, “defendeu assassinos e torturadores” e votou contra direitos das empregadas domésticas”. “Eu mesma ja fui vítima da violência política de seus ministros”, disse a senadora.
Na resposta, Bolsonaro citou frases como “chega de vitimismo”, “somos todos iguais” e “não fica aqui fazendo joguinho de mimimi”. “A grande parte das mulheres no Brasil me ama”, alegou o presidente.
Soraya Thronicke perguntou Lula sobre plano econômico. O petista citou que pegou um “país quebrado” e elencou feitos como redução da dívida pública, inflação na meta e criação de emprego. O ex-presidente ainda destacou a necessidade de uma reforma tributária no País. “O seu mundo lindo só existe nos comerciais”, atacou a senadora. “Os seus economistas estão mofados”, completou.
Lula rebateu: “A senhora não lembra, mas o seu motorista lembra, o seu jardineiro lembra, a sua empregada doméstica lembra. O pobre neste país vai voltar a ser respeitado”.
Bolsonaro escolheu Ciro para falar sobre política para mulheres e os dois deixaram a discussão política de lado. O candidato do PDT lembrou em sua resposta que o atual presidente já disse que teve uma filha mulher por “uma fraquejada” e citou a agressão a Vera Magalhães. A réplica veio no mesmo nível. “Você falou que a missão mais importante da sua esposa era dormir contigo”, retrucou o presidente. “Eu vim de uma cultura machista e aprendi. Você que não aprende nunca”, devolveu Ciro.
Lula questionou Tebet se houve negligência do atual governo na compra de vacinas durante a pandemia. A candidata do MDB citou que teve corrupção e completou: “Este governo tem esquemas de corrupção como teve o de vossa excelência”.
Última rodada
A primeira pergunta da última rodada de questionamento de jornalistas foi sobre armamento. Ciro disse que arma “só serve para matar” e lembrou quando Bolsonaro, armado, foi assaltado e teve o revolver levado pelo bandido. Já Soraya Thronicke disse que no meio rural elas são “aceitáveis”.
Sobre a composição de quadro de ministros diversos, Lula não quis se comprometer. Já Simone Tebet defendeu a equiparidade de homens e mulheres e garantiu ainda a presença de negros governo.
Por fim, Felipe D’Avila e Bolsonaro responderam sobre a criação de políticas públicas contra violência sexual e feminicídio.
Considerações finais
O primeiro a falar foi Ciro Gomes. “Minha luta não é contra nenhum deles. É contra o modelo econômico. É deprimente um país como nosso ficar discutindo quem é mais corrupto, quem é menos corrupto.”
Lula começou sua fala se solidarizando com Vera Magalhães e Simone Tebet, alvos de ataques do presidente da república. Ele afirmou que “não entra no campo da promessa fácil” e não falaria sobre as obras públicas de seu governo para não “humilhar” Bolsonaro.
Já o candidato a reeleição aproveitou o tempo para atacar mais uma vez o PT, se referindo a Lula por “ex-presidiário”. “Desculpem os outros candidatos, mas as eleições estão polarizadas”, disse.
Simone Tebet destacou sua trajetória e a candidata a vice, Mara Gabrilli. “Eu tenho experiência política. Eu sou ficha-limpa. Eu sou mãe. Eu e Mara, juntas, com alma de uma mulher e coração de uma mãe”.
Soraya Thronicke aproveitou o tempo para exaltar, mais uma vez, o candidato a vice, Marcos Cintra. “Temos um projeto estruturante, um projeto real que pode ser aplicado imediatamente”.
Por fim, Felipe D’Avila criticou a polarização política. “Para mudar o Brasil, nós precisamos de um projeto de país. Nós precisamos de gente competente”, finalizou.
O evento aconteceu na sede da TV Bandeirantes, no bairro do Morumbi, zona sul de São Paulo (SP). O debate foi organizado por um pool de veículos de comunicação, incluindo, além da Band, Folha de S.Paulo, Portal UOL e TV Cultura.
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