Nonato Guedes

Revigorado com a sua indicação para líder da bancada do PSB na Câmara Federal, o deputado Gervásio Maia, presidente do diretório do PSB na Paraíba, criou um “fato novo” no cenário local, ontem, ao pôr seu partido no radar da sucessão do governador João Azevêdo em 2026, com candidatura própria ao Executivo, cujo nome, obviamente, ele não antecipou, até por avaliar que a pauta ainda vai demandar muitas tratativas, com possibilidade de reviravoltas, e que o jogo lá na frente passa, invariavelmente, pelas eleições municipais de prefeito em 2024, sobretudo nos grandes centros como João Pessoa e Campina Grande. A rigor, Gervásio nunca foi omisso na tarefa de empalmar bandeiras que levem ao fortalecimento do partido, tendo sido um dos primeiros a agitar, por exemplo, o debate interno sobre candidatura própria a prefeito da Capital no próximo ano.

Essa pretensão específica vai ficando para trás em nome do pacto de convivência que Gervásio decidiu firmar com o governador João Azevêdo, líder maior do PSB, e que envolve o respeito pela preferência ou pelo compromisso inabalável deste com a candidatura do prefeito Cícero Lucena à reeleição. O dirigente estadual socialista está mobilizando correligionários e outros líderes do partido para investirem na eleição de uma expressiva chapa proporcional, de postulantes à Câmara de Vereadores, enquanto todos parecem pacificados em torno da manutenção do atual vice-prefeito Leo Bezerra na chapa continuísta encabeçada por Cícero. Mas a intuição de Gervásio o levou a mirar em 2026, até para não ficar de fora dos espaços que partidos como PP, Republicanos e PSD procuram ocupar com desenvoltura e sofreguidão. Afinal, o parlamentar socialista precisa fazer jus a recentes elogios que recebeu do presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira e demonstrar competência para liderar a agremiação rumo a outras vitórias no contexto da realidade paraibana.

A inclusão do PSB na disputa futura pelo governo do Estado altera o figurino que havia sido cogitado pelo próprio governador João Azevêdo, autor do lançamento antecipado de uma chapa com pelo menos três nomes definidos para 2026: o do vice-governador Lucas Ribeiro (PP) para o governo do Estado e os do próprio João e do deputado federal Hugo Motta, Republicanos, para as duas cadeiras ao Senado. Na medida que Gervásio enxerta o PSB no jogo pelo Executivo, o metro quadrado fica estreito e o panorama se abre para outras possibilidades. Como foi dito, Gervásio não mencionou nomes do PSB como opções para a sucessão de João, mas, coincidentemente, ou não, intensificou-se nos últimos dias a orquestração em prol da candidatura do secretário de Infraestrutura, Deusdete Queiroga, aliás, bastante festejado, ontem, quando o governador autorizou a licitação para obras do Complexo Rodoviário que interligará os municípios de Cabedelo, Santa Rita e Lucena. O empreendimento foi um desafio-pesadelo para governos anteriores e o projeto que agora sai do papel tem as digitais marcantes de Azevêdo e de Deusdete, prenunciando uma parceria política bem-sucedida para o futuro à vista.

É indiscutível que a ascensão de Gervásio à liderança do PSB na Câmara dos Deputados foi decisiva para reforçar seu cacife na conjuntura da Paraíba, onde enfrentava restrições de partidos e deputados da base do governador João Azevêdo, com acusações de centralização na tomada de decisões e de desprestígio a expoentes da legenda e da base, em nome de supostas ambições pessoais inconfessáveis. A substituição de Gervásio no comando da sigla foi sugerida, várias vezes, em tom de provocação, por integrantes de outras siglas governistas da Paraíba, que sempre o julgaram “pivôt” de desunião da frente ampla que sustenta o governo reeleito. João Azevêdo chegou a ser aconselhado, abertamente, a se investir no comando de um partido que pudesse chamar de seu, o que deixava embutida a advertência de que no PSB se constituía em figura decorativa sem maior poder de influência. Uma análise considerada injusta por figuras como o vice-prefeito de João Pessoa, Leo Bezerra, que é do PSB, tem linha direta a qualquer momento com o governador João Azevêdo mas se divide entre a liderança do chefe do Executivo estadual e a lealdade ao prefeito Cícero Lucena, que já lhe confiou, por inúmeras vezes, o comando da edilidade pessoense, mormente em viagens como a que concluiu agora, com giro pelo exterior e participação em eventos de grande repercussão midiática.

Quanto à ação do deputado Gervásio Maia desfraldando, com igual antecedência, a bandeira da candidatura própria do PSB à sucessão de João Azevêdo em 2026, é o fato que fecha com chave de ouro a tumultuada conjuntura política de 2023, em que teve de tudo e, ao mesmo tempo, de nada, já que algumas definições permaneceram intocáveis e outras foram adiadas para o ano eleitoral propriamente dito que será travado na luta encarniçada pelo controle de prefeituras, como para estratégia para fincar nos municípios as cores de partidos que ambicionam expansão e poder de influência na realidade paraibana. Ao que se sabe, Gervásio cuidou, também, de fixar conversa “olho no olho” com o governador João Azevêdo, aparando arestas e ajustando ponteiros para o incerto futuro que é aguardado com expectativa ímpar. A verdade é que, politicamente, passada a reeleição de João Azevêdo, a Paraíba começou de um jeito em 2023 e chega ao final de outro jeito, bem de conformidade com a “nuvem” que, segundo as raposas mineiras, definem o que é política no Brasil.

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