Partidos políticos são estruturas nada democráticas e machistas
A questão de gênero é um problema em quase todos os partidos brasileiros e exatamente pela ausência da presença feminina em seus órgãos diretivos e instâncias de decisão.
Ex-vereadora de João Pessoa Sandra Marrocos (Foto: CMJP/Reprodução)
O PSB da Paraíba, cumprindo orientação da Executiva nacional, decidiu adequar seus órgãos de direção no Estado e nos municípios ao resultado das eleições, com a incorporação de deputados eleitos ou bem votados e vereadores que assumiram mandatos ou suplência em razão da ascensão de parlamentares da Câmara de João Pessoa à Assembleia.
As principais mudanças ocorreram em Campina Grande e João Pessoa. Na última o processo acabou não sendo bem digerido pela então presidente da comissão municipal, a ex-vereadora Sandra Marrocos, substituída pelo secretário de Administração do Estado, Tibério Limeira.
Marrocos protestou por não ter sido avisada. Teria tomado conhecimento pela imprensa e quando se preparava para coordenador uma reunião da direção do partido na Capital. Acabou entendendo que havia sofrido violência de gênero, ou seja, que a intervenção abrupta teria ocorrido pelo fato de ser mulher.
Há exagero de Sandra quando atribui violência de gênero à mudança na presidência da comissão provisória do PSB em João Pessoa. Mudanças semelhantes, abruptas e sem aviso prévio, ocorrem aos montes em todos os partidos políticos e em todos os recantos do Brasil. E os atingidos são geralmente homens, mais de 99%, sem dúvida.
Mas o protesto de Sandra não deixa de ter suas razões. A questão de gênero é um problema em quase todos os partidos brasileiros e exatamente pela ausência da presença feminina em seus órgãos diretivos e instâncias de decisão. São poucos os partidos políticos comandados por mulheres no Brasil. Dos 31, apenas 5. Gleisi Hoffman no PT, Renata Abreu no Podemos, Luciana Santos no PCdoB, Heloisa Helena na Rede Sustentabilidade e Suêd Haidar no PMB (Partido da Mulher Brasileira), que, apesar de ser de mulheres, já foi dirigido por homens. Na Paraíba, apenas a senadora Daniella Ribeiro (PSD) se destaca como dirigente partidária.
O alijamento de mulheres de postos de comando e instâncias de decisões não é o único grave problema dos partidos. Um outro, talvez até mais grave, também aparece nas reclamações da ex-vereadora Sandra Marrocos. É a total ausência de democracia interna, o que é uma brutal contradição nas agremiações políticas. Todos os partidos dizem pugnar por democracia, mas não a praticam internamente, registrando uma ressalva para um período do PT até o partido adotar a política ampla de alianças visando a disputa da presidência da República. Depois, os processos de decisões coletivas foram quebrados, sobretudo em relação a decisões sobre alianças e a formação de chapas nos últimos anos.
As intervenções em instâncias inferiores são uma marca de praticamente todos os partidos. Tanto que praticamente não existem mais diretórios legalmente constituídos. Os chefes partidários preferem instituir comissões provisórias, que são fáceis de remoção e substituição. O PSB da Paraíba segue a corrente, embora seja plenamente aceita, inclusive pela própria Sandra Marrocos, a ideia de adequação dos diretórios depois de eleições, abrindo espaços para os novos eleitos. Porém, poderia ocorrer de forma transparente e democrática.
Inexplicavelmente, o sistema partidário brasileiro ampara e convive com essas duas graves anomalias – a falta de democracia e restrições à participação das mulheres -, práticas que ferem de morte qualquer democracia.
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