Raimundo Ferreira, o “Forasteiro” POR JOSÉ ANTÔNIO
Ofinal da década 50 e toda a de 60 foi muito promissora para a cidade de Cajazeiras, uma nova fase da modernidade começava a despontar, ainda com a força do algodão. Algumas conquistas no setor comercial se avolumavam e os serviços se ampliavam.
A sociedade civil e as lideranças se uniam em defesa do abastecimento d’água, da telefonia, da ampliação da rede bancária, da manutenção das linhas aéreas, da permanência do trem e tinha até uns “visionários” que criaram as Faculdades de Medicina e de Filosofia, Ciências e Letras.
Com a instalação do Banco Industrial de Campina Grande, o comércio ganha um novo fôlego, já que a principal praça de abastecimento de Cajazeiras era a cidade de Campina Grande, matriz deste banco, para cuja filial vieram não só bons gerentes, mas verdadeiros líderes, dentre eles Wilson Rodrigues, que por sua expressão econômica se engajou na luta por muitas conquistas de nossa cidade.
No meio empresarial começou a despontar um novo empresário, com visão de futuro, arrojado e corajoso, inteligente e de excelente poder de articulação, além de ser um excelente orador, que aos poucos se consolidou economicamente, com experiências adquiridas no vizinho estado do Ceará, de onde se originou: Raimundo Ferreira.
Foi pioneiro no transporte de passageiros para o sul e centro-oeste do Brasil, cuja empresa, Viação Brasília, se tornou símbolo de prosperidade e um precioso “cartão de visita” de nossa cidade. O seu empreendedorismo foi muito além ao construir um moderno Terminal Rodoviário, que recebeu o nome de seu pai, Antonio Ferreira, em cujo conjunto arquitetônico agregou um hotel, que foi batizado de Esplanada Hotel, em homenagem a JK, de quem era um fã incondicional e amigo pessoal.
Incluído na plêiade de empresários vitoriosos de Cajazeiras, enveredou por outros setores e ao lado de Dom Zacarias, construíram as duas “Vilas” mais famosas da cidade: A Vila Centenária e a Vila do Bispo, fazendo com que a cidade crescesse para o sudeste. Vale ressaltar que Raimundo tinha um grande amigo no clero da Diocese, Monsenhor Abdon Pereira, e os dois comungavam dos mesmos ideais “políticos”, já que Monsenhor tinha uma forte tendência partidária na cidade.
Raimundo participou ativamente da criação da Câmara Júnior, cujo objetivo principal era o de preparar jovens para criar mudanças positivas, preparar novas lideranças e este é um capítulo da História de Cajazeiras que precisa ser resgatada.
E Banda de Música de Raimundo? Esta era o orgulho e a alegria de muitos cajazeirenses, formada só por mulheres, sob a batuta do inesquecível Maestro Cabrinha. Batizou-a de Banda Padre Cícero. E os prefeitos e os padres da região faziam questão de tê-la nas suas festas de emancipação política e das padroeiras. As meninas foram se apresentar até no Palácio do governo e na televisão.
E a Escolinha Brasília? Esta era o xodó dele. Mais de cem crianças estudaram nela, com professores pagos pela Viação Brasília, dentre elas a mestra Mercês Holanda. Ele também se envolveu fortemente com a Escola Profissional Lica Dantas, de quem foi um exemplar colaborador. Assim era Raimundo.
Raimundo sempre foi solidário com as pessoas mais humildes e tinha um generoso coração, a exemplo do que fazia todos os anos no período natalino: saia a distribuir senhas pela periferia com os pobres para que pudessem ter uma ceia de natal, que eram recebidas na Rodoviária, numa festiva manhã. Quantas passagens ele ofertou para que muitos cajazeirenses buscassem uma oportunidade de vida melhor em São Paulo ou Brasília? Ou mesmo vendia-as para quando o cidadão começasse a trabalhar a pagasse em módicas prestações? Enquanto seus negócios cresciam, os empregos se multiplicavam na cidade.
Assim era Raimundo. Um cidadão simples e muito festeiro, ao ponto de se tornar presidente do Clube 1º de Maio, entidade social aberta aos não “ricos” de Cajazeiras, em contraponto ao Cajazeiras Tênis Clube que era frequentado pela elite. E como dirigente proporcionou grandiosos eventos, ao trazer cantores de renome nacional para abrilhantar as festas, como Ângela Maria, Alcides Gerardo, Núbia Lafaiete, Zé Trindade, dentre outros. Era um grande carnavalesco e sempre esteve cercado de belas mulheres, todas de olho no “solteirão”.
Diante de tanto sucesso empresarial, as oposições ficaram de olho e o escolheu em duas oportunidades para ser candidato a prefeito de Cajazeiras. Foram memoráveis campanhas. Na primeira, a certeza da vitória saltava aos olhos de todos. Com uma conduta irrebatível, o único “defeito” que os seus adversários encontraram nele foi o de não ser filho natural de Cajazeiras, então o alcunharam de “Forasteiro”. Um “forasteiro” que morria de amores pela terra que o recebeu de braços abertos. Ele costumava dizer: Cajazeiras me ama e me quer bem, mas na hora de votar se esquece de mim”.
Deixa um legado de muito trabalho na terra de Padre Rolim, que Cajazeiras tem o dever e a obrigação de reconhecer e agradecer.
Raimundo faleceu em Juazeiro do Norte aos 88 anos de vida onde foi sepultado neste último dia 17.