“CALA A BOCA, BATISTA”: Escrito Por Gilvan de Brito
“CALA A BOCA, BATISTA” : Escrito Por Gilvan de Brito
Estamos retrocedendo aos tempos de Chico Anísio, nos programas de humor da TV. O triste episódio registrado ontem, no “chiqueirinho” do palácio da Alvorada, quando o presidente Bolsonaro mandou, aos gritos, os jornalistas calarem a boca, ao deixar de responder uma pergunta que lhe fora feita, têm sido corriqueiros e pontuais. O desafogo presidencial foi feito após a cobrança dos motivos que o levaram a insistir com tanta ênfase na mudança do delegado da PF, no Rio de Janeiro. Como o jornalista é o porta-voz da notícia para atender aquelas pessoas da sociedade que pretendem saber alguma coisa dessas particularidades que envolvem o governo, a reação mostrou-se extemporânea. E isso não foi novidade porque o fato vem se repetindo quase todos os dias, quando os jornalistas, de alguma forma, são agredidos apenas por tentarem ouvir da autoridade máxima, reproduzindo perguntas que não querem calar.
E isso está repercutindo, também, entre os fiéis seguidores do chefe da Nação, porque essas agressões estão passando para o terreno do corpo físico dos jornalistas, como ocorreu anteontem, durante uma dessas desconfortáveis “coletivas à imprensa”, quando um fotógrafo foi agredido, pisoteado e teve o seu equipamento danificado pelos escudeiros presidenciais de plantão. E não só na porta do palácio. Agora está extrapolando para todos os seguimentos da vida nacional, onde algumas pessoas desse grupo passaram a agredir os profissionais da imprensa, nas redes sociais. Ontem foi a minha vez, ao mostrar o meu ponto de vista a respeito de uma discussão que se fazia sobre questões do governo. Fui chamado de comunista, por conta dessa intervenção (como acontecia na ditadura quando eu reclamava qualquer coisa dos militares).
E ainda mais: fui orientado a aposentar-me para assistir de longe os novos tempos (novos?) que se mostram. Algumas pessoas não entendem a função do jornalista, cuja única missão é informar aquilo que o distinto público quer saber. O médico não se aposenta; o advogado também, assim como os representantes de outras categorias. O mesmo ocorre com o jornalista, que segue nessa profissão, muito mais como uma devoção, atendendo a uma força impiedosa, interior, chamada vocação. Eu só vou parar de escrever quando não mais tiver força para distribuir os dedos sobre um teclado e imprimir as letras que me interessam. E todas as vezes em que eu fizer isso estarei, com certeza, defendendo direitos alienados e pensamentos positivos.