DA REVOLUÇÃO FRANCESA A POLITICA CONTEMPORÂNEA: Rui Leitao
DA REVOLUÇÃO FRANCESA A POLITICA CONTEMPORÂNEA: Rui Leitao
A discussão política, em qualquer lugar do mundo, suscita a classificação dos militantes como sendo de esquerda ou de direita. Ainda que muitos assim o desejem, essas definições não podem ser confundidas com partidos políticos, especialmente no Brasil. Devem ser compreendidas como posições ideológicas divergentes que coexistem em regimes democráticos.
Esses termos tiveram origem durante a Revolução Francesa, mais precisamente no dia 11 de setembro de 1789. Portanto, há mais de dois séculos. A Assembleia Nacional Constituinte, formada por grupos com interesses distintos, reuniu-se para decidir os destinos da França. Os legisladores que defendiam reformas radicais — como a ampliação do acesso à terra e a democratização da escolha dos representantes populares —, chamados jacobinos, sentavam-se à esquerda. Já os conservadores, defensores da manutenção de alguns privilégios da nobreza, conhecidos como girondinos, sentavam-se à direita.
Os jacobinos, portanto à esquerda, obtiveram a primeira vitória nessa disputa ideológica. Foi aprovada a proibição da venda de cargos públicos, decretada a extinção das isenções de impostos da nobreza e decidida a elaboração de uma nova Constituição. Dessa Carta nasceu a primeira Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que estabeleceu direitos naturais, como a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. Também reconheceu a igualdade perante a lei, refletindo os ideais iluministas e a busca por uma nova ordem social, na qual os governantes deveriam servir aos interesses dos cidadãos. Inspirada nesse documento da Revolução Francesa, em 1948 surgiu a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A partir do século XX, os conceitos de esquerda e direita passaram a definir as posições políticas e ideológicas dos cidadãos. Na contemporaneidade, a esquerda mantém-se na defesa da igualdade e dos direitos sociais, propondo um Estado com maior presença na economia para promover justiça. A direita, por sua vez, valoriza a liberdade individual e o mercado, defendendo menor intervenção estatal e a preservação de hierarquias sociais e valores tradicionais.
Num cenário de antagonismos e polarização política, observa-se o uso frequente de propaganda falsa e de táticas desleais, em que ambos os lados acusam-se mutuamente de intolerância. O presidente norte-americano Dwight Eisenhower já alertava: “Os extremos à direita e à esquerda de qualquer disputa política estão sempre errados.” Ainda que tenham ocorrido muitas mudanças ao longo da história, a dicotomia esquerda-direita continua sendo relevante para compreender as diferentes propostas e conflitos existentes na sociedade.
Nos tempos atuais, não se pode entender esquerda e direita como massas homogêneas que compartilham integralmente das mesmas ideias e valores. Observa-se, inclusive, que os conflitos políticos mais acirrados muitas vezes ocorrem dentro do mesmo campo ideológico, gerando novas variações de pensamento. Quando essas posições assumem caráter radical, tendemos a classificá-las como extrema esquerda ou extrema direita. O maior cuidado, portanto, deve se voltar contra os extremismos, quaisquer que sejam eles.
Rui Leitão- advogado, jornalista, poeta, escritor



