O GESTO DE ELON MUSK NA POSSE DE TRUMP; Rui Leitao
Publicado no jornal A UNIÃO edição de quinta-feira,323
O GESTO DE ELON MUSK NA POSSE DE TRUMP
As solenidades de posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos têm causado grandes polêmicas no mundo inteiro, em razão do que afirmou durante o seu primeiro discurso. Como se não bastassem os problemas causados pelo pronunciamento inaugural do seu segundo mandato, Musk, o CEO da Tesla, um dos principais integrantes do novo governo, ao discursar, fez gesto comparado por muitos à saudação nazista, “sieg heil” (Salve a vitória, em alemão), que exaltava o regime de Adolf Hitler, gerando debates nas redes sociais, fortes críticas e manifestações de indignação por parte da imprensa alemã.
O gesto, hoje considerado, em muitos países, como apologia ao nazismo, é praticado quando a pessoa estica o braço em um ângulo de 45º, colocando a palma da mão para baixo. Segundo historiadores, a sua origem não ocorreu com o nazismo, sendo uma variação de um gesto romano utilizado por militares no início da República de Roma. Mussolini passou a utilizá-lo, mas se tornou uma identidade do governo nazista alemão, a partir de uma adaptação feita pelo ministro da propaganda da Alemanha Nazista, Joseph Goebbels, adotado pelo Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), como um sinal de culto à personalidade de Hitler.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial ele é proibido em território alemão, por estar vinculado ao nazismo, impondo multa e até cinco anos de prisão a quem praticá-lo. Na maior parte da Europa, fazer a defesa de crimes contra a humanidade, como o Holocausto, é tipificado como crime e pode levar à prisão. No Brasil, a Lei 7.716/1989 estabelece como ato criminoso: “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, com pena de reclusão de um até três anos”. Essa Lei é respaldada pela própria Constituição, que classifica o racismo como crime inafiançável e imprescritível. Portanto, a apologia ao nazismo em nosso país se enquadra nessa Lei. O STF, inclusive, já definiu que liberdade de expressão não permite apologias ao regime de Adolf Hitler.
Nos Estados Unidos, porém, o direito ao livre discurso é considerado universal, independentemente de quão ofensivo for. Por isso, Elon Musk, segundo o código penal dos EUA, não cometeu crime ao fazer essa manifestação gestual. Porém, o chefe da organização judaica JCPA – Centro de Assuntos Públicos de Jerusalém, denunciou que: “Elon Musk sabia exatamente o que estava fazendo com aquela saudação romana fascista no comício de Trump, que vem logo após sua adesão explícita a políticas e partidos de extrema direita”, acrescentando que nas últimas semanas ele teria feito várias declarações de apoio ao partido de extrema direita alemão –AfD, como também à primeira ministra italiana, Giorgia Meloni, igualmente da extrema direita, e ao partido britânico anti-imigração Reform UK. Por outro lado, grupos da extrema direita se apressaram em apoiar o gesto de Musk, como, por exemplo, o fundador de uma rede social associada a antissemitas e supremacistas brancos, de nome Andrew Torba, que compartilhou uma foto do magnata da internet, com a legenda “Coisas incríveis estão acontecendo”.
Para carimbar mais ainda o perfil de Musk, com origem nazista, seu pai, Errol Musk, no ato de reconciliação com o filho, de quem estava afastado há alguns anos, afirmou: “finalmente, Elon está abraçando sua herança e seu destino, pois a política de direita está profundamente enraizada na história de sua família. Os avós maternos, no início do século XX, quando emigraram para a África do Sul, tornaram-se apoiadores do nazismo fora da Alemanha, até porque já faziam parte do partido nazista alemão, no Canadá”. Então, nada surpreendente, pois está revelado o DNA nazista do bilionário, que agora é um dos principais assessores de Trump.
Rui Leitão- Jornalista, advogado, poeta, escritor