A cautela de Lula e o ânimo da extrema direita Por: Rui Leitão
O presidente Lula tem se mostrado cauteloso quanto à relação do Brasil com os Estados Unidos, a partir da posse de Trump como presidente. A habilidade política do líder brasileiro faz com que decida agir com pragmatismo, sem demonstrar qualquer interesse em estabelecer confronto com o novo governo americano, mas tambem sem demonstrar subalternidade, como aconteceu em tempos recentes por liderancas politicas de nosso país. . No que faz muito bem. Ninguém desconhece que os dois chefes de nação estão em campos ideológicos antagônicos, mas há a expectativa de que os dois Estados mantenham uma boa relação diplomática, até porque existem interesses comerciais recíprocos.
No campo político, no entanto, é inquestionável que o relacionamento não será o mesmo. Trump usará de todas as suas forças para trabalhar no sentido de que nas eleições presidenciais do próximo ano, a extrema direita brasileira possa voltar a governar o país, embora seu principal líder esteja inelegível e muito próximo de uma condenação pela justiça. Mas é preciso considerar que o bolsonarismo não está moribundo e encontra em Trump o ânimo para retornar ao poder. O antipetismo tem sobrevivido, também, por causa dos ataques da grande imprensa ao governo de Lula, estimulando a polarização política.
Enquanto o clima é de euforia na extrema direita, no lado adversário a posição é de precaução, aguardando os movimentos do novo governo americano na forma como tratará o Brasil. Quanto as afirmações de Trump em seu discurso de posse, a esquerda brasileira vê a necessidade de aguardar os acontecimentos, mas acendendo os sinais de alerta e jamais admitindo afronta à nossa soberania.
Particularmente, entendo que os EUA têm outras prioridades globais e não assumirão, pelo menos por enquanto, uma posição de conflito com o Brasil. Isso poderá ocorrer no próximo ano, muito mais por conta do processo eleitoral. Não podemos subestimar a potencial influência que poderão exercer em busca de eleger alguém da extrema direita para assumir o cargo de primeiro mandatário de nosso país.
A esquerda brasileira tem que voltar a ser militante para enfrentar com sucesso a capacidade de organização da extrema direita, coordenada por lideranças internacionais. Não pode permanecer nessa inércia. A eleição do histriônico Mirlei, na Argentina, que sirva de lição. E agora o fascista Trump dá ares de destemor ao bolsonarismo, dando força a uma articulação internacional que já viceja em todo o continente, tentando destruir a democracia onde ela existe. No curto tempo de 11 anos, a direita cassou um mandato presidencial, comandou o governo Michel Temer e elegeu presidente da República um deputado federal do baixo clero, desorganizou o Estado e quase deflagrou um novo golpe militar com graves consequências. .
As esquerdas brasileiras precisam rever o seu papel presente, diante do desafio organizacional e do proselitismo da direita. As forças progressistas devem retomar as lutas que marcaram o período em que lutaram pela redemocratização.
Enquanto o governo Lula procura se ajustar com a direita civilizada, no interesse de garantir governabilidade, mas perdendo a sua liberdade política, os neofascistas continuam agindo e a esquerda se inibe no enfrentamento dessa batalha ideológica. A serpente não está morta. É importante que se retome a organização popular e a militância ativa. Só assim venceremos as ameaças trumpistas do imperialismo norte americano.