PT aprova apoio à candidatura de Cícero e Cartaxo anuncia neutralidade
Nonato Guedes
O diretório municipal do Partido dos Trabalhadores em João Pessoa, presidido por Marcos Túlio, aprovou resolução de apoio à candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição no segundo turno contra o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, do PL, seguindo orientação da Executiva Nacional que orientou os filiados a se engajar contra candidaturas bolsonaristas ou de extrema-direita na campanha. A diretiva não teve, porém, a assinatura do deputado estadual Luciano Cartaxo, que concorreu pelo PT no primeiro turno e ficou em quarto lugar, com 11% dos votos válidos. O parlamentar não compareceu à reunião realizada ontem e na manhã de hoje anunciou que adotará neutralidade na rodada decisiva. Já a deputada Cida Ramos, que duelou com Cartaxo pela indicação de candidatura no PT, disse estar fechada com Cícero e que é preciso aglutinar forças para derrotar o bolsonarismo.
A continuidade do “racha” nas fileiras petistas em João Pessoa já era aguardada, diante da resistência de Cartaxo e do ex-governador Ricardo Coutinho quanto a uma aliança com Cícero desde o primeiro turno quando essa hipótese foi cogitada. Os dois comandaram articulações de bastidores junto à direção nacional do Partido dos Trabalhadores para evitar, a todo custo, o apoio a Lucena e influenciaram para que prevalecesse o lançamento de candidatura própria a prefeito, sugerindo o nome de Cartaxo com a alegação de que ele teria “recall” positivo como reflexo das duas gestões que empalmou até 2020 na Capital, apesar de não ter conseguido eleger a sucessora, sua concunhada Edilma Freire. Atropelando diretrizes internas que previam a realização de prévias entre Luciano e Cida Ramos e ignorando manifestação de expressivo número de filiados pela candidatura da deputada, a cúpula nacional avocou-se a deliberação sobre o caso em João Pessoa e praticamente ungiu Cartaxo, que não contou, porém, com o engajamento de militantes de peso. O discurso do candidato foi focado na crítica a Cícero, mediante comparação entre as administrações deste e as suas.
Houve momentos, na campanha, em que Cartaxo aproximou-se tanto do deputado federal Ruy Carneiro, candidato do Podemos, quanto do ex-ministro de Bolsonaro Marcelo Queiroga, tendo compartilhado com eles narrativas sobre clima de insegurança nas eleições como pretexto para requerer ao Tribunal Regional Eleitoral o envio de tropas federais, o que foi negado pelo TSE. Na resolução aprovada ontem, o diretório municipal petista classifica a candidatura de Queiroga como “preocupante” por representar interesses da direita conservadora e se opor à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O documento foi enfático: “O diretório do PT de João Pessoa resolve chamar o conjunto da militância e rechaçar nas urnas, em nome da democracia e sem vacilações, a candidatura bolsonarista, e apoiar o nome de Cícero Lucena, do PP, para prefeito de nossa capital”. Nas últimas horas, o senador Efraim Filho, do União Brasil e o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB, hipotecaram apoio a Marcelo Queiroga, seguindo posicionamento que já havia sido tomado pelo deputado Ruy Carneiro.
Na avaliação do diretório municipal, “a presença do candidato Marcelo Queiroga (PL) significa a possibilidade de nossa capital ser governada por uma gestão de ultradireita, de teor autoritário, negacionista, ultraliberal, cujo candidato foi ministro da Saúde do governo Bolsonaro, responsável por centenas de milhares de mortes, por negar vacina às pessoas”. Lembra que a Executiva Nacional, em reunião realizada no começo desta semana, decidiu orientar que os petistas devem se engajar nas campanhas de candidatos de outros partidos nas cidades onde haverá segundo turno contra candidatos da extrema direita e acrescenta que o segundo turno, a ser travado em três semanas, exige um posicionamento rápido e nítido das forças políticas, depois que o primeiro turno em João Pessoa se encerrou com a ausência da chapa do PT. O candidato Marcelo Queiroga já revelou que espera contar com empenho mais decidido do ex-presidente Jair Bolsonaro na reta finalíssima da campanha, explicando que no primeiro turno foi impossível esse engajamento. O ex-presidente se fez representar num evento na última semana de campanha por sua esposa, Michelle Bolsonaro.
O desempenho do Partido dos Trabalhadores nas eleições de 2024 tem sido analisado internamente como pífio e como um dos piores dos últimos tempos na história da legenda. Havia a expectativa de que este ano, com a volta do líder Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, candidatos da legenda à prefeitura fossem favorecidos por efeitos colaterais da ação administrativa. Mas o sentimento de desencanto surgiu a partir da atitude do mandatário, numa visita à Capital paraibana, em plena campanha eleitoral, de não cumprir nenhuma agenda política com a chapa Luciano Cartaxo-Amanda Rodrigues, justificando que não pretendia entrar em choque com outros aliados que apoiam o governo no Congresso Nacional. O presidente Lula, na verdade, cumpriu uma vasta agenda administrativa mas ao lado do governador João Azevêdo (PSB), que é seu aliado e que apoia a candidatura do prefeito Cícero Lucena à reeleição. Os petistas paraibanos tentaram argumentar que a vinda de Lula ocorreria no segundo turno para impulsionar a campanha eleitoral de Luciano, mas o resultado insuficiente obtido por este atrapalhou o cronograma que figuras como Ricardo Coutinho vinham acalentando.