O PADRE LEVI Por Rui Leitao
Publicado no jornal A UNIÃO edição de hoje
O PADRE LEVI Por Rui Leitao
Nunca causou estranheza a existência de padres que associam a atividade pastoral à atuação política. Um deles, na Paraíba, ganhou notoriedade pela forma peculiar com que conseguiu vincular o exercício da missão sacerdotal com a participação no mundo político do estado: o Padre Levi Rodrigues. Polêmico e extrovertido, protagonizou “causos” que o tornaram famoso pela excentricidade de seu comportamento. Suas pregações, no entanto, conquistavam os fiéis pela linguagem simples utilizada.
Nasceu em 7 de dezembro de 1926, no município de Patos. Ordenou-se sacerdote em 17 de dezembro de 1955. Quando foi convidado para assumir o posto de pároco da Igreja de Santo Antônio, na sua cidade natal, decidiu, com a ajuda de amigos e parentes adquirir vitrais e azulejos para transformar o templo na primeira igreja do mundo a retratar passagens bíblicas, com a exposição de imagens narrativas do Novo Testamento no seu interior e do Velho Testamento na parte externa. A partir daí já ganhou fama por ser alguém que se diferenciava dos companheiros do clericalismo, em razão do seu pioneirismo.
Ingressou na política na década de 60, quando se elegeu prefeito de São José do Bonfim. Em 1971, renunciou ao cargo para disputar a eleição municipal de Patos, enfrentando como adversário Aderbal Martins que contava com o apoio do governador Ernani Sátyro e das principais lideranças da região. Na campanha manifestava a sua decepção com esse grupo que acusava de traidor, porque havia se comprometido em apoiá-lo. Teve, então, a inusitada ideia de realizar uma passeata de jumentos. Ele próprio contou como ela foi programada e realizada: “Me entusiasmei e fui a Santa Luzia onde tinha um circo armado em busca de um urso branco (apelido de Ernani Sátyro), um leão (que quase pega Zé Gayoso, vestido de branco e montado a cavalo em frente à Ação Católica), um pavão e daí por diante o povo trouxe de tudo, até muriçocas em garrafas, tornando a manifestação um verdadeiro zoológico, sem muita lógica, ambulante. Muitos países do mundo publicaram a matéria: Rússia, França, Inglaterra”. O evento ganhou, pois, repercussão internacional, tendo sido convidado, inclusive, para entrevistas em estações de TV do sul do país. Nessa disputa considerada desigual não foi bem sucedido.
Após o fracasso eleitoral, decidiu passar uma temporada fora de Patos. Chegou a relatar que nesse período foi recebido com frieza por Dom Eugênio Sales, ao se apresentar e pedir um espaço na capital carioca, assim como por Dom Pereira, Bispo de Campina Grande e Dom José Maria, arcebispo da Paraíba. Certa vez, ao tomar conhecimento de que o pároco do bairro de Belo Horizonte, em Patos, proibira os pais de levar as crianças para as missas, divulgou por todos os locais da cidade que na sua igreja as portas estavam abertas para acolher a gurizada e durante as celebrações insuflava os meninos: “chupem confeito, brinquem e comam pipoca que amanhã eu mando varrer a igreja”. Esse embate foi motivo de uma reunião com o bispo que resolveu acabar com a proibição. Ganhou essa.
Dois anos depois conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa, integrando a bancada de oposição ao governo do estado. Faleceu aos 85 anos de idade na cidade de Cajazeiras, onde estava exercendo o seu ministério sacerdotal, tornando-se bastante conhecido pelo programa radiofônico apresentado na Rádio Alto Pìranhas, todos os sábados. Após ser velado na “terra do Padre Rolim”, seu corpo foi trasladado para Patos, onde está sepultado.
São muitas as estórias da sua trajetória de vida, fazendo com que tenha se firmado como um padre um tanto irreverente e um político que não se inibia no enfrentamento de contendas. Era autêntico.
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