AVIÃO CAI EM CAMPINA GRANDE Por Gilvan de Brito
AVIÃO CAI EM CAMPINA GRANDE Por Gilvan de Brito
Fazia alguns meses que Orlando Tejo não visitava Campina Grande e a família estava ansiosa para vê-lo. Certo dia ele venceu o medo de viajar de avião, foi à agencia do Loide Nacional e comprou um bilhete de embarque para uma sexta-feira à tarde. Seria a primeira viagem de avião, uma das coisas que ele mais temia no mundo. Como o embarque estava previsto para as seis horas da noite para chegar em Campina antes das sete horas, Orlando resolveu beber com alguns amigos naquela tarde, para passar o tempo e desanuviá-lo do temor. Foram para o Savoy onde a boa conversa o fez esquecer da viagem. Quando se lembrou do compromisso, olhou no relógio e viu que lhe restavam 30 minutos para o embarque.
Então despediu-se dos amigos, arrastou a mala debaixo da mesa, apanhou um taxi e seguiu para o aeroporto dos Guararapes, solicitando pressa ao motorista porque faltavam poucos minutos para o avião levantar voo. Mas o trânsito na Avenida Domingos Ferreira estava bastante congestionado e o carro demorou alguns minutos a mais até chegar ao aeroporto. Correu para o cheque-in, quando a moça do atendimento, depois de ver o bilhete, mostrou m avião que estava subindo:
– O seu voo estava previsto para aquele avião que acaba de decolar – disse apontando para a aeronave, que roncava tentando elevar-se no ar.
Lamentou a falta de sorte e foi, ainda, até a porta de vidro de onde viu viu o avião fazer a curva com destino ao interior, na rota de Campina Grande. Como não tinha mais nada a fazer, transferiu a viagem para a sexta-feira seguinte e tomou um taxi de volta ao bar Savoy, onde reencontrou os companheiros e seguiu com a bebedeira. Às oito horas da noite a televisão teve o som aumentado para que os fregueses do bar pudessem ouvir o Jornal Nacional, como faziam todos os dias. A primeira notícia foi arrasadora.
“- Cai o avião do Loide Nacional que saiu do Recife com destino a Campina Grande.”
Todos os amigos se levantam para cumprimentar Orlando Tejo, que havia nascido de novo, ao abusar da bebedeira e perder o horário do embarque, poucas horas antes. Orlando não sabia o que fazer, tomado de emoção. Foi quando um dos amigos o aconselhou a ligar para a família e anunciar que estava vivo, em Recife. E foi o que ele fez. Comprou cartão telefônico (não existia celular) foi até um “orelhão” e ligou para sua casa. Atenderam ao telefone do outro lado e disseram que o pessoal da casa estava comovido com a notícia da queda do avião, da morte de Orlando Tejo anunciada pelas rádios Borborema, Cariri e Caturité e que ninguém da família poderia atender naquele momento. Desligou em seguida antes que ele dissesse que era o próprio Orlando Tejo quem estava falando. Teve que ligar, então, para um vizinho, solicitando que anunciasse na sua casa a informação de que perdera o voo daquele avião sinistrado e que se encontrava em Recife, são e salvo. Fizeram uma festa quando a informação foi transmitida.
– Fiquei arrasada quando a rádio informou que o nome de meu filho não estava entre os sobreviventes – disse dona Maria das Neves, mãe de Orlando.
Trecho da biografia de Orlando Tejo, por mim escrita e não publicada.O livro tem 160 páginas.
Isso foi em 1958 e um dos sobreviventes foi Renato Aragão, que ainda não era “Trapalhão” da Rede Globo. Treze pessoas morreram nesse acidente aéreo.
www.reporteriedoferreira.com.br Por Gilvan de Brito , jornalista, advogado, poeta e escritor