A ONDA CRESCENTE DO ANTISSEMITISMO Por Rui Leitao
Publicado no jornal A UNIÃO edição de hoje:
A ONDA CRESCENTE DO ANTISSEMITISMO Por Rui Leitao
No dia 10 de novembro de 1938 a onda de violência anti-semita alcançou seu estágio de maior intensidade, em toda a Alemanha, na Áustria então anexada e em algumas áreas da Tchecoslováquia ocupadas por tropas alemãs, quando foram quebrados vidros das janelas das sinagogas, das casas e empresas que pertenciam aos judeus. Esse acontecimento ficou conhecido como “A Noite dos Cristais Quebrados”.
As autoridades alemãs informaram que os ataques ocorreram como uma reação popular em resposta ao assassinato de Ernst vom Rath, um diplomata alemão lotado em Paris. Os massacres da Noite dos Cristais Quebrados foram instigados pelo Ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, que, em discurso pronunciado logo após a morte do diplomata, assim se manifestou: “o Fuhrer decidiu que as manifestações não deveriam ser preparadas ou organizadas pelo Partido, mas na medida em que elas irrompessem espontaneamente, não deveriam ser impedidas”. A mensagem foi compreendida como uma determinação para que se desencadeasse a violência.
267 sinagogas foram destruídas e incendiadas, 7.500 estabelecimentos comerciais de propriedades judaicas tiveram suas mercadorias saqueadas e 91 judeus mortos. Além disso, o governo nazista confiscou todos os pagamentos dos seguros devidos aos judeus, cujas empresas e residências foram saqueadas. Esse foi o saldo da tragédia. Dias depois foram promulgadas dezenas de leis e decretos privando os judeus de suas propriedades e de seus meios de subsistência e proibidos de possuírem carteira de motorista e de frequentarem teatros, cinemas e salas de concerto. Era a política da “arianização”, com a transferência desses bens para a população considerada “ariana”. Nos anos seguintes o regime nazista ampliou as medidas que objetivavam eliminar inteiramente os judeus da vida econômica e social alemã. “A Noite dos Cristais Quebrados” foram o marco histórico que deu início efetivamente ao processo de perseguição aos judeus pela Alemanha nazista.
O antissemitismo que surgiu primeiramente sob pretextos religiosos na Idade Média, a partir do século XIX assumiu a forma de nacionalismo, até se tornar uma ideologia nazista.
A Guerra do Oriente Médio, entre o grupo islâmico terrorista Hamas e o governo de Israel, tem provocado um aumento das manifestações antissemitas em todo o mundo, As explosões do antissemitismo em vários países, provocando uma onda de ódio global, estão sendo intensificadas pela resposta indiscriminada de Israel à Faixa de Gaza pelos assassinatos terroristas contra civis israelenses pelo Hamas, em 7 de outubro. As cenas de atrocidades promovidas pelas forças militares israelenses em comunidades palestinas têm despertado uma antipatia pública por Israel no estrangeiro.
Quase um século após “A Noite do Cristais Quebrados” e o Holocausto, que matou em torno de 6 milhões de judeus europeus, o antissemitismo revive com força, se voltando contra os judeus de todo o mundo, por conta das ações genocidas do governo de Israel. Os massacres perpetrados na Faixa de Gaza protagonizam uma tragédia humana, na qual civis se tornam vítimas inocentes, sem qualquer responsabilidade pela deflagração da guerra.
A questão israelo-palestina, sem dúvidas, possui uma complexidade histórica, geográfica e política que pouca gente tem conhecimento, mas fica tomando partido por preferências ideológicas ou religiosas. E o pior é que se transformam em divergências que levam à violência. A história do antissemitismo nunca termina, ela apenas adormece por algum tempo e reaparece ameaçando o mundo, com culpados de ambos os lados da contenda.
www.reporteriedoferreira.com.br Por Rui Leitão- jornalista, advogado, poeta e escritor