AH SE EU FOSSE UM PEIXE! Por Gilvan de Brito

Gilvan de Brito
Uma das músicas populares mais belas do cancioneiro sertanejo, na minha opinião, chama-se “Riacho do Navio”, de Luiz Gonzaga (1912-1989) e Zé Dantas (1921-1962).
Sou um arraigado citadino, nasci na capital, mas gosto muito das coisas dos sertões brasileiros. Morei em Cajazeiras alguns anos onde aprendi a sentir o gosto, o cheiro e os costumes das coisas do interior. Riacho do Navio traduz esse gosto em alguns aspectos: o rio, os cangapés, as quermesses, o caminho das águas, o peixe, os mergulhos, as vaquejadas, o acordar ao barulho do chocalho e dos passarinhos, as caçadas, a distância do mar e da civilização; e o rádio, que antes imperava e hoje ainda é a fonte de alegria dos habitantes dessas regiões.
Luiz Gonzaga certa vez revelou que recebera essa letra para colocar a música, e que tentou durante vários anos, sem sucesso. Um dia amanheceu inspirado, pegou a sanfona e colocou de uma só vez toda a música sobre a letra em forma de baião. Depois, pegou a sanfona, correu para a fazenda de Zé Dantas, abriu a cancela e entrou cantando a música Riacho do Navio. Zé Dantas ficou arrepiado, ao ouvir aquela maravilha. Eis a música: “Riacho do Navio/ Corre pro Pajeú/ O rio Pajeú vai despejar/ No São Francisco/ O rio São Francisco/ Vai bater no mei do mar/ O rio São Francisco/ Vai bater no mei do mar// Ah! se eu fosse um peixe/ Ao contrário do rio/ Nadava contra as águas/ E nesse desafio/ Saía lá do mar pro/ Riacho do Navio/ Eu ia direitinho pro
Riacho do Navio// Pra ver o meu brejinho/ Fazer umas caçada/ Ver as pega de boi/ Andar nas vaquejada/ Dormir ao som do chocalho/ E acordar com a passarada/ Sem rádio e sem notícia/ Das terra civilizada/ Sem rádio e sem notícia/ Das Terra civilizada// Riacho do navio/ Riacho do navio/ Riacho do navio Tando lá não sinto frio”

(Foto da Pedra do Navio, por onde passa o rio riacho do Navio no interior pernambucano),
www.reporteriedoferreira.com.br Por Gilvan de Brito- Jornalista, advogado e escritor