Carlos Bolsonaro
Caio César/CMRJ
Carlos Bolsonaro

A Justiça do Rio de Janeiro determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos) na i nvestigação que apura a contratação de funcionários “fantasmas” e a prática de “rachadinha” no gabinete do parlamentar . Outras 26 pessoas também tiveram os sigilos quebrados — a lista inclui Ana Cristina Siqueira Vale, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e parentes dela que também foram lotados no gabinete de Carlos.

Veja quem são os alvos do inquérito:

Ana Cristina Siqueira Vale (ex-mulher de Jair Bolsonaro e ex-madrasta de Carlos)

A advogada Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, foi chefe de gabinete de Carlos na Câmara de Vereadores entre 2001 e abril de 2008. Ela foi casada com o presidente entre 1998 e 2008. Ficou no gabinete de Carlos de janeiro de 2001 a abril de 2008, com um salário médio de R$18.200, em valores corrigidos pelo IPCA.

Após ser nomeada na Câmara de Vereadores, os pais dela também se tornaram assessores de Carlos. Juntos, vieram diversos outros parentes dela, tanto no gabinete do presidente, então deputado federal, como nos de seus filhos Carlos e Flávio. No total, dez parentes de Ana Cristina tiveram os sigilos fiscal e bancário quebrados com autorização judicial.

Após ser nomeada no gabinete do enteado, Ana Cristina se transformou em uma ávida negociadora imobiliária, como revela um levantamento de ÉPOCA feito com base em quase 40 escrituras de compra e venda e 20 registros em cartórios no Rio de Janeiro e em Brasília. Do final de 1997, quando iniciou o relacionamento com Bolsonaro, até 2008, quando se separou do então deputado, Ana Cristina comprou, com Jair, 14 apartamentos, casas e terrenos, que somavam um patrimônio, em imóveis, avaliado em cerca de R$ 3 milhões na data da separação — o equivalente a R$ 5,3 milhões em valores corrigidos pela inflação.

Ana Cristina também foi alvo de comunicação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O documento revela que, durante o período em que esteve lotada no gabinete de Carlos Bolsonaro, ela recebeu “depósito de elevadas quantias de dinheiro em espécie em sua conta bancária”. Entre os registros, estão um depósito de mais de R$ 191 mil em março de 2011, e outro de mais de R$ 341 mil em julho do mesmo ano. O documento ainda destaca que Ana Cristina tinha um saldo de R$ 602 mil, apontado pelo Coaf como incompatível com a renda dela.

Um ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), no período em que ele foi deputado estadual no Rio, acusa Ana Cristina de organizar o esquema de devolução de salários no gabinete dele na Alerj e no de Carlos na Câmara do Rio. O ex-assessor conta ainda que entregava para Ana Cristina 80% do salário de R$ 7.326 que recebia no gabinete de Flávio. Flávio é acusado de operar esquema de “rachadinha” e foi denunciado pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ) por organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indébita.

Andrea Siqueira Valle
(irmã de Ana Cristina)
A fisiculturista Andrea Siqueira Valle, de 47 anos, constava como funcionária no gabinete de Carlos de 2006 a 2008, quando foi nomeada para o gabinete de Flávio na Alerj. Até agosto de 2018, ela tinha um salário bruto de R$ 7.326,64, além de receber um auxílio educação de R$ 1.193,36.Durante quase todo esse tempo, jamais teve identificação funcional.Apenas em 2017 foi pedido um crachá da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) em seu nome. Nesse período, ela tambémsempre viveu em Resende, na casa dos fundos dos pais.

O GLOBO visitou Resende em 2019 para conversar com Andrea. Na cidade, Eliane Montaglione, dona da Academia Physical Form, disse que, no passado, ela era conhecida por participar de concursos de fisiculturismo e malhar várias vezes ao dia. O GLOBO apurou que Andrea trabalhava com faxina para residências.

— Ela malhava duas, até três vezes ao dia. Lembro que em época de concurso ela malhava mais — contou Eliane à época.

Questionada se soube que ela trabalhava na Alerj, Eliane demonstrou surpresa:

— Nossa, nunca soube.

Em Guarapari, as dificuldades financeiras de Andrea não são segredo. A três quadras de casa, ela malha na academia Sports Center. A proprietária Renata Mendes contou que tem permitido que ela use a academia de graça como meio de patrocínio e diz que a contratou para faxinas.

André Luis Procópio Siqueira Valle
(irmão de Ana Cristina)
O músico André Luis Procópio Siqueira Valle consta como funcionário no gabinete de Carlos Bolsonaro entre 2001 e 2006 e no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados, em 2006 e 2007. O GLOBO apurou que morava em Resende e apenas fazia distribuição de santinhos nas campanhas eleitorais.

Marta da Silva Vale
(cunhada de Ana Cristina)
Marta foi assessora de Carlos entre 2001 e 2009, mas, em entrevista à Revista Época em 2019, disse que nunca havia atuado no gabinete. Moradora de Juiz de Fora, em Minas Gerais, ela passou sete anos e quatro meses lotada no gabinete, entre novembro de 2001 e março de 2009. Procurada por ÉPOCA, disse que nunca trabalhou para Carlos. “Não fui eu, não. A família de meu marido, que é Valle, que trabalhou”. O salário bruto de Marta Valle chegou a R$ 9.600, e, somado a penduricalhos que funcionários podem receber, chegaria a R$ 17 mil.

Morador de Rio Pomba (MG), a 274 quilômetros do centro do Rio, Marques é um pequeno empresário e representante comercial na área farmacêutica. Assim como Marta, ele demonstrou surpresa ao ser questionado sobre o tempo em que aparecia como funcionário na Câmara Municipal carioca.

Em conversa por telefone, a reportagem indagou a Marques se ele se recordava do gabinete em que havia trabalhado para Carlos Bolsonaro e o que fazia. Ele disse inicialmente que não se recordava. Depois, outra vez indagado sobre o assunto, perguntou à reportagem se não havia algum engano em relação ao nome dele. A conversa seguiu sem que Marques também se recordasse sobre o salário que recebia.

Guilherme Henrique de Siqueira Hudson
(primo de Ana Cristina)
O advogado Guilherme Henrique de Siqueira Hudson constou na Câmara de Vereadores do Rio como assessor-chefe do vereador Carlos Bolsonaro entre abril de 2008 e janeiro de 2018. Guilherme é primo de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, e assumiu o cargo quando ela deixou o posto no gabinete. Apesar de todo o tempo em que ficou lotado, no papel, no principal cargo de chefia do gabinete, Guilherme jamais teve crachá de servidor da Câmara.

Assumiu o cargo quando Ana Cristina deixou o posto no gabinete de Carlos. Apesar de todo o tempo em que ficou lotado, jamais teve crachá de servidor da Câmara. É filho de Guilherme Henrique dos Santos Hudson e Ana Maria de Siqueira Hudson, que foram lotados no gabinete de Flávio Bolsonaro. É casado com Ananda Priscila Mendonça de Menezes Hudson que, como ele, foi lotada no gabinete de Carlos Bolsonaro.

Guilherme foi lotado quando tinha 23 anos e ainda cursava Direito. Ele só concluiu o curso na Universidade Estácio de Sá no final de 2008 — o que o obrigaria a conciliar as tarefas no gabinete com o final do curso. Ao menos desde 2012, Guilherme possui residência fixa em Resende, onde casara em 2011 e abrira um escritório de advocacia, além de uma loja de decoração com a mulher, a professora Ananda de Menezes Hudson, de 31 anos. Desde 2012, o site do Tribunal de Justiça do Rio mostra que ele atuou em 68 processos na região de Resende e em cinco na capital. Chegou a fazer concurso para a prefeitura de Barra Mansa, mas foi reprovado. Pessoas que o conhecem em Resende jamais souberam de seu cargo na Câmara Municipal do Rio, pois conhecem suas atividades na cidade no sul do estado. ÉPOCA esteve em seu escritório no sul fluminense e deixou mensagens, mas Hudson não respondeu. Resende fica a cerca de 170 quilômetros da capital.

No período em que Hudson é relacionado como assessor-chefe, a então namorada e agora mulher de Guilherme Hudson, Ananda Hudson, foi nomeada no gabinete no mesmo cargo e com o mesmo salário de Marta Valle, em 1º de março de 2009. Lá ficou até agosto de 2010. No mesmo período, porém, ela cursava faculdade de Letras em Resende.

Ananda Priscila Mendonça de Menezes Hudson
(mulher de Guilherme)
Casada com Guilherme Henrique de Siqueira Hudson, que foi foi lotado como chefe de gabinete de Carlos Bolsonaro. É nora de Guilherme Henrique dos Santos Hudson e Ana Maria de Siqueira Hudson, que foram empregados no gabinete de Flávio Bolsonaro. Vive em Resende e fazia faculdade lá no mesmo período em que estava nomeada na Câmara dos Vereadores do Rio. Ficou nomeada entre março de 2009 e agosto de 2010 com um salário de R$14.893.

Monique de Carvalho Moreira Hudson
(cunhada de Guilherme)
Casada com André Luiz de Siqueira Hudson, primo de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro. Ela estudava Letras em Resende quando foi assessora da Câmara de Vereadores do Rio. Não teve crachá no período. Ficou nomeada no gabinete de Carlos entre agosto de 2010 e dezembro de 2014, com um salário de R$14.926.

Cileide Barbosa Mendes

Foi babá do primeiro filho de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro. Reportagem da Folha de S. Paulo afirma que ela mora na casa que, até o ano passado, abrigava o escritório político de Bolsonaro, em Bento Ribeiro, mesmo depois de ter sido exonerada. Ficou nomeada no gabinete de Carlos Bolsonaro entre 2001 e 2019.

Durante o período que trabalhou para Carlos, Cileide apareceu como responsável por três empresas. Atuava como suposta laranja do militar Ivan Ferreira Mendes.

www.reporteriedoferreira.com.br

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Agência O Globo