Se fechar as portas aos adversários de Bolsonaro, Romero sairá isolado em 2022
“Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”. A frase do ex-governador mineiro Magalhães Pinto é repetida pelos políticos brasileiros desde a década de 1960. Ela serve para atestar a gangorra da vida pública e mostra o quanto as decisões tomadas pelo ex-prefeito Romero Rodrigues (PSD) lá atrás com o alinhamento ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) traz reflexos agora. Se o espelhamento trazia reflexos positivos antes, agora, em momento de baixa do presidente, pode tirar mais que contribuir.
Os reflexos disso são vistos no movimento do ex-prefeito no momento em que ele busca se fortalecer para a disputa do governo do Estado. Enquanto o governador João Azevêdo (Cidadania) constrói um arco de alianças que vai da esquerda à direita, Romero é cobrado pelos principais aliados para que não deixe a trincheira bolsonarista. O recado foi mandado pelo comunicador Nilvan Ferreira (PTB) e pelo deputado estadual Cabo Gilberto (PSL). O problema é que o cenário pode até mudar no ano que vem, porém, hoje, o campo da extrema-direita vem encolhendo no Estado.
O erro de cálculo é parecido com o adotado pelos petistas em 2018. A sigla lançou a candidatura de Fernando Haddad para a Presidência, mas proibiu nos estados alianças com partidos que apoiaram o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Houve derrota nacionalmente e nos estados. A única coisa preservada foi a bancada federal, mas a sigla sofreu grandes derrotas em praticamente todas as unidades da federação. O mesmo pode ocorrer com o grupo bolsonarista na Paraíba, frente ao esquema do governador, que, além de tudo, tem uma caneta cheia de tinta.
Diante deste cenário, Romero deu declarações na linha de que poderá fazer composições com partidos adversários do presidente. O próprio irmão do ex-prefeito, o bolsonarista raiz Moacir Rodrigues (PSL), deu declarações na rádio Arapuan admitindo que a prioridade era fortalecer a candidatura do irmão. Neste caso, ele reforçou a necessidade de ter o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), no arco de aliança, apesar do perfil de centro esquerda do verde.
É um erro imaginar que a radicalização das campanhas do plano nacional vão, necessariamente, ser reprizadas na paróquia, afinal, tradicionalmente, isso não ocorre na Paraíba. A prova disso é que em 2002 e 2006, com Lula no auge, Cássio Cunha Lima (PSDB), na disputa pelo governo, criou os velhos comitês suprapartidários. A lição vale para Romero, como valeria para João Azevêdo ou Luciano Cartaxo: apoio não se nega, a menos que o objetivo do grupo seja meramente eleger deputados e observar o candidato da majoritária lotar uma Kombi no dia da eleição.
www.reporteriedoferreira.com.br Por Suetoni Souto Maior