RELAXE E GOZE: Escrito Por Gilvan de Brito
RELAXE E GOZE: Escrito Por Gilvan de Brito
Quando nós atravessamos um momento único da nossa vida, de bem ou de mal, não tem outra saída: vamos lembrá-lo por toda a existência. Então, nesses momentos muito especiais, o importante é relaxar e gozar, para que aquele indefinido e curto espaço de tempo permaneça para sempre na nossa mente, de uma forma alentadora ou atentatória, como já pregou a ex-prefeita de São Paulo, Márcia Suplicy: Relaxa e goza”.
É o caso do Coronavírus, essa Peste que nos atinge presentemente (a mim indiretamente) e que põe todo mundo de quarentena com medo de ser contaminado (e triste dos forem). Aqueles que são loucos por um feriado prolongado, têm agora, a disposição, dois ou três meses de gozo, em casa, se deliciando com o ócio e podem relaxar à vontade. Tive a chance de escrever um livro (ainda inédito) denominado “A Dança com os Mortos”, de aproximadamente cem páginas (qualquer dia será editado), que conta a história de uma epidemia que atingiu a Paraíba em 1855, com recidiva três anos após, que exterminou mais de 40 mil pessoas, somente na Paraíba, e quase um quarto dos habitantes do planeta. Foi a peste do cólera morbus, que veio seguida pela febre amarela.
Fiz uma pesquisa minuciosa nos jornais da época, e constatei como os seus efeitos foram devastadores. Principalmente numa época quando só existia uma faculdade de Medicina no Nordeste, em Salvador; e outra no Rio de Janeiro. Havia apenas 12 médicos em todo o estado da Paraíba. Os farmacêuticos fizeram o papel de médicos, porque a maioria trabalhava com fórmulas utilizando raízes, como ensinavam os índios, e conheciam algumas curas através do poder vegetal, mas que nada serviram contra esse terrível mal.
Comparado com esse vírus que enfrentamos agora, que tem o apelido de Covírus, aquele que veio do rio Ganges, da Índia (pegava pelo ar), era devastador sob todos os aspectos e o nosso uma “gripezinha“, como sentenciou Bolsonaro em mais um dos momentos infelizes de seu governo. Num só dia morreram 159 habitantes, em João Pessoa e no total foram mais de 40 mil, no Estado (apenas duas cidades do interior não foram atingidas: Catolé do Rocha e Coremas). Os mortos eram depositados nas esquinas, pelos familiares, para serem recolhidos por uma carrocinha do Governo e sepultados em valas comuns.
O corpo da vítima ficava igual a pele de um sapo, azulado, cheio de bolhas, olhos fundos, pele encerada e uma diarreia sem fim, numa imagem que aterrorizava até os parentes mais próximos, que saiam correndo, ao vê-los. Posso dizer que vivi aqueles momentos quando pesquisei seus efeitos, e pensei que não os teria numa visão repetida durante a minha vida. Ledo engano, porque estou vendo uma amostra grátis do que é uma pandemia, ao vivo e em cores, na nossa porta, embora muito mais atenuada. Mesmo assim, agressiva e arrasadora. Agora todos aqueles que viverão esta contemporaneidade, poderão dizer para os netos: conheço a Peste.