CRÔNICA DE GILVAN DE BRITO CARCARÁ, PEGA, MATA E COME: Por Gilvan de Brito
CRÔNICA DE GILVAN DE BRITO
CARCARÁ, PEGA, MATA E COME: Por Gilvan de Brito
Durante as minhas caminhadas pela orla do Atlântico, na praia do Bessa, de vez em quando topo com um pássaro não muito comum por essas bandas: o Carcará, também chamado Gavião, muito raro nos centros urbanos, por se tratar de um tipo carnívoro, parente distante da águia, que se alimenta exclusivamente da caça aos pequenos animais. Eu vou andando, tanto na calçadinha ou nas areias da praia, quando ele surge voando, gralheando, estridente, a música que emite seu nome.
Às vezes chega baixo, rasante, em velocidade; de outras, planando sobre uma vegetação rasteira existente nas proximidades da praia de Intermares. Sempre impulsionado pelas longas asas com uma envergadura de aproximadamente 60 cm, quando me vê, invariavelmente, faz uma graça: Pousa nas finíssimas areias da praia e sai andando com dificuldade, parecendo um papagaio e olhando de lado, acompanhando-me por uns dois minutos.
Na semana passada ele (ou ela) parou à minha frente, curioso, e eu também fiquei a admirá-lo durante pouco menos de um minuto. O tempo parou, foi como uma eternidade, em fina sintonia. Ele me perscrutando de cima a baixo e eu o perquirindo nos mínimos detalhes: solidéu preto sobre a cabeça até os olhos, bico voltado para baixo, parte do bico avermelhado, metade do pescoço branco e o restante em listas circulares brancas e marrons, 30 cm de altura, longas pernas amarelas, garras em lugar de patas e plumagem tipo “carijó”, pedrês, com as penas salpicadas de branco em campo marrom
. Acenei-lhe, sem alarde, e ele balançou a cabeça umas três vezes de um lado para o outro com aqueles olhinhos miúdos, como se correspondesse ao agrado. Depois, decidido, foi-se batendo as longas e graciosas asas, com destino à Restinga de Cabedelo, resquício da Mata Atlântica, onde deve habitar. No outro dia, quando eu passava pelo mesmo local encontrei uma pena, largada por ele no meu caminho. Uma pena linda de 19 cm, do papo, curvada, onde cada fio é marcado por três inserções brancas num campo marrom, dos dois lados, como se pode ver na foto.
Parece até que foi arrancada com o próprio bico para ser oferecida como prenda, porque mostrava na base vestígios da pele. Um presente e tanto, com especial carinho, oferecido por um bicho reconhecidamente malvado. Porém, como dizem, ninguém é totalmente mau. Há sempre uma dose de bondade em todo ser humano ou animal. Mas, há algo de estranho e de imponderável em tudo isso, que não sei nem consigo entender nem explicar. É que este tipo de atração muitas vezes em mim se repete, trazendo uma emoção contagiante recíproca que se pode chamar de empatia com os bichos, em muitas oportunidades, já demonstradas. Gilvan de Brito, (Em 22.09.2018 Facebook)
www.reporteriedoferreira.com.br Por Gilvan de Brito-Jornalista, advogado e escritor