PONTO ZERO DA CIDADE Por Gilvan de Brito

PONTO ZERO DA CIDADE Por Gilvan de Brito
O Ponto de Cem Reis foi um logradouro muito peculiar e de curiosa frequência nos fins de tarde. Dezenas de pessoas, bem distribuídas em suas atividades nos grupos que representavam os segmentos da vida da cidade. De cinco a dez pessoas, alguns mais assíduos se localizavam a uma certa distância para não interferir na conversa dos outros, uns de pé outros sentados nos bancos de mármore.
Havia jornalistas, pessoal de teatro, músicos, professores e intelectuais da província. Mais adiante os médicos e estudantes de medicina, que saiam ou estavam escalados para o plantão no Hospital de Pronto Socorro que funcionava no cruzamento das ruas Visconde de Pelotas com a Guedes Pereira; torcedores de futebol, que atraiam sempre jogadores do passado e do presente.
Lojistas que subiam do Varadouro e se encontravam com outros do centro; havia ainda profissionais de vários ofícios, como carpinteiros, padeiros, pedreiros, sapateiros e, principalmente os desocupados. Todos trocavam informações ou se deliciavam com histórias do passado, durante horas ou filosofando sobre a vida e a morte. As reuniões ao ar livre funcionavam como uma ocupação terapêutica porque havia princípio, meio e fim, e redundavam sempre nos fundamentos de uma sessão de relaxamento.
E de vez em quando davam uma estirada até o Café São Braz, porque ninguém era de ferro. Hoje o Ponto de Cem Reis é uma lástima, um samba acabado, uma terra arrasada. Virou feira livre. Dá pena passar pelo centro da cidade e ver a atual situação do marco zero da Capital. Mas o Ponto de Cem Reis não sucumbira. Um dia virá um político que tenha identificação com a comunidade para recuperá-lo.
www.reporteriedoferreira.com.br / Gilvan de Brito- advogado, jornalista, poeta, escritor



