A SÍNDROME DO COITADISMO Por Rui Wilson Leitão
A SÍNDROME DO COITADISMO Por Rui Wilson Leitão
A mania de perseguição é considerada, no campo da psiquiatria, um transtorno mental. O indivíduo sente constantemente que alguém quer prejudicá-lo, alimentando um exagerado sentimento de desconfiança. Imagina que tudo conspira contra ele. Trata-se, portanto, de uma doença que requer tratamento médico.
Na esfera política, no entanto, essa postura não pode ser classificada como uma enfermidade, mas como uma forma de autodefesa. Enfraquecido, o agente político apela para a narrativa de que está sendo perseguido, construindo discursos que o façam parecer vítima aos olhos dos eleitores. É a desculpa que encontra para enfrentar as acusações que lhe são impostas. Uma estratégia eficaz de manipulação da opinião pública, buscando amplificar manifestações de solidariedade.
Trata-se de um comportamento que, propositadamente, se descola da realidade, permitindo que a irracionalidade prevaleça e evidenciando instabilidade emocional. Geralmente, sua origem está na egolatria. O político vitimista se vê como injustiçado, ainda que existam provas irrefutáveis contra ele. Jamais admite ter adotado condutas que contrariem as normas da legalidade.
O vitimismo se manifesta no excesso da sensação de perseguição sistemática, atribuindo qualquer acusação a uma suposta vingança de adversários. Esse comportamento leva à perda do senso de autocrítica, do discernimento e da capacidade de avaliar racionalmente as situações. A negatividade é característica dos fracos, uma marca dos covardes. Não podendo demonstrar força, recorrem à política da vitimização. Não aceitam o fato de que os outros já não se curvam à sua ambição de poder. E, em vez de assumirem responsabilidades, transferem-nas para terceiros – muitas vezes de forma agressiva. É a síndrome do “coitadismo”.
Esses indivíduos assumem uma dupla personalidade: ora se apresentam como “machões”, que tudo podem; ora como “coitadinhos”, clamando por proteção e apoio de seus seguidores. Vitimizam-se para despertar piedade.
Mussolini e Hitler chegaram ao poder culpando os outros e explorando a retórica da vitimização. Utilizaram essa estratégia para cometer atrocidades, como se tivessem recebido licença moral para tanto. Eles sabiam que encontrariam pessoas de mente fraca, incapazes de pensar por si mesmas, verdadeiros integrantes de um rebanho ideológico. Provocar a vitimização consiste em construir uma imagem de ameaça constante, de modo a influenciar o público.
Devemos ter cuidado com os vitimistas. Eles manipulam situações para conquistar o que desejam, explorando a compaixão alheia. Por isso, é essencial não cair no jogo armado. Se autopromovem com o coitadismo, dramatizando circunstâncias desfavoráveis pelas quais estejam passando. É um vitimismo calculado, consciente, que se alimenta do lamento e da chantagem emocional. Seus discursos buscam desclassificar os argumentos dos adversários. Em vez de refutarem afirmações, preferem posar de vítimas de extremistas radicais. Nunca admitem erros. Agem pela emoção, sem preparo para defender suas ideias, ignorando a veracidade e a consistência dos fatos.
O vitimismo é um discurso fácil de vender. Quem o pratica sente a necessidade de ter seu sofrimento reconhecido diante dos outros, em busca de compaixão. Falam em meritocracia, mas são os primeiros a se colocarem como vítimas quando derrotados em seus projetos políticos. E recorrem à retórica do ódio.
A dinâmica do vitimismo está presente nas ciências políticas – lamentavelmente.
Rui Wilson Leitão