Nonato Guedes

Com o afunilamento do prazo para uma tomada de decisão pela Direção Nacional do Partido dos Trabalhadores sobre a posição do partido na disputa pela prefeitura de João Pessoa intensificam-se as discussões e divergências, tendo como pano de fundo um provável apoio do PT à candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição. Um grupo influente comandado pelo ex-governador Ricardo Coutinho e pelo deputado federal Luiz Couto mobiliza-se para evitar essa opção e oferece como alternativa a candidatura própria, representada pelo nome do deputado estadual Luciano Cartaxo, que foi prefeito duas vezes da Capital. No contraponto, o presidente estadual do PT, Jackson Macedo, insiste na composição com Cícero, que considera mais viável eleitoralmente, inclusive pela parceria mantida entre o gestor atual e o governador João Azevêdo (PSB), que foi eleitor do presidente Lula nos dois turnos do pleito de 2022.

        A polêmica interna se acentuou depois da visita, esta semana, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a João Pessoa para lançar a pré-candidatura do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, à sucessão municipal. Apesar dos incidentes e divisões entre expoentes da direita paraibana, que irritaram profundamente o ex-mandatário, a avaliação fora das quatro linhas do bloco conservador foi a de que a direita mostrou força e potencial para avançar rumo ao segundo turno, polarizando o páreo com o prefeito Cícero Lucena. O presidente estadual petista Jackson Macedo, que sempre defendeu a aliança com Cícero, renovou essa convicção e sugeriu que os líderes petistas façam uma “leitura correta” da conjuntura, para além de paixões e de rivalidades pessoais. Já o ex-governador Ricardo Coutinho e o deputado Luiz Couto consideram Cícero “bolsonarista” e criticam o modelo de gestão implementado por ele neste terceiro mandato que está empalmando, além de avaliar que Cartaxo tem experiência comprovada e argumentos para um debate propositivo em torno de mudanças na gestão pública da Capital paraibana.

A expectativa é de que até o final deste mês a Executiva Nacional, presidida pela deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), anuncie um posicionamento sobre a atuação do PT nas eleições em João Pessoa. O processo preliminar para indicação de candidatura própria revelou-se bastante tumultuado desde a sua deflagração, com ataques entre dois pré-candidatos – Luciano Cartaxo e a deputada estadual Cida Ramos, que reclama identificação maior com o PT. Os desentendimentos levaram o senador Humberto Costa (PE), presidente do Grupo de Trabalho de Tática Eleitoral do partido, a suspender a realização das prévias para definição de candidatura. Na prática, houve um cancelamento das prévias, para o que contribuiu, certamente, a postura do deputado Luciano Cartaxo recusando-se a participar da disputa e reclamando prioridade por se considerar mais competitivo do que a deputada Cida Ramos, que já perdeu uma eleição, em 2016, para o próprio Cartaxo, quando era filiada ao PSB, então liderado pelo governador Ricardo Coutinho.

Ricardo, que no passado opunha restrições ostensivas a Luciano Cartaxo, tanto do ponto de vista administrativo quanto do ponto de vista do conteúdo ideológico, aderiu ao pragmatismo e refez seus conceitos, passando a elogiar Cartaxo e incensando-o como o nome mais credenciado para levar o PT a um crescimento na campanha, com possibilidade de virada em cima do próprio Cícero Lucena. Nesse ínterim, em meio ao impasse, o governador João Azevêdo entrou no circuito, operando nos bastidores, junto a líderes influentes do PT nacional, para atrair a legenda para uma composição com Lucena. Azevêdo tem encontrado interlocutores receptivos à sua proposta, mas tem sido neutralizado no seu esforço pela ofensiva do ex-governador Ricardo Coutinho, que atualmente reside em Brasília e que maneja os cordéis para impor solução de seu interesse e conveniência. Ricardo, que foi o principal cabo eleitoral de João Azevêdo em 2018, rompeu com o sucessor ao se sentir alijado de influência e ocupação de espaços na administração deste. No pleito de 2022, atuou para atrair o PT para a candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) ao governo, enquanto ele próprio lançou-se ao Senado. Os dois foram derrotados – e no segundo turno Veneziano declarou apoio ao ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), que tinha mais afinidades com o bolsonarismo do que com o lulismo, e que perdeu para João Azevêdo numa campanha dramática para o atual chefe do Executivo paraibano.

Com o PT paraibano sobrevivendo à mercê de desentendimentos entre seus próprios expoentes, a impressão é de imobilismo do partido para as eleições municipais deste ano, combinada com a perda de tempo em definições cruciais para o futuro da legenda, apesar da coincidência do pleito com o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De tão acirrado que está, o clima nas hostes petistas já provocou desfalques na chapa de pré-candidatos a eleições proporcionais, ou seja, à Câmara Municipal. E, enquanto se arrasta, a polêmica envolvendo a definição da posição na eleição majoritária somente tem colaborado para desanimar a militância e afetar o seu engajamento na campanha municipal de 2024. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em algumas falas dirigidas ao público interno, tem cobrado resposta eficiente do Partido dos Trabalhadores para resgatar o engajamento da militância e dos movimentos sociais que sempre constituíram elementos de fortalecimento do partido. Mas, pelo menos em João Pessoa, até agora, os apelos do presidente da República e líder maior do PT não têm surtido efeito.