A HISTÓRIA DE UMA MÚSICA Por Gilvan de Brito

Nau (Ednaldo dos Anjos) ocupava a presidência da Associação Atlética Banco do Estado e precisava de uma atração para inaugurar melhoramentos na sede construída na praia de Ponta de Campina (Cabedelo), onde havia uma colônia de férias para os associados. Então chamou a mim e a Livardo para fazermos uma música carnavalesca enaltecendo a AABE. Mas tinha um detalhe: precisava ser feita naquela noite e gravada no dia seguinte, para estar pronta no sábado, data da inauguração. Então eu sai do jornal e fui com Livardo para o Badozé, que funcionava em Jaguaribe, ao lado do cinema, e combinamos que eu faria a letra e Livardo a música. Então, regado à cerveja com tira-gosto de macaxeira com carne guisada, eu comecei com a sigla (AABE) repetida por quatro vezes, que logo foi vestida com uma música que me estimulou continuar naquela linha melódica.
Escrevi durante alguns minutos e passei para ele a primeira estrofe: “Meu clube/ É rubro negro/ Me dá sossego/ À beira mar, beira mar”. Livardo tinha uma grande sensibilidade para a música e logo emendou, tamborilando na mesa, sem perder o ritmo, completando a segunda parte. Enquanto ele solfejava eu já estava partindo para a terceira, que ficou assim: “À noite/ Me tira o sono/ Me faz o dono/ Deste lugar, à cantar”. E passei para ele que deu continuidade na mesma linha melódica. De minha parte já estava iniciando a terceira parte, que foi sendo construída dessa forma: “Entre na nossa festa/ A vida é esta/ Venha aproveitar”. Ele leu e seguiu na mesma trilha enquanto eu procurava terminar o trabalho fechando a letra, que em poucos minutos foi concluída, sem delongas: “Chegue também menina/ O carnaval é aqui/ Na ponta de Campina”. Foi num piscar de olhos que ele encerrou a marcha.
Levantamo-nos e nos cumprimentamos efusivamente. Estava pronto e acabado o trabalho da AABE. Satisfeito, Livardo pediu uma ficha de telefone ao garçom, foi ao “Orelhão”, próximo (ainda não havia celular), ligou para Nau e cantou a música da forma como ficara. Nau elogiou o trabalho, pediu para falar comigo e acertou a nossa viagem ao Recife, para gravar na Rozemblit, que na época era a única gravadora de discos vinil no Nordeste. Imediatamente liguei para o maestro Vilor, para reunir os músicos. Livardo cantou para ele fazer a pauta cifrada a fim de ser lida pelos instrumentistas na hora da gravação e marcamos a saída para às 10 horas.
No dia seguinte liguei para a Rozemblit, reservei um dos estúdios e seguimos com os músicos, que foram, em dois carros, para a Gravadora. Durante a viagem os músicos foram ensaiando a pauta cifrada entregue pelo maestro Vilor. Às 13 horas entramos no estúdio, Vilor dispôs os músicos e Livardo foi para o microfone cantar a música. Em uma hora e meia gravamos e o gerente logo mandou cortar em acetato para prensar o vinil e concluir a “bolacha”, o disco preto. Encomendamos mil cópias, mas só deu para levarmos cem, porque havia outras encomendas e ele já havia antecipado o nosso trabalho em atenção, porque todos os anos gravávamos músicas de carnaval. O restante recebemos na semana seguinte.

em Fotos da linha do tempo
Foi então anunciado como atração Livardo Alves cantando o hino da AABE. No sábado centenas de pessoas, entre funcionários, ex-funcionários e foliões compareceram à festa, que foi um verdadeiro sucesso. Os presentes queriam adquirir uma cópia do disco, mas não deu para atender a todos, porque tínhamos apenas pouco mais de 90 unidades. Na semana seguinte colocamos numa loja e o disco esgotou-se, exigindo nova prensagem, quando incluímos outras três músicas que já estavam no acetato desde o ano anterior. Foi, realmente, uma maratona, para
realizarmos este desafio, que finalmente foi cumprido.
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