LANÇAMENTO DO MEU LIVRO 85, “A TORRE É O MEU PAÍS”; Gilvan de Brito

LANÇAMENTO DO MEU LIVRO 85, “A TORRE É O MEU PAÍS”
Ao abrir este livro o leitor aceitou o convite para entrar na minha Torre. Não aquela selva de concreto e vidro, que arranha o céu de João Pessoa, mas a Torre simbólica. Escrevo de um lugar onde o chão é testemunha. Meus 85 livros publicados, como camadas de existência, brotaram da necessidade de dizer que viver — com simplicidade, com raiva, com desejo — é um ato político.
Neste volume, que agora transforma o bairro numa lenda, pela literatura, busquei responder à pergunta que me persegue: Por que a Torre? A resposta não está apenas no conforto ou na economia, mas na liberdade de ser feita de palavras, memórias e de um olhar teimoso sobre o mundo. Isso porque eu escrevo como respiro. E respiro melhor quando me lembro de um lugar onde podia me sentar na calçada ao entardecer, olhar o movimento da rua, ouvir o Brasil verdadeiro, ver o sol se esconder por trás da linha do horizonte, sentir o cheiro da mata atlântica— aquele que não cabe em manuais de elegância ou algoritmos.
Para quem não conhece ou nunca prestou atenção às potencialidades de morar num lugar horizontalizado onde pode-se ver o sol e a lua, num giro de 360 graus. Se fizer isso, com certeza vai pensar duas vezes a respeito de viver numa gaiola vertical e outra gaiola menor para subir e descer movida pela eletricidade, que passa pelo fio de forma intangível, não confiável, porque ninguém consegue vê-la. Na Torre não há porteiros da alma, não há elevadores que separam classes. Há ruas, cheiros, cães latindo ao crepúsculo, galo cantando de madrugada e vizinhos que sabem seu nome — não seu saldo bancário. Livro e.Book Kindle/ Amazon, 147 páginas, $ 24,90, LINK para aquisição: ‎ B0G49V466T
www.reporteriedoferreira.com.br/ Gilvan de Brito- Advogado, jornalista, poeta, escritor



MEUS VALORES, ONDE ANDAM? Por Gilvan de Brito

MEUS VALORES, ONDE ANDAM? Por Gilvan de Brito
Nestes dois dias de São João o meu bairro da Torre se engalanava para comemorar o São João: Logo cedo começava a armar a fogueira, trabalho que envolvia a todos de uma família; cada um trazia um pauzinho para empilhar. Ao final, uma obra de arte estava pronta. Depois, numa passagem pela cozinha, minha mãe me pegava pelo braço para descascar milho, separar as palhas das pamonhas e depois passar a faca, de cima a baixo na espiga, para retirar os grãos. Em seguida o caldo ia para o fogo.
Eu gostava de lamber a colher de pau, ao retirar a casca do fundo da panela (ainda quente) quando terminava de cozinhar. Depois via a formatação das pamonhas, os pratos de canjica, os bolos de milho e outras iguarias do cereal e do coco (cocadas). À tarde, confeccionar as lanternas em forma de estrela, para colocá-las nas portas e janelas da frente, com uma vela dentro. A noitinha estava chegando, hora de acender a fogueira, com jornais velhos, querosene, álcool e uma caixa de fósforos. Quando chovia era um transtorno, era necessário cobrir a fogueira com um plástico, para não molhar a madeira. Acesa, era hora de soltar os fogos, adquiridos nos dias anteriores: buscapé, diabinhos, chuveiro, estrelinhas (para as meninas) foguetes, mijão, traques, bombas peido de veia, chilena, cabeça de negro (as mais fortes).
Isso tudo debaixo de um fumacê que vinha da nossa, das fogueiras da vizinhança e de todo o bairro. Era aquele incômodo nos olhos, o cheiro de queimado. Tudo que se via numa casa era repetido na outra, seguidamente. A comemoração era geral, a alegria reinava nestes dois dias de São João. Depois, assar milho na fogueira, comer pamonha, canjica, cocadinhas pretas e brancas, milho assado, guaraná Dore ou Sanhauá; vinho Celeste, Lágrima de Ouro e Jaboticaba.
No meio de toda a festança, às vezes alguém se lembrava de que, durante toda essa festa, São João estava dormindo, e só tomaria conhecimento no dia seguinte, quando Santo Antônio lhe contava. Acabou-se tudo, não em mais foguetes, fumaça nem guaraná Dore e Sanhauá, nem os vinhos de Tito Silva. Hoje, estou neste computador, e só ouço, em longos intervalos, algum rojão explodindo, em locais distantes.
www.reporteriedoferreira.com.br / Por Gilvan de Brito- Advogado, Jornalista, Poeta e escritor.