AS GUERRAS DE TORCIDAS ORGANIZADAS ; Rui Leitao
AS GUERRAS DE TORCIDAS ORGANIZADAS
No último sábado, dia 1º., as ruas de Recife tornaram-se palco de cenas de extrema violência com a ocorrência de agressões brutais, bombas, depredação em vários bairros e até saques, protagonizados por torcedores do Santa Cruz e Sport. O acontecimento suscita a necessidade de que se promova um amplo debate sobre a questão. É lamentável que o futebol, reconhecidamente um elemento de expressão e significado da cultura brasileira, se transforme em motivo de transgressão da ordem social, a partir de rivalidades entre torcidas organizadas, adotando comportamentos agressivos de confrontos.
O estado de impunidade tem contribuído para que esses conflitos tornem-se frequentes. A concretização dos atos violentos está relacionada a paixões irracionais, estimuladas por integrantes de torcidas organizadas com perfil criminoso. Os indivíduos que fazem parte desses grupos, ainda que heterogêneos, se unem sob a forma de rivalidade com grupos semelhantes, para fins determinados e se comportam conduzidos pelo que Freud classificou como “instinto social”, agindo por impulsos que se manifestam por excitações mútuas.
Através das redes sociais, as torcidas organizadas se comunicam e acertam encontros que se tornam verdadeiras operações de guerra, com ações coletivas de vandalismo, depredação e hostilidades recíprocas. Em boa parte dos casos são formadas por gangues, nas quais a transgressão e a brutalidade se manifestam. Diferentemente do torcedor comum que se restringe a ser um mero espectador de uma partida, o “torcedor organizado” entende que faz parte do próprio espetáculo, só que de maneira totalmente fora dos padrões de civilidade que a prática esportiva recomenda, transformando os estádios e arredores em ambientes de tensão e afastando os cidadãos que gostam do futebol dos eventos esportivos, com receio, inclusive, de levar suas famílias para assistir partidas em que participem seus times de preferência.
Proibir torcidas adversárias em clássicos, aumentar a segurança fora e dentro dos estádios, criar novas leis e punir com perda de pontos e aumentar o valor da multa para os clubes dos torcedores envolvidos, não têm sido ações suficientes para conter essas barbáries cometidas pelas torcidas organizadas. Há de se perguntar: o que fazer, então? É preciso punir severamente, com a aplicação das leis, esses indivíduos que abrem mão de suas individualidades e de suas identidades pessoais, para, em nome do grupo, praticar excessos com manifestações destrutivas. A violência entre torcidas organizadas não pode assumir características de acontecimento banal. Ela é, antes de tudo, uma preocupação social, que necessita ser analisada pelas autoridades competentes, buscando corrigir as evidentes falhas na aplicação da ordem legal.
Talvez estabelecer condições de diálogos e pactos entre torcidas e dirigentes esportivos, bem como orientações pedagógicas direcionadas às torcidas, de forma a contribuir para que o futebol não perca a sua condição de espetáculo, acabando com as brigas entre torcedores.
www.reporteriedoferreira.com.br Rui Leitão- advogado, jornalista, poeta, escritor



“FARINHA DO MESMO SACO” : Escrito Por Rui Leitao