PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. Sivuca Sérgio Botelho

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. Sivuca
Sérgio Botelho
– No dia 14 de dezembro de 2006 falecia em João Pessoa o paraibano de Itabaiana Severino Dias de Oliveira ou simplesmente Sivuca, sua identidade mundial. Para sempre, seu nome ficou consagrado como um dos maiores da Música Popular Brasileira, com reconhecimento no contexto da música erudita internacional.
Sua morte foi o triste epílogo de uma luta de mais de um ano por médicos e pela esposa, a cantora e compositora paraibana Glorinha Gadelha. Seu corpo foi velado no Parque das Acácias e sepultado ali mesmo, numa despedida que reuniu familiares, amigos, músicos e milhares de pessoas de várias gerações.
Ele havia nascido em 26 de maio de 1930, em Itabaiana, numa família de pequenos agricultores e sapateiros. Albino, não podia trabalhar muito tempo debaixo de sol, o que abriu espaço para outra rotina. Mais tarde misturaria choro, frevo, baião, forró, jazz, blues e música de concerto com naturalidade.
Em 2006, o ano de sua morte, há três morando em João Pessoa e trabalhando muito, lançou o projeto Sivuca Sinfônico, pela gravadora Biscoito Fino, ao lado da Orquestra Sinfônica do Recife, registrando sete arranjos orquestrais próprios e abrindo mais uma frente para a sanfona em ambiente erudito.
Poucos meses antes de falecer recebeu do Ministério da Cultura a Ordem do Mérito Cultural, reconhecimento oficial de uma importância que o meio musical já lhe atribuía havia décadas. “Eu me considero um músico de jazz. Mas jazz à nossa maneira. Sou um músico urbano”, resumiu-se certa vez em entrevista ao O Globo.
A Paraíba se reconhece em Sivuca como filho ilustre e o Brasil o reverencia. No exterior, seu nome continua a circular em reedições, pesquisas e discos de parceiros que guardam o arranjo de Pata Pata, os encontros com o jazz, a imagem do sanfoneiro albino de cabelo em juba que fez da sanfona um idioma capaz de conversar com praticamente qualquer tradição musical do planeta.
Sivuca é uma glória paraibana e brasileira que deve ser lembrada sempre.
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PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. Sivuca - Memória Paraibana
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PINTO DO ACORDEON – O SANFONEIRO RAIZ; Rui Leitao

Publicado no jornal A UNIÃO edição de hoje

PINTO DO ACORDEON – O SANFONEIRO RAIZ

Francisco Pereira de Lima, paraibano nascido em 18 de novembro de 1948, na cidade de Conceição, adotou em vida o nome artístico de Pinto do Acordeon. Era um artista completo, instrumentista, compositor, cantor e exímio contador de causos. Desde a infância se interessou pela música, quando já morava em Patos, cidade que o adotou como filho. No entanto, seu primeiro instrumento não foi o acordeon, mas sim a tuba, ao tempo em que fazia parte da banda de música municipal. Mas, também, tocou pandeiro, antes de se tornar o grande sanfoneiro que o Brasil conheceu. Segundo ele próprio relata: “Eu tocava uma sanfona emprestada durante a noite, enquanto o dono da sanfona que estava hospedado na casa do meu pai estava a dormir”.

Passou a ser conhecido a partir das apresentações integrando a trupe de Luiz Gonzaga. Daí em diante iniciou sua brilhante carreira artística, tornando-se um ícone da música regional. Gravou seu primeiro LP solo em 1976, quando lançou a canção “Arte Culinária”, em parceria com Lindolfo Barbosa, e que fez grande sucesso com o Trio Nordestino. Em seguida, gravou outros LPs: “As Filhas da Viúva”, em 1980, “O Rei do Forró Sou Eu”, em 1994, além dos CDs: 20 anos de estrada, De língua, Forró Cocota, Me botando pra roer, Projeto divino, Eco nordeste, Vem viver essa paixão, Deixa o dia clarear; Sertanejo, entre outros. Ao longo de sua carreira compôs 280 obras e gravou 486 músicas de vários compositores, dentre eles Genival Lacerda, Trio Nordestino, Os 3 do Nordeste, Fagner, Dominguinhos e Elba Ramalho. A canção “Neném Mulher”, uma das trilhas da novela “Tiêta”, da Rede Globo de Televisão, fez enorme sucesso nacional, em 1989.
Em 2008, se apresentou no grande Festival de Montreux, na Suíça, junto com outros artistas brasileiros, entre os quais Gilberto Gil, Elba, Milton Nascimento, Chico César, Flávio José e outros. A história de sua vida artística está narrada no documentário “O Brasil da Sanfona”, produzido pelo cineasta Sergio Rozemblit, com depoimentos de mais de 50 sanfoneiros. Foi também biografado pelo pesquisador do forró, desembargador Onaldo Rocha de Queiroga, no livro “Por Amor ao Forró – Pinto do Acordeon”. Durante o ano de 2010 apresentou na Rádio Tabanajara FM, o programa “Humor e Forró, com Pinto e Piancó”. Atuou, também na política como vereador eleito em João Pessoa, para o mandato de 1993 e 1997. Em setembro de 2019, a Secretaria de Estado da Cultura lhe concedeu o título de “Mestre das Artes Canhoto da Paraíba”.

Declarava que sempre se espelhou em Luis Gonzaga, de quem ouviu a afirmação: “Se não tiver a voz de vaqueiro, não tem voz apropriada para cantar forró”. E contava como viu pela primeira vez o famoso Rei do Baião. ”Quando ele foi tocar em Conceição, a primeira vez, ele estava se apresentando em um Grupo Escolar, e a gente moleque tudo em cima do telhado das casas, para assistir ele, não se tinha dinheiro para pagar. Foi quando Gonzaga disse lá do palco, – Olhe molecada vocês tudinho aí, amanhã vai ter um show de graça em praça pública, vou tocar no meio da rua para vocês que não tem condições de pagar”.
Morreu em 21 de julho de 2020, aos 72 anos, no Hospital da Beneficência Portuguesa em São Paulo, vitimado por um câncer de bexiga, problemas renais e diabetes. Nos últimos anos de vida teve que amputar uma das pernas, mas nunca perdeu seu espírito alegre, sempre bem humorado e compondo as canções que formaram a sua admirável obra artística. Na homenagem póstuma que lhe prestou, seu biógrafo Onaldo de Queiroga, afirmou: “Pinto não se foi. Ele estará sempre presente nas lembranças de suas canções, seus causos, sua alegria, seu humor contagiante, sua sanfona, sua voz forte de um sertanejo, nas letras abordando temas diversos e na amizade que se eterniza. Um artista diferenciado e um dos mais autênticos herdeiros musicais do Rei do Baião. Um amigo na essência da palavra. Como ele costumava dizer : o artista nunca morre e na sua cova nascerá um pé de flor. Deus esteja com você”.

www.reporteriedoferreira.com.br   Rui Leitão- advogado, jornalista, poeta, escritor