REPÓRTERES POLICIAIS Por Glvan de Brito

REPÓRTERES POLICIAIS Por Glvan de Brito
Nas redações dos jornais onde trabalhei nos meus 55 anos de jornalismo, constatei que os repórteres policiais eram as figuras mais curiosas da profissão, onde cada um tinha características próprias, uns pela forma outros pelo conteúdo, fugindo dos padrões. No jornal O Norte, nas décadas de 70 a 90, havia um competente repórter, chamado Juarez Felix, que se sustentou no batente até a terceira idade. Juarez era uma figura interessante: tinha a cara fechada, parecendo que estava sempre irado ou aborrecido com alguma coisa.
Quem olhasse para ele, na redação, não queria conversa. Imaginava logo tratar-se de um tipo inabordável. Isso pela forma como encarava as pessoas, com a cara de poucos amigos. Por conta dessa cara de mau humor permanente ganhou o apelido de “Juarez Bute” entre os mais íntimos (a expressão “deu o bute”, no dicionário popular, significa: quando há um acontecimento inesperado). Juarez, porém, era a melhor pessoa do mundo, incapaz de intimidar ou aborrecer qualquer ser humano, e demonstrava isso quando encontrava um amigo ou um colega na rua, onde conversava alegre e até ria, pelo canto da boca.
As aparências enganavam aqueles que pensavam diferente.
No Correio da Paraíba fui colega de outro repórter policial, chamado José de Sousa, capaz de levar ao fim do dia, quantidade insuperável de notícias do setor. Não mostrava, porém, o aprimoramento da redação. Suas matérias passavam, sempre, pela revisão de Frank Ribeiro, por conta das repetições de palavras e de contradições.
Ele escrevia rápido e nunca revisava nada daquilo que colocava no papel. Certa vez, entre as matérias que entregara ao editor da cidade, Bosco Gaspar, havia uma curiosidade: a notícia se referia a um acidente entre um veículo e um poste, no centro da cidade, causando ferimentos no motorista, e ao fim informava que o poste havia sido recolhido ao Hospital de Pronto Socorro (que ainda existia na rua Visconde de Pelotas) enquanto que a vítima fora conduzida ao depósito do Detran. Bosco chamou-o e pediu confirmação da notícia. Ele leu e em seguida garantiu: “É isso mesmo, só esqueci de dizer que a vítima não sofreu maiores consequências”.
Outro repórter competente do setor policial era Iêdo Ferreira, também do meu tempo. Conhecia todos os delegados, os agentes do Detran, da polícia rodoviária, integrantes da rádio patrulha e policiais civis e militares. Chegava ao jornal pela manhã, sentava-se diante do telefone e começava a colher informações. Quando os repórteres de outros setores estavam saindo para colher as últimas, ele deixava uma pilha de notícias prontas, com Bosco Gaspar, com as ocorrências da noite anterior e as primeiras do dia, até aquele momento. Hoje Iedo Ferreira não trabalha mais em jornal (mesmo porque fecharam (restando apenas A União, que nunca deu bola ao setor policial), mas, para não fugir à tradição foi ser assessor de comunicação, da Central de Polícia, de onde manda, eventualmente, notícias do setor para este Facebook.
REPÓRTERES POLICIAIS Por Glvan de Brito, advogado, jornalista, poeta, escritor.