A GUERRILHA DO ARAGUAIA Por Rui Leitao

Publicado no jornal A UNIÃO edição de hoje

A GUERRILHA DO ARAGUAIA Por Rui Leitao

Liderado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), no período compreendido entre 1967 e 1974, aconteceu, na região do Bico do Papagaio, situada no sul do estado do Pará, na divisa com o Maranhão e Tocantins, um movimento de resistência armado contra a Ditadura Militar, conhecido como a Guerrilha do Araguaia, inspirado em ações guerrilheiras internacionais, como a Revolução Cubana. Objetivava instaurar um regime socialista no país. Os comunistas brasileiros acreditavam que a guerrilha rural seria a forma mais eficaz de combater a ditadura e promover uma mobilização na população camponesa em favor de uma revolução socialista.

O governo militar, buscando eliminar os guerrilheiros, organizou diversas operações, das quais três conseguiram ganhar destaque: 1. A Operação Papagaio, realizada em abril de 1972, envolvendo cerca de três mil soldados, que pretendia mapear a área ocupada e neutralizar focos de resistência. Não conseguiu alcançar esses objetivos, em razão da falta de conhecimento da região e por terem subestimado a capacidade dos guerrilheiros; 2. A Operação Marajoara, empreendida em 1973, liderada pelo major Sebastião Rodrigues de Moura, o Major Curió, atuando com um número maior de tropas e de forma mais agressiva, com cerca de 10 mil homens espalhados em bases montadas em fazendas e roças, realizando emboscadas, inclusive em casas de moradores locais; 3. Operação Limpeza, em 1974, utilizando táticas extremamente repressivas e que resultaram na eliminação dos últimos grupos de resistência, matando e capturando a maioria dos guerrilheiros. A população masculina das localidades onde a Guerrilha atuava, foi presa em quase sua totalidade. Casas, paióis e pontos comerciais foram destruídos. A terceira operação foi decidida a partir da constatação do fracasso das duas primeiras, obrigando a que as Forças Armadas montassem um verdadeiro aparato de guerra, sob o comando do general Orlando Geisel.

O major Curió, em entrevista concedida ao jornal O Estado de São Paulo, em 2009, revelou a política de extermínio dos governos Médici e Geisel, declarando que naquele conflito o Exército executou 41 pessoas. 61 combatentes, dos que estavam na selva, nunca mais apareceram. Mesmo acusado em sete processos por assassinatos de dez opositores da ditadura, duas por sequestro e cárcere privado e um por falsidade ideológica, o major Curió foi eleito deputado federal pelo Pará, em 1982, e prefeito de Curionópolis, no Pará, em 2000.

As graves violações dos Direitos Humanos, como torturas, execuções sumárias e desaparecimentos forçados, produziram forte repercussão no país, fazendo com que fossem exigidas investigações posteriores para responsabilizar os envolvidos, num esforço para reparar os danos causados pela repressão e proporcionar justiça às vítimas e suas famílias. Na década de 90, quatro expedições buscaram ossadas dos que morreram durante os combates. Mas apenas 2 corpos foram encontrados e reconhecidos. Arquivos foram queimados e restos mortais de guerrilheiros foram movidos e escondidos para dificultar tanto a localização, quanto a identificação. Em junho de 2009 foi concedida a anistia política com indenizações financeiras a 44 camponeses. Porém, nenhum militar foi julgado pelos crimes cometidos durante a Guerrilha do Araguaia.

O ex-deputado federal José Genoino, um dos guerrilheiros sobreviventes, ao ser entrevistado sobre o tema, assim se manifestou: “O Araguaia é um exemplo, assim como outras rebeliões do Brasil, que além de ser eliminada a ferro, sangue e fogo, tem a memória eliminada. A verdade incomoda. A memória incomoda. O passado não passa”.

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