Comandantes das Forças Armadas pedem demissão em protesto contra Bolsonaro

Pela primeira vez na história, os três comandantes das Forças Armadas pediram renúncia conjunta por discordar do presidente da República.

Todos reafirmaram que os militares não participarão de nenhuma aventura golpista, mas buscam uma saída de acomodação para a crise, a maior na área desde a demissão do então ministro do Exército, Sylvio Frota, em 1977 pelo presidente Ernesto Geisel.

Na manhã desta terça, Edson Leal Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica) colocaram seus cargos à disposição do general da reserva Walter Braga Netto, novo ministro da Defesa.

Braga Netto tentou dissuadi-los de seguir o seu antecessor, o também general da reserva Fernando Azevedo, demitido por Jair Bolsonaro na segunda-feira (29), que também estava na reunião.

Houve momentos de tensão na reunião, segundo relatos. Com efeito, na nota emitida pelo Ministério da Defesa, é dito que os comandantes serão substituídos —e não que haviam pedido para sair.

É uma forma de Bolsonaro asseverar autoridade em um momento conturbado, evocando princípio de hierarquia. Ao mesmo tempo, evitar amplificar a crise.

Na reunião, segundo relatos feitos à Folha, o comandante da Marinha teve um momento de exaltação com o novo ministro da Defesa, Braga Netto. Insatisfeito com a demissão de Azevedo, o almirante apontou que a mudança pode gerar apreensão no país e que afeta a imagem das Forças Armadas.

A tendência hoje é a de que seja indicado o atual secretário-geral do Ministério da Defesa, almirante Garnier Santos, para o comando da Marinha, e o comandante militar do Nordeste, general Marco Freire Gomes, para o comando do Exército. Para a Aeronáutica, ainda não há um nome definido.

A nomeação de Freire Gomes, no entanto, enfrenta forte resistência nas Forças Armadas, uma vez que há seis generais quatro estrelas mais antigos que ele na hierarquia militar. A cúpula militar do Palácio do Planalto tem tentado convencer o presidente a escolher outro nome.

Há reverberações. Generais do Alto-Comando do Exército afirmaram que a pressão pela saída de Pujol vai alienar ainda mais Bolsonaro da Força, o contrário do movimento proposto.

O mal-estar pelo anúncio inesperado da saída de Azevedo, que funcionava como pivô entre as alas militares no governo, o serviço ativo e o Judiciário, foi grande demais.

O motivo da demissão sumária do ministro foi o que aliados dele chamaram de ultrapassagem da linha vermelha: Bolsonaro vinha cobrando manifestações políticas favoráveis a interesses do governo e apoio à ideia de decretar estado de defesa para impedir lockdowns pelo país.

O presidente falou publicamente que “meu Exército” não permitiria tais ações. Enquanto isso, foi derrotado no Supremo Tribunal Federal em sua intenção de derrubar restrições em três unidades da Federação, numa ação que não foi coassinada pelo advogado-geral da União, José Levi —ajudando a levar à sua queda, também na segunda.

Enfrentar medidas de governadores para tentar restringir a circulação do novo coronavírus, que já matou 310 mil pessoas, é a obsessão do presidente desde que ele capitulou ante o governador João Doria (PSDB-SP) e abraçou a causa da vacinação.

As restrições têm menos apoio popular do que a imunização, e o presidente acredita que lockdowns e afins dificultarão ainda mais seus planos de reeleição pelo natural efeito negativo na economia. Sua popularidade vem em queda.

Ele chegou a comparar as medidas a um estado de sítio, uma impropriedade, mas só a referência a um instrumento de exceção levou o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, a questionar suas intenções.

Em reuniões na segunda, segundo interlocutores, os três comandantes concordaram que seria importante fazer uma transição pacífica e controlada, com consenso sobre os nomes dos substitutos.

Há o temor de agitação nos quartéis, até porque nesta quarta (31) serão completados 57 anos do golpe que deixou os militares mais de duas décadas no poder, até 1985. A palavra de ordem é acalmar os ânimos.

A lembrança do episódio de Frota em 1977 é viva na cabeça dos oficiais-generais, todos formados em turmas em anos próximos.

Mas há diferenças: vivia-se uma ditadura em abertura por Geisel, e Frota se opunha a isso. Além do mais, ele era ministro —a pasta da Defesa só viria a ser criada em 1999, e ficou com civis à sua frente até 2018. O ministério, aliás, se acostumou com crises: 5 de seus 12 titulares até aqui saíram de forma conturbada.

Os comandantes se encontraram com Azevedo nesta manhã, na Defesa. Braga Netto conversou com eles na sequência.

Todos eles são mais antigos do que o ministro, jargão militar para dizer que se formaram em turmas anteriores à dele. Isso tem um peso grande no esquema hierárquico das Forças.

O mais agastado era Pujol, desafeto de Bolsonaro desde o ano passado, por divergências na condução do combate à pandemia: enquanto o presidente adotava uma agenda negacionista, o general lhe ofereceu o cotovelo em vez de um aperto de mão.

O presidente tentou removê-lo do comando, sem sucesso por falta de apoio de Azevedo. Recentemente, cobrou uma posição crítica ao Supremo Tribunal Federal devido à restauração dos direitos políticos de Luiz Inácio Lula da Silva.

Azevedo e Pujol não repetiram o ex-comandante Eduardo Villas Bôas, que gerou celeuma ao pressionar a corte em 2018 a não conceder um habeas corpus ao ex-presidente, o que abriu caminho para seus 580 dias de prisão.

Pujol também foi duro ao dizer claramente que os militares tinham de ficar fora da política, no fim de 2020. A insatisfação do serviço ativo com a gestão do general Eduardo Pazuello, que não foi à reserva, à frente da Saúde foi outra fonte de estresse.

O trabalho de Braga Netto agora será acertar uma acomodação de nomes. Para Marinha e Aeronáutica, Forças de menor peso relativo, a sucessão deverá ser menos nevrálgica do que no Exército.

Ambas as Forças estão reunidas nesta tarde de terça para discutir os nomes a serem indicados para Braga Netto.

Em reunião na noite de segunda, o Alto-Comando da Força elencou os nomes à mesa, todos os mais longevos com quatro estrelas sobre os ombros.

A partir desta quarta (31), o mais longevo será José Luiz Freitas (Operações Terrestres), que irá à reserva em agosto. O mais antigo, Decio Schons (Departamento de Ciência e Tecnologia), deixa a ativa neste dia.

O segundo mais antigo é o chefe do Estado-Maior, o número 2 da hierarquia, Marco Antônio Amaro dos Santos. Ele trabalhou com Dilma Rousseff (PT), o que dificulta suas chances.

Mais obstáculos se colocam para o terceiro, Paulo Sérgio (Diretoria de Pessoal, que cuida da saúde dos fardados). Ele concedeu uma entrevista elencando as medidas restritivas que fizeram o Exército ter um índice de contaminação muito menor do que o da população, irritando o presidente.

Laerte Souza Santos (Comando Logístico) é o próximo da lista, mas era chefe do general Eugênio Pacelli, que perdeu o cargo após ter portarias de controle de armas derrubadas por ordem de Bolsonaro.

O próximo na fila é o comandante do Nordeste, Marco Antônio Freire Gomes.

Todos são próximos de Pujol, mas Freire Gomes tem simpatia no Palácio do Planalto por ter seguido uma carreira muito próxima à de Luiz Eduardo Ramos (Brigada Paraquedista, Forças Especiais), o general que agora foi para a Casa Civil e é um dos mais antigos amigos de Bolsonaro.

Ele sai como favorito para o lugar de Pujol, portanto. O fato de não ser o mais antigo não é impeditivo: já houve outros comandantes que foram escolhidos na mesma condição.

MINISTROS MILITARES DE BOLSONARO

Casa Civil
Luiz Eduardo Ramos, general da reserva do Exército

Defesa
Walter Souza Braga Netto, general da reserva do Exército

Gabinete de Segurança Institucional
Augusto Heleno, general da reserva do Exército

​Ciência e Tecnologia
Marcos Pontes, tenente-coronel da reserva da Aeronáutica

Minas e Energia
Bento Albuquerque, almirante da Marinha

Infraestrutura
Tarcísio de Freitas, capitão da reserva do Exército

Controladoria-Geral da União
Wagner Rosário, capitão da reserva do Exército

MILITARES QUE JÁ FORAM MINISTROS OU OCUPARAM POSIÇÕES DO ALTO ESCALÃO DO GOVERNO

Secretaria de Governo
Carlos Alberto dos Santos Cruz, general da reserva do Exército

Porta-voz da Presidência da República
Otávio do Rêgo Barros, general da reserva do Exército

Ministério da Defesa
Fernando Azevedo e Silva, general da reserva do Exército

Ministério da Saúde
Eduardo Pazuello, general de divisão do Exército

Secretaria-Geral da Presidência
Floriano Peixoto, general da reserva do Exército

Secretário especial do Esporte do Ministério da Cidadania
Décio Brasil, general da reserva do Exército

Presidente do Incra
João Carlos Corrêa, general da reserva do Exército

Presidente dos Correios
Juarez Cunha, general da reserva do Exército

Presidente da Funai
​Franklimberg Freitas, general da reserva do Exército


SÃO PAULO e BRASÍLIA

Por Igor Gielow, Vinicius Sassine, Gustavo Uribe | Folha de São Paulo




Americanos seguem onda de protestos e derrubam estátuas nos EUA

Ações de ativistas ocorrem meio a várias manifestações pelo mundo inteiro após a morte de George Floyd por um policial branco em Minnesota

Por iG Último Segundo 

Estátua de Jefferson Davis tombada com policial em pé ao lado dela

Reprodução/Twitter @BlueJayKay5

Estátuas tem sido derrubadas ao redor do mundo em atos revisionistas

Os americanos seguem no onda de protestos antirracismo após a morte de George Floyd , 46, pelo policial branco Derek Chauvin no dia 25 de maio. Em um novo episódio das manifestações na noite desta quarta-feira (10), grupos de ativistas derrubaram a estátua de Jefferson Davis  em Richmond, no estado da Virgínia.

Davis foi um personagem importante da história dos Estados Unidos (EUA) e presidiu o Exército Confederado, que defendia a manutenção da escravidão na Guerra Civil Americana (1861-1865).

Sua estátua já tinha sido alvo de discussões em âmbito municipal, mas, dessa vez, os manifestantes derrubaram o monumento em antecipação ao projeto de lei que o prefeito de Richmond, Levar Stoney, disse que apresentaria em 1º de julho. O projeto iria propor a remoção de quatro monumentos que homenageiam os confederados em uma das principais avenidas da cidade.

“Richmond não é mais a capital da Confederação —está cheia de diversidade e amor por todos— e precisamos demonstrar isso”, disse Stoney por meio de comunicado.

Também em Richmond, na terça-feira (9), uma estátua de Cristóvão Colombo foi derrubada, incendiada e jogada em um lago.

Em todos os EUA, pelo menos dez monumentos que homenageam os confederados e outras figuras históricas controversas foram removidos. Segundo o jornal americano The New York Times, estátuas e memoriais também estão sendo questionados em mais de 20 cidades americanas

www.reporteriedoferreira.com.br Por Ig




Brasil tem manifestações em várias cidades; veja quais

Atos contra e a favor do governo Bolsonaro tomam cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Fortaleza, mas descumprem isolamento social

Por iG Último Segundo  – Atualizada às 

ato sp

Guilherme Gandolfi/Fotos Públicas

Manifestações como a de São Paulo ocorreram em outras cidades do País

O domingo (7) foi marcado no Brasil por manifestações de rua pró e contra o governo Bolsonaro em diversas capitais. Elas acontecem contrariando as orientações de isolamento social recomendado por diversos estados e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Em São Paulo, ocorreram manifestações tanto a favor do presidente , na avenida Paulista como contra Bolsonaro, a favor da democracia e antirracista . Ambas contrariam o isolamento social. Segundo o Ministério da Saúde, apenas no sábado (6), 216 mortes por Covid-19 e 5.984 casos foram registrados em 24 horas.

Veja outras capitais.

Brasília

Na manhã deste domingo (7), manifestantes contra o racismo, o fascismo, a favor da democracia e críticos do governo federal protestaram na capital do País. A manifestação teve início em torno de 9h e depois percorreu a Esplanada dos Ministérios.

Ao chegar à praça em frente o Congresso Nacional , o grupo encontrou um cordão de isolamento formado por policiais militares. Eles separavam os manifestantes de outro protesto mas a favor do governo de Jair Bolsonaro.

No primeiro grupo, as pessoas usavam máscaras e distribuíam álcool em gel. Elas defendiam a democracia e o Sistema Único de Saúde (SUS). Eles também carragem cartazes com os dizeres “Vidas negas importam”.

O Distrito Federal registrou 1.642 novos casos e 6 óbitos no último sábado (6).

Fortaleza

Na capital do Ceará, 12 pessoas foram detidas durante a manifestação pró democracia na tarde deste domingo. A tensão ocorreu por volta de 16h30 e entre os detidos estava o jornalista e ativista Ari Areia (Psol). As pessoas detidas já foram liberadas pela polícia local.

A Polícia Militar tentou manter a manifestação em uma praça do bairro de Aldeota, mas algumas pessoas tentaram furar o bloqueio da polícia militar. Advogados presentes negociaram a liberação dos detidos.

Segundo a última divulgação do Ministério da Saúde, no Ceará, 75 pessoas morreram de Covid-19 e 1.980 novos casos foram registrados em 24 horas.

Rio de Janeiro

Na capital carioca também ocorreram manifestações dos dois grupos. O estado do Rio de Janeiro registrou 166 mortes e 1.467 novos casos em 24 horas de acordo com a última divulgação do governo.

No centro da cidade, na parte da tarde deste domingo (7), um protesto contra o racismo  ocorreu. Os manifestantes caminharam do monumento de Zumbi dos Palmares até a Candelária .

Torcidas de futebol antifascistas participaram. Os manifestantes, que usavam máscaras para evitar o contágio da Covid-19 , lembravam casos como a morte do menino João Pedro e  de Marielle Franco.

www.reporteriedoferreira.com.br Por Ig




Policiais envolvidos na morte de George Floyd têm acusações ampliadas

Policial foi filmado com o joelho sobre o pescoço de George Floyd — Foto: AFP/Facebook / Darnella Frazier

Policial foi filmado com o joelho sobre o pescoço de George Floyd — Foto: AFP/Facebook / Darnella Frazier

O ex-policial Derek Chauvin, filmado com o joelho sobre o pescoço de George Floyd, teve sua acusação aumentada para homicídio em segundo grau (assassinato intencional não premeditado, quando o autor tem intenção de causar danos corporais à vítima) pelo promotor-geral de Minnesota, Keith Ellison.

Além disso, os três demais policiais que também participaram da ação com ele serão detidos e receberam acusações de ajudar e favorecer homicídio em segundo grau, segundo o advogado da família Floyd, Benjamin Crump. Thomas Lane, J. Kueng e Tou Thao tinham sido demitidos, mas não foram presos nem acusados anteriormente.

 tinha sido preso e acusado de homicídio culposo (sem intenção de matar) e assassinato em terceiro grau (quando é considerado que o responsável pela morte atuou de forma irresponsável ou imprudente).

Derek Chauvin, acusado pela morte de George Floyd, em foto cedida pela prisão do Condado de Hennepin  — Foto: Handout/Hennepin County Jail/AFP

Derek Chauvin, acusado pela morte de George Floyd, em foto cedida pela prisão do Condado de Hennepin — Foto: Handout/Hennepin County Jail/AFP

A familia de Floyd afirmava que a acusação não era suficiente e pedia que fosse ampliada para homícidio em primeiro grau (com a intenção de matar) e que os colegas de Chauvin também fossem acusados.

Segundo o advogado da família, Benjamin Crump, as novas acusações são um “momento agridoce”, já que, apesar da tristeza pela morte, eles se sentem gratos pela ampliação. Ainda de acordo com Crump, o promotor afirmou que, caso existam evidências que justifiquem, a acusação de Chauvin ainda pode ser elevada a homicídio em primeiro-grau.

Embora apenas Chauvin apareça no vídeo, com o joelho sobre o pescoço de Floyd, Lane, Kueng e Thao também ajudaram a imobilizar a vítima, segurando o corpo do ex-segurança.

George Floyd morreu em 25 de maio após ser filmado com o pescoço prensado pelo joelho de Chauvin em Minneapolis. O ex-segurança, que era negro, foi alvo da operação policial por supostamente tentar pagar uma conta em uma mercearia com nota falsa de US$ 20, segundo a imprensa norte-americana.

A ação durou mais de oito minutos, e Floyd repetiu que não conseguia respirar, até que ficou inconsciente.

Quincy Mason Floyd (direita) se emociona ao visitar o local onde o pai, George Floyd, morreu, em Minneapolis, ao lado do advogado de sua família, Ben Crump, na quarta-feira (3) — Foto: Kerem Yucel/AFP

Quincy Mason Floyd (direita) se emociona ao visitar o local onde o pai, George Floyd, morreu, em Minneapolis, ao lado do advogado de sua família, Ben Crump, na quarta-feira (3) — Foto: Kerem Yucel/AFP

Causa da morte

A autópsia inicial, apresentada pela cidade de Minneapolis, afirmava que não havia “nenhum achado físico que suporte o diagnóstico de asfixia traumática ou estrangulamento”.

Porém, dois novos laudos de autópsias declararam que a morte de Floyd foi um homicídio causado por asfixia.

Uma delas foi divulgada pela família de Floyd, que contratou um legista independente. Segundo advogados, o exame apontou que a compressão do joelho policial sobre o pescoço cortou o fluxo de sangue para o cérebro do ex-segurança. Além disso, o peso sobre as costas da vítima dificultou sua respiração.

A segunda, assinada pelo departamento legista do Condado de Hennepin, afirma que o ex-segurança morreu por “parada cardiopulmonar agravada pela compressão do pescoço a que foi submetido enquanto estava restrito pelo agente da lei”.

Protestos

A ação policial que culminou na morte de Floyd foi filmada e as imagens geraram revolta e protestos que se espalharam por todos os EUA e pelo exterior. Diversas cidades chegaram a decretar toque de recolher e acionaram a Guarda Nacional para tentar conter os distúrbios, e mais de 9 mil pessoas foram detidas.

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