Publicado no jornal A UNIÃO edição de domingo
A PERSEGUIÇÃO AOS SINDICALISTAS BANCÁRIOS
Em 31 de maço de 1964 estoura o golpe que instalou no Brasil uma ditadura militar, afetando fortemente o movimento sindical. As entidades que representavam os trabalhadores brasileiros foram um dos principais alvos da perseguição do novo regime. Centenas delas sofreram intervenção governamental. Com a instalação da presidência golpista, entregue ao General Castelo Branco, se iniciou uma série de perseguições contra os trabalhadores e movimentos sociais de esquerda. Estabelecia-se um estado autoritário.
João Fragoso, então secretário do Sindicato dos Bancários da Paraíba, conta que: “na noite do golpe a gente estava reunido no sindicato, comandado por Luis Hugo, discutindo um problema que tinha havido com um delegado sindical de Alagoa Grande. Então chegou um irmão de Osmar de Aquino, e deu a notícia que o exercito tinha interrompido um comício em Cruz das Armas, quando foi encaminhado ao DOPS, um bancário do Banco Industrial da Paraíba, Boanerges Temóteo, permanecendo preso lá por uma semana. O delegado Silvio Neves o torturou tanto que ficou inutlizado, quebrou um braço e de lá saiu para um manicômio e rompeu os pontos de uma cirurgia de amígdalas que havia feito. Um dos companheiros da prisão, Guilherme Rabay conseguiu me enviar uma mensagem e fui visitá-lo alguns dias depois”.
Ao tomarem conhecimento do golpe, Fragoso, Aragão e Fernando Melo, decidiram ficar de plantão na sede do Sindicato que funcionava na Rua Eliseu César. Ao contrário do que declarou a Polícia, justificando a intervenção, a diretoria não abandonou o Sindicato, pois de lá foram expulsos. Luiz Hugo estava foragido. Passou os primeiros dias escondido na casa de um amigo. Foi incluído na primeira lista de cassação de direitos políticos por dez anos, na edição do Ato Institucional número 1. Em abril de 1964 foi transferido, com mais quatro companheiros para a Ilha de Fernando de Noronha, ficando lá até o mês de junho, onde dividiu espaço com Miguel Arraes, governador cassado de Pernambuco. Mas foi novamente preso em 25 de julho, em virtude da reabertura do Inquérito de Subversão pelo Major Cordeiro do 15 RI. Em setembro foi demitido do emprego de professor da UFPB.
Porém, antes desse episódio do fechamento do Sindicato, Fragoso relata: “fui procurado por minha irmã, Maria Madalena Fragoso, assistente social, casada com um sargento do exercito, que me mostrou uma carta assinada por 20 sargentos dispostos a resistir, contanto que Luis Hugo fosse o comandante, o líder. Procurei fazer contato com sua esposa Laís Peixoto e foi marcado um encontro na esquina da Rua Gama e Melo com a Avenida Almirante Barroso. Todos esperançosos de que desse certo. Ele leu a carta e disse: não tem mais jeito. Jango já saiu do Brasil. Ele leu e rasgou. Jogou os pedacinhos para o vento levar. Luis Hugo nunca falou sobre isso para preservar os resistentes”
Outro bancário a ser preso foi Derly Pereira, funcionário do Banco do Nordeste do Brasil, que viria a ser presidente do Sindicato dos Bancários da Paraíba anos depois. Quando ocorreu o golpe trabalhava em Fortaleza, mas dois meses depois foi transferido para o 15 RI na capital paraibana e depois levado para Recife, em Pernambuco, onde ficou por dois meses no CPOR, em Casa Forte. Foi demitido do Banco. Ao ser solto, passou a dar apoio a organizações que aderiram à luta armada, sendo preso em São Paulo e trazido de volta para Fortaleza.
Assim registrou Luiz Hugo Guimarães os acontecimentos que envolveram os sindicalistas na Paraíba: “O Golpe de 1964, para todos nós atingidos, continuou por longos 21 anos, com toda sorte de discriminação, marginalização, perseguição. Foram anos difíceis, em que muitos se tresmalharam nos caminhos, foram presos, massacrados, desajustaram-se, entraram na clandestinidade permanente, amargaram o exílio, tiveram os lares destroçados, morreram. Não é fácil contar isso tudo sem ódio e sem rancor. Esquecer, ninguém esquece”.
Rui Leitão- advogado, jornalista, poeta escritor