MÚSICA DA PARAÍBA, HOJE; Escrito Por Gilvan de Brito – Jornalista, advogado e escritor.
“Quem te viu e quem te vê”, é um sintagma que se aplica muito bem à Música da Paraíba, Hoje. Existe música da Paraíba hoje? A música que marcou presença foi a do passado, que vale a pena lembrar como uma das mais divulgadas, aplaudidas e executadas no Brasil e no mundo, nas décadas de 70 e 80 do último século. Tanto pela qualidade quanto pelo entusiasmo das letras e das músicas, pontuais. A Paraíba é um caso raro no tratamento de seus artistas: morde e assopra. No fim da década de 60, Zé Ramalho veio do sertão, empolgado, com os alforjes cheios de belas composições, e certo de que poderia abafar, marcou um show no teatro Santa Rosa. Nove espectadores compareceram à casa de espetáculos, cinco pagaram. A sua reação mostrou a indignação de um artista que sabia de sua competência e de sua superioridade: virou-se para os objetos de cena, do palco, e destruiu uma TV, daquelas antigas, de enormes tubos de imagens, e cancelou a apresentação. No meio do sentimento de cólera, tomou uma decisão: foi-se para o Rio de Janeiro, com as mesmas músicas.
Viu e venceu, endeusado e apontado como um dos melhores compositores e autores brasileiros, com o que havia de melhor do nosso cancioneiro popular, expressando e traduzindo a cultura do povo através da música. Naquela altura, Vital Farias já fazia estrondoso sucesso no eixo Rio São Paulo e depois em todo o país, depois que uma música sua serviu de tema à uma novela da TV Globo. Elba Ramalho, que vinha patinando na música da Paraíba, quando resolveu partir com Luiz Mendonça, Livardo Alves e Anco Márcio, com a peça “Cancão de Fogo”, e antes de terminar o trabalho, no Rio de Janeiro, disse: “aqui é o meu lugar”. Ficou e abafou, constituindo-se numa das maiores intérpretes nacionais durante muitos anos, com uma voz inconfundível.
Cátia de França, no embalo dos demais, também tentou no Rio de Janeiro, fez shows e marcou sucessos, mas não suportou a distância da Paraíba e voltou e Chico César, com belas canções (ainda resiste, fazendo a ponte com os tempos áureos; Correndo por fora, Livardo Alves, no embalo da “Marcha da Cueca”, liderou as audiências dos festejos carnavalescos durante vários anos, do Rio e São Paulo, além das músicas que marcaram a sua nordestinidade na parceria com Vital Farias e com outros parceiros; Pedro Osmar, com belíssimas composições gravadas por Elba Ramalho. E, ainda, Bráulio Tavares, Antônio Barros e Cecéu, Flávio José, Sivuca, Genival Macedo, Glorinha Gadelha, Marinês, Capilé e Carlos Aranha, vencedor de festivais e autor de belas músicas, o polivalente Dida Fialho, Thadeu Matias. e o regionalismo de Pinto do Acordeom.
Antes destes, o grande compositor e intérprete vencedor de vários festivais do Rio de Janeiro, Geraldo Vandré, cuja biografia eu tive a satisfação de escrever (Não me Chamem Vandré, editora Patmos, 280 p); Jackson do Pandeiro, que mostrou como se marca o ritmo e Zé do Norte, vencedor do prêmio da trilha sonora do filme O Cangaceiro, no festival de Cannes, na França. Não devemos esquecer também de Genival Lacerda, Rosil Cavalcante, Fernando Lélis, Roberto Luna, Jairo Aguiar. Mas havia, ainda, aqueles que se encontravam fora do circuito das grandes gravadoras nacionais, dos velhos Long Plays. Para preencher essa lacuna tive a ideia de produzir um álbum duplo reunindo 29 artistas, entre compositores, autores, arranjadores e intérpretes, nos discos Música da Paraíba, Hoje – 1 e 2 – registrando para a posteridade a música que se fazia na Paraíba entre as décadas de 70 e 80 do século passado, hoje uma relíquia.
Participaram direta e indiretamente do terceiro grande movimento da música local, intitulado Música da Paraíba, Hoje: Adelino, Alarico Correia Neto, Alexandre Brito, Ari, Babí, Boto, Bráulio Tavares, Cacá Ribeiro, Carlos Aranha, Carlos di Carlo, Chico César, Chico Mendes, Clementino Lins, Dida Fialho, Elias D´Angelo, Eudes Henrique, Eugênio Cavalcante, Fernando Teixeira, Fubá, Gilvan de Brito, Golinha, Hélio Ricardo, Huguinho, Isa Y Plá, Jailson, Janduhy, Janjão, Jarbas Mariz, João Lira, Jorge Negão, José Ariosvaldo, José Cabral, Léo Almeida, Livardo Alves, Lúcio Lins, Lugmar Medeiros, Mário José Pessoa, Mário Lins, Marquinhos Aguiar, Milton Dornelas, Mozart, Nell Blue, Neném Xavier, Nido, Nino da Flauta, Parrá, Paulo Batera, Paulo Paiva, Paulo Ró, Pedro Osmar, Roberto Araújo, Roberto Gabínio, Rubinho, Sérgio Túlio, Sílvio Osias, Unhandeijara Lisboa, Vasconcelos, Waldo do Vale, Walter Galvão, Zé da Flauta, Zé da Viola e Zewagner.
Este despretensioso ensaio sobre a música paraibana destaca a atividade musical, preferencialmente, daqueles compositores, autores e intérpretes que ao longo do tempo permaneceram distante das grandes gravadoras, que tolheram suas ações, mas inclui também alguns dos grandes nomes, particularmente com os trabalhos que iniciaram sua vida musical. Assim, procuramos mostrar não apenas aqueles que despontaram nacionalmente na música, mas também os que, por motivos diversos, sofreram a ação predatória das Gravadoras do eixo Rio-S. Paulo, ficando à margem do sucesso ao nível do país. Como veremos, a grande maioria teria chances de despontar no cenário nacional. Por isso procuramos nesta produção de meio século de música, lembrá-los e fazer-lhes justiça perante o tempo, para que no futuro saiba-se como foi a Música da Paraíba, Ontem.
Lembremos também dos participantes do movimento dos festivais, o segundo, da música paraibana, na década de 60: Agápio Vieira, Águia Mendes, Aléssio Toni, Alex Madureura, Ary, Babi, Barreto Neto, Benedito Honório, Bráulio Bronzeado, Bráulio Tavares, Cacá Ribeiro, Carlos Aranha, Carlos Roberto de Oliveira, Chico Mendes, Chico Teotônio, Clementino Lins, CleodatoPorto, Coringa, Costa Neto, D. Martins, Das Bandas da Paraíba, Dida Fialho, Diógenes Brayner, Diógo, Elba Ramalho, Elias D´angelo, Fernando Aranha, Fernando Teixeira, Francisco Zacarias, Fúba, Genival Lacerda, Genival Macedo, Genival Veloso, Gilberto Patrício, Gilson Reis, Gilvan de Brito, Grupo Cabroeira, Huguinho Guimarães, Isa Y Plá, Ivanildo Vila Nova, Jaguaribe Carne, Jairo Aguiar, Jarbas Mariz, Joana Belarmino, João Carlos Franca, João Gonçalves, João Linhares, João Manoel de Carvalho, Jomar Souto, Jorge Negão, José Neves (maestro e compositor), José Rui, Jr. Espínola, Léo Almeida, Lis, Lugmar, Luiz Ramalho, M. Leite, Maestro José Neves, Manoelzinho Silva, Marcos Tavares, Marcus Vinícius, Mário José Pessoa, Marlene Freire, Marquinhos Aguiar, Metalúrgica Felipéia, Milton Dornellas, Moacir Codeceira, Mozart, Natanael Alves, Nell Blue, Neumane Pinto, Nevinha, Nino da Flauta, Oliveira de Panelas, Orquestra de Vilor, Os Quatro Loucos, Pádua Belomont, Parrá, Paulinho Ditarso, Paulo Melo, Paulo Paiva, Paulo Ró, Pepy, Roberto Araújo, Roberto Gabínio, Ronaldo Monte, Rubinho, Rui de Assis, Sérgio Túlio, Shirley Maria, Sindalva, Sônia Maria, Waldo do Vale, Zé Pequeno, Zemaria de Oliveira, Zete Farias e Zewagner.
Depois de Música da Paraíba, Hoje pouco se fez para justificar um quarto movimento da música paraibana. Depois de 1980 sugiram vários intérpretes, instrumentistas, letristas e compositores, que vêm marcando presença na música paraibana, sem que se possa considerar, com honrosas exceções, nestes 32 anos algum movimento aglutinante capaz de lançar nomes além fronteiras, como os anteriores.
A nova geração da música é composta de Adeíldo Vieira, Adeílde Lopes, Ademir Mantovani, Águia Mendes, Alex Madureira, Álice Lumi, Almir do Vale, Altimar Garcia, Anay Claro, Arari, Ariadne Lima, Artur Dionísio, Betinho Muniz, Bob Farias, Byaya, Cacá Santa Cruz, Cassandra Figueiredo, Cachimbinho, Capilé, Carlinhos Cocó, Chikito, Chiquinho Mino, Cícero Caetano, Clementino Lins, Climério, Costinha, Dadá Venceslau, Dario Junior, Dejinha de Monteiro, Déo Nunes, Diana Miranda, Dida Fialho, Dida Vieira, Edinho Arruda, Edmilson Felix, Edson Batera, Eliete Matias, Elisa Leitão, Eric Von Shohsten, Erivan Araújo, Escurinho, Eudimar, Fabíola, Fábio P.C., Fátima Lima, Flávio Boy, Florismar, Fernando Pintassilgo, Francisco Alcântara, Francisco Sobrinho, Geo Ventania, Geraldo Mousinho, Germana Cunha, Gilberto Nascimento, Gilvando Pereira, Gladson Carvalho, Glauco Andreza, Gracinha Teles, Humberto Almeida, Irani Medeiros, Jadir Camargo, Jairo Madruga, Janduhy Finizola, Jeová de Carvalho, Jessé Anderson, Jessé Jel, João Barbosa, João Linhares, João Paulo, João Barbosa, Joca do Acordeão, Jorge Benício, José Francinaldo, José Arimatéia, José Soares, José Neves, Josias Paes, Josiel, Jotinha, Judimar Dias, Junior Natureza, Junior Targino, Kennedy Costa, Lau Siqueira, Leo Meira, Lígia Guerra, Luciene Melo, Luiz Carlos Otávio, Laurente Gomes, Lindevaldo Cipriano, Lis Albuquerque, Lúcio Lins, Luizinho Barbosa, Marder Farias, Marcelo Ferreira, Marcone Barbosa, Marcos Carneiro, Marcos Fonseca, Marcus Milanês, Marcos Tavares, Maúde, Mauro Martins, Mestre Fúba, Mihno Dgil, Milton Dorneles, Mônica Melo, Nanado Alves, Nando Azimute, Nando Santos, Naor Xavier, Natálie Lima, Nau Nunes, Nelson Campos, Nelson Teixeira, Nelson Valença, Neto Guarabira, Osvaldo Nery, Pablo Ramirez, Pádua Belmont, Patrícia Moreira, Paulinho Ditarso, Paulo Barreto, Paulo Batera, Paulo Vieira, Paulo Vinícius, Percival Henrique, Piancó, Pinto do Acordeão, Ranilson Bezerra, Regina Brown, Renata Arruda, Ricardo Anísio, Ricardo Fabião, Rivaldo Dias, Rivaldo Serrano, Ronaldinho Cunha Lima, Rogério Franco, Ronaldo Cavalcante, Ronaldo Monte, Robeldik Dantas, Roberta Miranda, Roberto Ângelo, Roberto Costa, Romero Remígio, Rosildo Oliveira, Ryná Souto, Rubinho Jacob, Samuel Espinoza, Sandoval, Sandra Trajano, Sandoval Moreno, Sandoval de Oliveira, Sandro Pitta, Sandro Targino, Saulo Mendonça, Sérgio Galo, Soraya Bandeira, Tampinha, Tatá Almeida, Tonho Monteiro, Tota Arcela, Totonho, Teínha, Vanine Émery, Walber de Andrade, Walter Galvão, Walter Luís, Walter Santos, Walter Signus, Wandinho Araújo, Wanine, Wilmar Bandeira, Wilson Barreto, Vander Farias, Vavá Dias, Villor Araújo, Virgínia Lombardi, Xisto Medeiros, Yerco Pinto, Zé Badú, Zé Gotinhá, Zé da Viola, Zilma Pinto e Zizi Sanfoneiro, dentre outros.
Muitos dos que pertenceram ao movimento anterior continuaram, como Alberto Arcela, Benedito Honório, Clementino Lins, Chico César, Elias D´angelo, Pedro Osmar, Paulo Ró, Poty Lucena, Rubinho, Fúba agora chamado Mestre Fúba, e Milton Dornelas.
Nestes tempos de pandemia, no qual ficamos em casa sem fazer nada, resolvi escrever este leve ensaio, que por ser um pouco extenso, sei que poucos vão se aventurar a lê-lo. Mesmo assim, fica o registro para a História.