Brasil e China organizam reunião em Nova York sobre proposta conjunta de paz para Ucrânia

Celso Amorim e Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China. – Yue Yuewei/Xinhua

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a China estão organizando uma reunião em Nova York, na semana da Asssembleia-Geral da ONU (Organizações das Nações Unidas), para divulgar a proposta conjunta dos dois países de um plano de paz para a Ucrânia.

O plano foi anunciado em maio, durante uma visita do assessor internacional de Lula, Celso Amorim, a Pequim. O documento foi assinado por Amorim e por Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China.

Ele consiste em seis pontos, entre os quais a realização de uma conferência internacional de paz “que seja reconhecida tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes relevantes”.

“Agora é uma continuação disso, para estender o apoio [à iniciativa] baseado principalmente no Sul Global”, disse Amorim.

Os termos do documento divulgado por Brasil e China em maio foram rejeitados pelo presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e por aliados de Kiev no Ocidente. Em linhas gerais, estes consideram que a abordagem sino-brasileira premia a Rússia e autorizaria o governo de Vladimir Putin a anexar territórios ocupados.

Na semana passada, Zelenski chamou de destrutiva a iniciativa encampada por Brasília e Pequim.

A organização do evento em Nova York está sendo acompanhada de perto pelo Palácio do Planalto. O encontro deve ocorrer na manhã de 27 de setembro, uma sexta-feira.

A relação de governos convidados não foi divulgada, mas, de acordo com Amorim, o foco é o chamado Sul Global [países em desenvolvimento]. Nem Rússia nem Ucrânia —as partes diretamente envolvidas na guerra— integram a lista.

De acordo com Amorim, a expectativa é que entre 15 e 20 países estejam representados no nível ministerial.

Lula já não estará em Nova York no dia da reunião. No caso do Brasil, uma das possibilidades é que Amorim participe ao lado do chanceler Mauro Vieira.

Ao anunciar um plano conjunto com a China, na prática o governo Lula também marcou distância de uma conferência de paz realizada na Suíça em junho.

Nos meses que antecederam o encontro, realizado no complexo hoteleiro de Bürgenstock, em Lucerna, houve intensa pressão do lado suíço para que o Brasil participasse ao menos no nível de chanceler.

No final, Lula escalou apenas uma observadora para o encontro, a embaixadora do país na Suíça, Cláudia Fonseca Buzzi. O governo tampouco endossou a declaração final da conferência de paz, que tratava o conflito como uma guerra “da Federação Russa contra a Ucrânia” que continua a causar “sofrimento humano e destruição em larga escala”.

Amorim vê o processo de paz suíço como o desfecho de uma série de conferências iniciadas em 2023 em Copenhague que, na prática, repetiram uma fórmula de paz proposta por Zelenski. Isso contribuiu para o fracasso do processo, na visão do assessor internacional.

Antes mesmo de assumir seu terceiro mandato, Lula tinha planos de exercer um papel de mediador na guerra iniciada em 2022.

O petista deu nos primeiros meses de governo uma série de declarações que foram criticadas nos Estados Unidos e na Europa por serem, na visão desses países, pró-russas.

Ele atribuiu igual responsabilidade a Putin e Zelenski pelo início da guerra e, num dos momentos mais tensos da sua relação com os EUA, chegou a declarar que os americanos incentivavam o conflito.

Com o passar o tempo, o assunto perdeu importância na agenda de Lula e foi menos abordado em discursos. A iniciativa de Amorim em Pequim recolocou a guerra da Ucrânia em posição de destaque.

Na segunda-feira (16), o presidente voltou a tratar da guerra durante discurso na formatura do Instituto Rio Branco, a escola do Itamaraty para preparação de diplomatas.

Ele disse que, no momento atual em que o mundo aborda a transição verde como uma prioridade, o Brasil tem uma oportunidade histórica por causa do seu potencial na área de energia.

“É porque o Brasil, em se tratando de energia, é um país imbatível. Basta que a gente seja grande, pense grande, acorde e transforme o sonho em realidade. Por isso que estamos fazendo com que essa coisa da transição energética seja para nós um novo momento do Brasil se desenvolver, crescer, se apresentar ao mundo de cabeça erguida, sem complexo de vira-lata, de inferioridade”, disse.

“Por isso é importante o Brasil não participar da guerra da Ucrânia e da Rússia. Por isso que é importante o Brasil dizer: ‘nós queremos paz, não queremos guerra’. Aqueles que querem conversar conosco poderiam ter conversado conosco antes da guerra. Por isso é que repudiamos massacre contra mulheres e crianças na Palestina, da mesma forma que repudiamos o terrorismo do Hamas.”

About Author




Protestos nos EUA entram na 7ª noite; cidades registram confrontos após toque de recolher

Por G1

 Integrantes do Serviço Secreto enfrentam manifestantes durante protesto pela morte de George Floyd nas proximidades da Casa Branca, em Washington, na segunda-feira (1) — Foto: Reuters/Jonathan Ernst

Integrantes do Serviço Secreto enfrentam manifestantes durante protesto pela morte de George Floyd nas proximidades da Casa Branca, em Washington, na segunda-feira (1) — Foto: Reuters/Jonathan Ernst

Os Estados Unidos voltaram a registrar confrontos nesta segunda-feira (1º), sétimo dia de protestos contra o racismo. As maiores cidades do país decretaram toque de recolher para tentar conter o tumulto após noites de violência.

As manifestações desta segunda ocorrem uma semana após a morte de George Floyd, um ex-segurança negro morto em Minneapolis após um policial ajoelhar sobre seu pescoço durante abordagem (leia mais no fim da reportagem).

Em pronunciamento na Casa Branca, o presidente Donald Trump reforçou o pedido para que governadores e prefeitos contivessem a violência. Caso contrário, disse ele, as Forças Armadas podem ser convocadas.

Agentes de segurança dispararam bombas de gás lacrimogêneo para afastar manifestantes das imediações da Casa Branca, em Washington, nesta segunda-feira (1º) — Foto: Evan Vucci/AP

Agentes de segurança dispararam bombas de gás lacrimogêneo para afastar manifestantes das imediações da Casa Branca, em Washington, nesta segunda-feira (1º) — Foto: Evan Vucci/AP

Veja abaixo resumo sobre os protestos desta segunda-feira (1º)

  • Enquanto Trump discursava, forças de segurança entraram em confronto com manifestantes em frente à Casa Branca, em Washington. O tumulto continuou momentos depois de o toque de recolher entrar em vigor na capital, às 20h (de Brasília), mas a situação se acalmou, depois. Houve prisões.
  • Nova York terá pela primeira vez toque de recolher desde o início dos protestos, a partir da 0h (de Brasília). Após uma manifestação tranquila à tarde, vândalos saquearam comércios em Manhattan.
  • Em Filadélfia, outra grande cidade que vem registrando protestos, houve novas cenas de violência. Policiais usaram armas não letais contra um grupo que ocupou uma rodovia interestadual depois do toque de recolher.

Tensão em Washington

Presidente Donald Trump passa ao lado de muro pichado em Washington, nos EUA, ao seguir para igreja nesta segunda-feira (1º) — Foto: Tom Brenner/Reuters

Presidente Donald Trump passa ao lado de muro pichado em Washington, nos EUA, ao seguir para igreja nesta segunda-feira (1º) — Foto: Tom Brenner/Reuters

Na capital Washington, policiais lançam bombas de gás lacrimogêneo em um grupo que estava próximo da Casa Branca, onde o presidente fazia pronunciamento. A manifestação começou tranquila, com poucos incidentes, mas os confrontos começaram momentos antes de Trump iniciar o discurso, por volta das 19h30 (de Brasília).

Após o tumulto, os manifestantes se dispersaram. Houve prisões. Policiais e militares fecharam parcialmente as ruas e avenidas ao redor da Casa Branca para impedir novos protestos no local.

Para tentar conter a tensão na sede do poder norte-americano, o governo pediu o envio da Guarda Nacional a Washington com um destacamento de 600 a 800 pessoas de cinco estados diferentes dos EUA.

Laudos apontam morte por asfixia

George Floyd estava sub custódia policial quando foi morto por agente branco — Foto: AFP/Facebook / Darnella Frazier

George Floyd estava sub custódia policial quando foi morto por agente branco — Foto: AFP/Facebook / Darnella Frazier

Nesta segunda-feira, dois novos laudos de autópsias declararam que a morte de Floyd foi homicídio por asfixia, causada pela pressão do joelho do policial Derek Chauvin sobre seu pescoço.

Ambas conflitam com a autópsia inicial, apresentada pela cidade de Minneapolis, que dizia que não havia “nenhum achado físico que suporte o diagnóstico de asfixia traumática ou estrangulamento”.

Chauvin foi detido e acusado de homicídio culposo (sem intenção de matar) e assassinato em terceiro grau (quando é considerado que o responsável pela morte atuou de forma irresponsável ou imprudente).

Terence Floyd, irmão de George Floyd, participa de homenagem ao irmão nesta segunda (1º) no local em Minneapolis onde o ex-segurança foi detido — Foto: Lucas Jackson/Reuters

Terence Floyd, irmão de George Floyd, participa de homenagem ao irmão nesta segunda (1º) no local em Minneapolis onde o ex-segurança foi detido — Foto: Lucas Jackson/Reuters

Também nesta segunda-feira, o irmão de George Floyd, Terence, pediu paz durante uma homenagem ao irmão. “Não parem de protestar, mas levantem um símbolo da paz”, disse, durante um ato no local onde a detenção aconteceu.

www.reporteriedoferreira.com.br Por G1