MEUS VALORES, ONDE ANDAM? Por Gilvan de Brito

MEUS VALORES, ONDE ANDAM? Por Gilvan de Brito
Nestes dois dias de São João o meu bairro da Torre se engalanava para comemorar o São João: Logo cedo começava a armar a fogueira, trabalho que envolvia a todos de uma família; cada um trazia um pauzinho para empilhar. Ao final, uma obra de arte estava pronta. Depois, numa passagem pela cozinha, minha mãe me pegava pelo braço para descascar milho, separar as palhas das pamonhas e depois passar a faca, de cima a baixo na espiga, para retirar os grãos. Em seguida o caldo ia para o fogo.
Eu gostava de lamber a colher de pau, ao retirar a casca do fundo da panela (ainda quente) quando terminava de cozinhar. Depois via a formatação das pamonhas, os pratos de canjica, os bolos de milho e outras iguarias do cereal e do coco (cocadas). À tarde, confeccionar as lanternas em forma de estrela, para colocá-las nas portas e janelas da frente, com uma vela dentro. A noitinha estava chegando, hora de acender a fogueira, com jornais velhos, querosene, álcool e uma caixa de fósforos. Quando chovia era um transtorno, era necessário cobrir a fogueira com um plástico, para não molhar a madeira. Acesa, era hora de soltar os fogos, adquiridos nos dias anteriores: buscapé, diabinhos, chuveiro, estrelinhas (para as meninas) foguetes, mijão, traques, bombas peido de veia, chilena, cabeça de negro (as mais fortes).
Isso tudo debaixo de um fumacê que vinha da nossa, das fogueiras da vizinhança e de todo o bairro. Era aquele incômodo nos olhos, o cheiro de queimado. Tudo que se via numa casa era repetido na outra, seguidamente. A comemoração era geral, a alegria reinava nestes dois dias de São João. Depois, assar milho na fogueira, comer pamonha, canjica, cocadinhas pretas e brancas, milho assado, guaraná Dore ou Sanhauá; vinho Celeste, Lágrima de Ouro e Jaboticaba.
No meio de toda a festança, às vezes alguém se lembrava de que, durante toda essa festa, São João estava dormindo, e só tomaria conhecimento no dia seguinte, quando Santo Antônio lhe contava. Acabou-se tudo, não em mais foguetes, fumaça nem guaraná Dore e Sanhauá, nem os vinhos de Tito Silva. Hoje, estou neste computador, e só ouço, em longos intervalos, algum rojão explodindo, em locais distantes.
www.reporteriedoferreira.com.br / Por Gilvan de Brito- Advogado, Jornalista, Poeta e escritor.