Caso Marielle: Chiquinho Brazão chora e diz não conhecer Lessa, em audiência no STF

Deputado está preso desde março deste ano sob a acusação de ser um dos mandantes do crime

Por

iG Último Segundo

|21/10/2024 16:55

O deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) em imagem de setembro de 2023
Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

O deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) em imagem de setembro de 2023

O deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido) foi o primeiro a depor na audiência do Supremo Tribunal Federal ( STF ), nesta segunda-feira (21), que ouve os cinco réus acusados de serem os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco ( PSOL ) e do motorista Anderson Gomes , em 2018.

Durante depoimento, Brazão afirmou não conhecer Ronnie Lessa ou Élcio de Queiroz , os assassinos confessos do crime. O deputado enfatizou que nem ele nem seu irmão, Domingos Inácio Brazão , então conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro , tiveram qualquer contato com os acusados.

Publicidade

“Nunca tive contato com Ronnie Lessa. As pessoas são anônimas para você muitas das vezes. Não tenho dúvida de que ele poderia me conhecer, mas eu nunca na vida tenho lembrança de ter estado com essa pessoa”, disse Brazão ao juiz auxiliar do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, Airton Vieira.

O parlamentar também afirmou que seu irmão sequer conhecia a vereadora Marielle Franco. “Quando houve o crime, ele comentou: ‘O que tão sério fez essa jovem para um crime tão grave?’. Ele não conhecia, com certeza”, declarou.

Chiquinho Brazão afirmou ainda que mantinha uma excelente relação com Marielle e que ela tinha um “futuro brilhante”.

“Foi maldade o que fizeram. Marielle tinha um futuro brilhante. Ela era uma vereadora muito amável”, lamentou.

Durante o depoimento, o parlamentar chorou ao falar de sua família. Ele se emocionou ao lembrar da filha, do neto e de sua rotina antes da prisão, mencionando suas idas à igreja e o trabalho com comunidades, especialmente em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

Acusações de Ronnie Lessa

Chiquinho Brazão está  preso desde março deste ano sob a acusação de ser um dos mandantes do crime. Apesar de negar o conhecimento de Ronnie Lessa, o ex-policial e assassino confesso de Marielle afirmou, em delação premiada à Polícia Federal (PF), que teria feito um acordo de US$ 10 milhões com os irmãos Brazão.

Segundo Lessa, Domingos e Chiquinho ofereceram um loteamento em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, como parte do pagamento pelo assassinato.

Lessa revelou que o acordo envolvia milhões de reais, mencionando que na época falavam em R$ 100 milhões, valor que estaria relacionado ao lucro gerado pelos dois loteamentos oferecidos. “Ninguém recebe uma proposta de US$ 10 milhões simplesmente para matar uma pessoa. Uma coisa assim, impactante”, afirmou Lessa aos investigadores.

Depoimentos ao STF

Além de Chiquinho Brazão, também são ouvidos Domingos Brazão, o delegado Rivaldo Barbosa de Araújo Júnior, o policial militar Ronald Paulo de Alves Pereira e Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe, que responde por organização criminosa.

O caso está sendo conduzido pelo gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal. Os depoimentos seguem sendo realizados por videoconferência, através do aplicativo Zoom, dando continuidade às oitivas iniciadas em 12 de agosto com testemunhas de defesa, acusação e o delator do caso.




Lessa diz que proposta para matar Marielle envolveu criação de milícia

Em delação premiada, o ex-PM afirmou que negócio renderia mais US$ 20 milhões (R$ 100 milhões)

Por

iG Último Segundo

|27/05/2024 09:06

Ronnie Lessa  foi o assassino de Marielle Franco

Reprodução

Ronnie Lessa foi o assassino de Marielle Franco

O  ex-PM Ronnie Lessa afirmou que os mandantes da morte da vereadora Marielle Franco ofereceram a ele e a um comparsa dois loteamentos clandestinos na zona oeste do Rio para formarem uma milícia.

Segundo Lessa, o negócio renderia mais US$ 20 milhões (R$ 100 milhões) . A declaração foi feita em delação premiada, que o Fantástico, da TV Globo, teve acesso e divulgou na noite de domingo (26).

“Na verdade, eu não fui contratado para matar a Marielle como um assassino de aluguel. Eu fui chamado para uma sociedade”, disse na delação.

Ronnie admitiu ter matado a vereadora e contou que ficou surpreso com a proposta dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão. Eles ofereceram os lotes a Lessa e ao ex-PM Edimilson de Oliveira, o Macalé, morto em 2021.

“Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de US$ 20 milhões. A gente não está falando de pouco dinheiro (…) Ninguém recebe uma proposta de receber US$ 10 milhões simplesmente para matar uma pessoa. Uma coisa impactante realmente”, disse Lessa.

“A gente ia criar uma milícia nova. Então ali teria a exploração de gatonet, a exploração de kombis, venda de gás… A questão valiosa é depois. A manutenção da milícia que vai trazer voto”, explicou Lessa.

O ex-PM disse ainda que os mandantes consideravam Marielle “uma pedra no caminho”.

“Ela teria convocado algumas reuniões com várias lideranças comunitárias, se eu não me engano, no bairro de Vargem Grande ou Vargem Pequena [zona oeste carioca], justamente para falar sobre esse assunto, para que não houvesse adesão a novos loteamentos da milícia. Isso foi o que o Domingos [Brazão] passou para a gente. Que a Marielle vai atrapalhar e para isso ela tem que sair do caminho”, disse Ronnie, que está preso desde março de 2019.

Encontros

Ronnie Lessa disse ainda que se encontrava com  Domingos e Chiquinho em uma rua na Barra da Tijuca, na zona Oeste do Rio.

O ex-PM afirmou ter se encontrado três vezes com os mentores do crime. Duas antes do assassinato e uma depois.

“O Domingos fala mais e o Chiquinho concorda. E o local escuro, propício ao encontro. Um encontro secreto porque a situação pedia uma coisa dessa, isso seria muito mais inteligente do que sentar numa churrascaria”.

A Polícia Federal declarou, em relatório, que não encontrou provas desses encontros.

Marcelo Freixo

Lessa afirmou, ainda, que o alvo principal em um primeiro momento era matar o político Marcelo Freixo. Mas desistiu do plano, por considerar que o “trabalho” seria mais complicado.

Após o recuo, Marielle, se tornou o alvo número um por ter feito mobilizações políticas contra os loteamentos em questão.

“Eliminá-lo poderia gerar grande repercussão”, disse Lessa.

A PF conseguiu comprovar que Lessa pesquisou sobre políticos do PSOL, incluindo Freixo, que era uma das lideranças do partido na época.

Em 2008, no relatório final da CPI das Milícias, presidida por Freixo no Legislativo do Rio de Janeiro, Domingos e Chiquinho foram identificados como beneficiários do “curral eleitoral” estabelecido pela pressão da milícia de Oswaldo Cruz (zona norte).