Lessa diz que proposta para matar Marielle envolveu criação de milícia

Em delação premiada, o ex-PM afirmou que negócio renderia mais US$ 20 milhões (R$ 100 milhões)

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iG Último Segundo

|27/05/2024 09:06

Ronnie Lessa  foi o assassino de Marielle Franco

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Ronnie Lessa foi o assassino de Marielle Franco

O  ex-PM Ronnie Lessa afirmou que os mandantes da morte da vereadora Marielle Franco ofereceram a ele e a um comparsa dois loteamentos clandestinos na zona oeste do Rio para formarem uma milícia.

Segundo Lessa, o negócio renderia mais US$ 20 milhões (R$ 100 milhões) . A declaração foi feita em delação premiada, que o Fantástico, da TV Globo, teve acesso e divulgou na noite de domingo (26).

“Na verdade, eu não fui contratado para matar a Marielle como um assassino de aluguel. Eu fui chamado para uma sociedade”, disse na delação.

Ronnie admitiu ter matado a vereadora e contou que ficou surpreso com a proposta dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão. Eles ofereceram os lotes a Lessa e ao ex-PM Edimilson de Oliveira, o Macalé, morto em 2021.

“Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de US$ 20 milhões. A gente não está falando de pouco dinheiro (…) Ninguém recebe uma proposta de receber US$ 10 milhões simplesmente para matar uma pessoa. Uma coisa impactante realmente”, disse Lessa.

“A gente ia criar uma milícia nova. Então ali teria a exploração de gatonet, a exploração de kombis, venda de gás… A questão valiosa é depois. A manutenção da milícia que vai trazer voto”, explicou Lessa.

O ex-PM disse ainda que os mandantes consideravam Marielle “uma pedra no caminho”.

“Ela teria convocado algumas reuniões com várias lideranças comunitárias, se eu não me engano, no bairro de Vargem Grande ou Vargem Pequena [zona oeste carioca], justamente para falar sobre esse assunto, para que não houvesse adesão a novos loteamentos da milícia. Isso foi o que o Domingos [Brazão] passou para a gente. Que a Marielle vai atrapalhar e para isso ela tem que sair do caminho”, disse Ronnie, que está preso desde março de 2019.

Encontros

Ronnie Lessa disse ainda que se encontrava com  Domingos e Chiquinho em uma rua na Barra da Tijuca, na zona Oeste do Rio.

O ex-PM afirmou ter se encontrado três vezes com os mentores do crime. Duas antes do assassinato e uma depois.

“O Domingos fala mais e o Chiquinho concorda. E o local escuro, propício ao encontro. Um encontro secreto porque a situação pedia uma coisa dessa, isso seria muito mais inteligente do que sentar numa churrascaria”.

A Polícia Federal declarou, em relatório, que não encontrou provas desses encontros.

Marcelo Freixo

Lessa afirmou, ainda, que o alvo principal em um primeiro momento era matar o político Marcelo Freixo. Mas desistiu do plano, por considerar que o “trabalho” seria mais complicado.

Após o recuo, Marielle, se tornou o alvo número um por ter feito mobilizações políticas contra os loteamentos em questão.

“Eliminá-lo poderia gerar grande repercussão”, disse Lessa.

A PF conseguiu comprovar que Lessa pesquisou sobre políticos do PSOL, incluindo Freixo, que era uma das lideranças do partido na época.

Em 2008, no relatório final da CPI das Milícias, presidida por Freixo no Legislativo do Rio de Janeiro, Domingos e Chiquinho foram identificados como beneficiários do “curral eleitoral” estabelecido pela pressão da milícia de Oswaldo Cruz (zona norte).




Marielle Franco: PF prende suspeitos de serem mandantes do crime

Operação deste domingo (24) prendeu três suspeitos de estarem envolvidos no assassinato da vereadora em 2018

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iG Último Segundo

|24/03/2024 07:18

Suspeitos de serem os mandantes do crime foram detidos nesta manhã
Rena Olaz/Câmara Municipal do RJ

Suspeitos de serem os mandantes do crime foram detidos nesta manhã

Neste domingo (24), em operação conjunta da Procuradoria Geral da República, do Ministério Público do Rio de Janeiro e da Polícia Federal foram presos três suspeitos de serem os mandantes do  assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018.

Na ocasião, foram detidos Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Chiquinho Brazão, deputado federal do Rio de Janeiro, e Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil do Rio.

Além disso, foram expedidos 12 mandados de busca e apreensão na sede da Polícia Civil do Rio e no Tribunal de Contas do Estado.

As autoridades ainda investigam a motivação do crime, mas, a suspeita é de que esteja relacionada à expansão territorial de milícia no Rio de Janeiro.

Com o objetivo de surpreender os supostos mandantes do assassinato, os investigadores decidiram fazer a operação no início deste domingo. Segundo informações da inteligência da polícia, os suspeitos já estavam em alerta nos últimos dias, especialmente após o  Supremo Tribunal Federal (STF) homologar a delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa,  preso desde 2019 pelo assassinato da vereadora.

Ao aceitar o acordo,  Lessa indicou quem eram os mandantes do crime e falou sobre a motivação do assassinato.

Segundo Lessa, os supostos mandantes fazem parte de um grupo político poderoso no Rio de Janeiro, que tem interesses em diversos setores do Estado. Durante a delação, o ex-policial ainda deu detalhes sobre os encontros entre eles e indícios sobre as motivações.

Delação

Lessa começou a colaborar com a Polícia Federal após  Élcio de Queiroz entregá-lo como o executor dos assassinatos. A partir desse momento, ele revelou quem tinha o contratado para realizar o crime, contando detalhes de reunião antes e depois do assassinato.

O ex-PM afirmou ainda que um grupo político poderoso no Rio de Janeiro estava envolvido no crime.

Relembre o crime

Na noite de 14 de março de 2018,  Marielle e seu motorista foram vítima de homicídio quando o veículo em que estavam foi alvo de tiros no bairro do Estácio, localizado na região central da cidade. Os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram detidos em março de 2019, um ano após os assassinatos, e são apontados como os executores dos crimes.