O EMPODERAMENTO DA IGNORÂNCIA; Rui Leitão

O EMPODERAMENTO DA IGNORÂNCIA; Rui Leitão

É interessante para o mundo capitalista impor a cultura da ignorância. A mediocridade como prevalência comportamental nas sociedades contemporâneas, especialmente no Brasil. A destituição de um conjunto de valores, até pouco tempo considerados essenciais para as vivências individuais ou coletivas. O desprezo e o estimulado desconhecimento das artes, da história, da ciência, da filosofia, etc. O desprestígio dos livros e o aviltamento da memória.

Os ignorantes estão assumindo lugares de responsabilidade. É isso que interessa ao establishment. A ignorância, para alguns, é imposição; para muitos, porém, é simples escolha — embora aparentemente voluntária. É cada vez maior o número de pessoas que preferem acreditar piamente nas primeiras informações, sem qualquer preocupação em questioná-las. Quando isso acontece, caímos na armadilha do fetichismo, dos ícones fabricados, dos mitos produzidos. E avançamos aceleradamente para o distanciamento da realidade, favorecendo o despotismo — um sistema habilmente manejado por forças poderosas. Querem nos convencer de que não devemos ser uma cultura verdadeira. Querem que percamos nossa identidade cultural. E estão tendo sucesso nessa empreitada.

É o empoderamento do neofundamentalismo político, quando não se dá mais importância às verdades, cultivando o “não saber”. A adoção de linhas de conduta em que o pensamento defendido passa a gozar de infalibilidade. A exclusão do pluralismo. O coletivo inconsciente sofreu com a dominação ideológica conservadora. A alienação é produzida pelo projeto de poder do capital — sementes podres lançadas por oportunistas para germinar em terreno fértil.

A mídia corporativa tem a incumbência de estabelecer os pronunciamentos da massa, manipulando-a de forma generalista e simplista sobre questões específicas que são destacadas. Provoca a ausência do pensamento crítico. Trabalha no sentido de fortalecer o pensamento único. As mentes são formadas com conceitos que se internalizam na vida cotidiana das pessoas.

Percebe-se um esforço para voltar a aprisionar nossa história política e social, como nos tempos da ditadura militar. Reforça-se a ideia de criminalização da política, para que dela se beneficiem. A cultura da ignorância não permite o debate político com seriedade; pelo contrário, oferece o perigo do desmantelamento das ideias que contrariam as possibilidades de transformações sociais e urbanas, ameaçando, assim, o império de dominação das elites.

www.reporteriedoferreira.com.br    /Rui Leitão- advogado, jornalista, poeta, escritor




A INVOLUÇÃO CULTURA; Escrito Por Rui Leitao  

A INVOLUÇÃO CULTURA; Escrito Por Rui Leitao

 

O processo de involução cultural na sociedade brasileira tem avançado aceleradamente nos anos recentes. Estamos glamourizando a pobreza intelectual e valorizando a alienação, a falta de educação e o negacionismo. Não há mais a compreensão de que a cultura é passaporte para a emancipação de um povo. Não se estimula o encontro com a inteligência criativa. É perceptível o interesse em que percamos a consciência de nossa potencialidade. Só há um caminho para a construção de uma nação, o compromisso do Estado com a educação e a cultura. Lamentavelmente, no governo atual não enxergamos esse entendimento. Pelo contrário, as manifestações demonstram explicitamente uma falta de entusiasmo com as políticas culturais.

 

Estamos ingressando na “era da burrice”. Preponderam as discussões inúteis, agressivas, desprovidas de conteúdo lógico e amparado no conhecimento. Mas o exemplo, infelizmente, vem de cima, ao vermos lideranças se orgulhando de produzirem asneiras e recebendo o aplauso e a repetição de suas falas por um público que faz opção pelo fanatismo político. Neurônios acomodados não contribuem para aumentar a nossa capacidade cognitiva. Mas é exatamente essa a estratégia que se pretende aplicar, conduzindo-nos a destinos desastrosos.

Já não causam escândalos ou perplexidades declarações públicas de figuras proeminentes da nossa vida social, com significados preconceituosos, sexistas, homofóbicos, machistas, anticientíficos. Os ultrarreacionários vêm ganhando espaço na grande mídia, num esforço de convencimento de suas teses perante a opinião pública. A apologia da estupidez feita sem o menor constrangimento. A burrice querendo ganhar status de sabedoria. Os burros têm fé em si mesmos, são ousados e militantes., mesmo que se apresentem muitas vezes com posturas que desconhecem o senso do ridículo.

 

A ignorância quando se encastela numa só ideia, procura usufruir de suas próprias certezas. A fome do “regressismo” é incentivada pelos poderosos de plantão. A pregação populista da marcha à ré. Luther King dizia que “nada no mundo é mais perigoso do que a ignorância”. Na base da prepotência e da desinformação adotam técnicas de manipulação de audiências massivas, com o propósito de alcançarem seus objetivos políticos. Uma guerra onde se propõe colocar a verdade como vítima.

 

Razão e consciência não convivem com a involução cultural. Os promotores desse processo são especialistas em propagandear soluções fáceis para problemas complexos. Até porque não se dão ao trabalho de debater argumentos ou conceitos racionais. Desprezam os fatos para se pautarem em crenças. Aí temos que considerar que querem dar praticidade ao que diria o Rei Lear: “são cegos guiados por loucos rumo ao abismo”.

 

www.reporteriedoferreira.com.br  Por Rui Leitão, Jornalista, advogado e escritor