HADDAD MATOU A NOSSA SAUDADE DE FLÁVIO DINO Por Rui Leitao
HADDAD MATOU A NOSSA SAUDADE DE FLÁVIO DINO Por Rui Leitao
O ministro Fernando Haddad matou nossa saudade de Flávio Dino ontem na Câmara dos Deputados. Deu um show de argumentação técnica. Tendo sido convidado para participar de uma audiência na Comissão de Finanças e Tributação, onde o objetivo seria debater sobre a política econômica, se viu obrigado a enfrentar os costumeiros bate bocas provocados por uma bancada de parlamentares que vem se destacando pelo protagonismo em espetáculos de patetices, sem qualquer compromisso com a discussão de temas que deveriam ser levados a sério. O feitiço virou contra os feiticeiros. Ao invés de ser “lacrado” com a produção de vídeos para publicação na internet, como sempre fazem, foi ele quem “lacrou”. Não deixou qualquer provocação sem resposta inteligente e de fina ironia.
O grande problema é que os idiotas também se elegem. Claro, porque têm eleitores que se assemelham no comportamento irresponsável. Eles participam de processos eleitorais optando por escolhas que contrariem a prática da boa política. Não diria que são votos de protestos, são exercidos por idiotas em suas mais diversas versões ─ o espertalhão, o otário, o vigarista, o fanático, o farsante, o bobo alegre, etc. Então, têm que determinar suas preferências como se estivessem olhando no espelho.
Cultura e inteligência não são atributos necessários para que possam definir suas opções na hora de exercer o sufrágio nas urnas. Não têm noção do alto custo da irracionalidade política, quando colocam em cargos eletivos pessoas intelectualmente limitadas, e, portanto, desqualificadas, para o exercício dos cargos para os quais foram guindados nos processos eleitorais.
O tiro saiu pela culatra. Haddad, como era de se esperar, esbanjou conhecimento de economia, sempre falando com calma e tratando todos com a urbanidade que caracteriza sua personalidade. Mas, não perdeu oportunidade para responder com pitadas de humor inteligente aos que tentaram “enquadrá-lo”. Como se diz na gíria popular “foram jantados” pelo ministro. Os lacradores da extrema direita brasileira tiveram que se render às suas insignificâncias. Ficaram impedidos de fazer recorte nas redes sociais para ganhar apoio da base. A mediocridade dessa bancada parlamentar composta por negacionistas, reacionários e, acima de tudo, inconsequentes, se viram incapazes de repetir as costumeiras estultices, uma vez que encontraram alguém com a capacidade de enfrentar debates, ainda que fugindo do tema de seriedade, com inteligência e responsabilidade. Se não temos mais o Flávio Dino, ganhamos o Fernando Haddad. Só lamento que o tempo de um ministro tão importante para o país, seja perdido com a necessidade de responder a questionamentos dos que se prestam às atividades da “baixa política”.
Rui Leitão- advogado, jornalista, poeta, escritor

Fernando Haddad lamenta juros reais de 10% estabelecido pelo BC para a Selic. Foto: José Cruz/ABr