“CAMINHOS DO CORAÇÃO”Por Rui Leitao
“CAMINHOS DO CORAÇÃO”Por Rui Leitao
As músicas de Gonzaguinha sempre trazem reflexões sobre a vida. Em 1982 ele lançou “Caminhos do coração”, em que nos leva a pensar sobre nossa experiência na convivência com pessoas e lugares novos, sempre com oportunidades de aprendizado. E os locais que vamos visitando no curso da nossa existência vão se vinculando à história que construímos como biografia.
“Há muito tempo que saí de casa/há muito tempo que caí na estrada/há muito tempo que estou na vida/foi assim que eu quis/e assim eu sou feliz“. Todos nós passamos por esse estágio da vida, o que costumeiramente se chama o “corte do cordão umbilical”, o dia em que saímos da casa materna para conhecer o mundo. E percebemos que faz muito tempo que abandonamos o lar que nos abrigou na infância e adolescência. Nos certificamos que faz tempo que ganhamos a estrada na busca das conquistas da vida. Tudo isso nos oferecendo maior conhecimento do que seja viver. A decisão de quem se emancipa, tornar-se dono do próprio destino, com o objetivo de ser feliz.
“Principalmente por poder voltar/a todos os lugares onde já cheguei/pois lá deixei um prato de comida/um abraço amigo/e um canto para dormir e sonhar”. E como é bom voltar aos locais por onde um dia passamos, conhecendo a culinária, o clima, e principalmente a gente que faz cada lugar. Onde a cada passagem fomos construindo amigos, recebendo abraços que se tornaram fraternos. Onde encontramos aconchego, hospitalidade, paz, que nos permitiram sonhar.
“E aprendi que se depende sempre/de tanta, muita, diferente gente/toda pessoa é sempre as marcas/das lições diárias de outras tantas pessoas”. Nessa convivência cotidiana aprendemos com as pessoas com quem temos a ocasião de estabelecer relacionamentos de amizade. São pessoas que se diferenciam conforme o lugar ou classe social, mas todas nos ofertando conhecimentos no enfrentamento da vida. Cada uma tem a sua peculiaridade, a sua marca de identidade individual, que serve de exemplo para direcionarmos nosso caminho a seguir.
“E é tão bonito quando a gente entende/que a gente é tanta gente onde quer a gente vá/e é tão bonito quando a gente sente/que nunca está sozinho por mais que pense estar”. É gratificante e maravilhoso ver as pessoas compartilhando ações, ideias, sonhos. Sairmos do individualismo e nos integrarmos ao coletivo, à energia do companheirismo, do sentimento de fraternidade. São nesses momentos que verificamos que não estamos sozinhos. Quando menos se espera encontramos uma mão amiga em nosso socorro, a palavra confortadora de um irmão na hora das contrariedades, do desassossego, da aflição.
“É tão bonito quando a gente pisa firme/nessas linhas que estão nas palmas das nossas mãos/é tão bonito quando a gente vai à vida/nos caminhos onde bate, bem mais forte, o coração”. A beleza de sentir-se firme no que quer, pisar forte e determinado nas trilhas do caminhar na vida. Fazer valer com obstinação os desígnios da nossa existência, que muitos acreditam estarem traçados nas palmas de nossas mãos. Maravilhar-se com o destemor e a coragem de fazer-se um caminhante da vida, orientados pelo pulsar do coração, seguir a intuição dos sentimentos de bondade e de amizade. Perceber que não somos “um”, somos “gente”, somos parte de um todo.
www.reporteriedoferreira.com.br- Por Rui Leitão, advogado, jornalista, poeta e escritor.