OS GOLPES FRACASSADOS NO BRASIL Por Rui Leitao
OS GOLPES FRACASSADOS NO BRASIL
A história do Brasil tem bons exemplos de tentativas de golpe que fracassaram. Muitos são os fatores que contribuíram para o insucesso dessas empreitadas: falta de articulação, resistência das instituições democráticas, incompetência do núcleo conspirador. É interessante constatar que as tentativas lideradas por militares de baixa patente nunca deram certo.
Em 1922, o capitão de artilharia Siqueira Campos, com seus “18 do Forte”, foi abatido na Avenida Atlântica, nas imediações do Posto 3, no Rio de Janeiro. Em 1924, foi a vez do capitão Luís Carlos Prestes, com sua Coluna Invicta, que percorreu o país por dois anos sem conseguir abalar a estabilidade do governo do presidente Arthur Bernardes. O levante dos tenentes do Exército, ocorrido em Manaus no ano de 1932, foi mais um golpe frustrado. O capitão Prestes voltou a liderar uma tentativa de insurreição em 1935, com a Intentona Comunista, sendo novamente derrotado pelas forças legalistas nos combates da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, e em Natal, no Rio Grande do Norte.
O major Haroldo Veloso liderou o célebre levante de Jacareacanga, no Pará, em 1955, contra a posse de Juscelino Kubitschek. A rebelião terminou com o recuo dos insurgentes para a Bolívia, onde permaneceram exilados. Anistiado pelo presidente recém-empossado, Veloso voltou à cena, desta vez ao lado do tenente-coronel Burnier, à frente da fracassada rebelião dos aviadores, que teve como base o aeródromo de Aragarças, em Goiás.
Em 1963, ocorreu a Revolta dos Sargentos, que contou com a participação de marinheiros, sargentos e suboficiais da Aeronáutica. O movimento se deu como reação à decisão do Supremo Tribunal Federal que anulou a eleição de dois sargentos para a Câmara dos Deputados. Em Brasília, os revoltosos foram contidos pelas tropas do Exército. Mais um golpe de baixa patente fracassado. Seu líder, o sargento Antônio Prestes de Paula, foi condenado a quatro anos de prisão.
A mais recente movimentação golpista foi planejada e liderada por um capitão expulso do Exército. Inicialmente, buscava sua permanência no poder. Depois, derrotado nas urnas, tentou impedir a posse do presidente legitimamente eleito. Sem o apoio dos comandantes das Forças Armadas, a história registrou mais um golpe fracassado, desta vez arquitetado por alguém que, enquanto esteve no Exército, ostentava apenas a patente de capitão. O episódio culminou com a barbárie do dia 8 de janeiro de 2023, quando vândalos invadiram e depredaram os edifícios-sede dos Três Poderes, em Brasília. Ainda assim, as debilidades do golpe não devem nos levar a pensar que “a serpente esteja morta”.
Há mais de um século, integrantes das Forças Armadas que se imaginavam figuras-chave nas corporações militares e atores estratégicos da política nacional foram derrotados em suas tentativas de romper a ordem institucional do país. Sem o respaldo dos altos comandos militares, o golpe de 2023 não prosperou, embora tenha comprometido a imagem das Forças Armadas. Faltou, também, o apoio massivo da sociedade civil para que houvesse uma ruptura democrática.
O ex-presidente e outros integrantes de seu governo respondem criminalmente pela tentativa de golpe de Estado. O processo encontra-se em fase conclusiva no Supremo Tribunal Federal.
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