SOU A FAVOR DA DEMOCRACIA; Rui Leitão
SOU A FAVOR DA DEMOCRACIA
Rui Leitão
Se perguntarem qual é a minha posição ideológica na atual conjuntura política nacional, direi, sem titubear: sou um democrata.
Mas, um democrata de esquerda ou de direita? Eu acrescentaria: um democrata mais alinhado às ideias da esquerda. O que não quer dizer que não reconheça a existência da direita democrática. Porém, sem o olhar vesgo da política contemporânea em nosso país, que fomenta uma visão da conjuntura nacional completamente distorcida, cheia de intolerâncias e sem limites.
Nelson Rodrigues já nos ensinava que “toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”. Portanto, tento me afastar da ideologia cega, contaminada por paixões que deixam as pessoas tão obcecadas quanto aquelas sob o efeito de drogas. Isso nos leva a refletir como é possível alguém, possuidor de embasamento moral e intelectual, abraçar personagens políticos comprovadamente envolvidos em todo tipo de desmando, mistificando deuses enlameados, beatificando criminosos, misturando fanatismo religioso com polarização política.
O radicalismo, tanto de esquerda quanto de direita, é responsável pela destruição das bases de nossa sociedade. Ser de esquerda ou de direita é um direito básico de cidadania, desde que se compartilhem pensamentos, ainda que divergentes. John Kennedy já dizia: “É muito mais fácil ficar com o conforto da opinião do que com o desconforto da reflexão”.
Afinal, o ideal igualitário deve estar acima das questões de ordem moral, cultural, patriótica e religiosa. A ditadura militar que vivenciamos no século passado fez com que o termo “esquerda” passasse a simbolizar a luta pelos direitos populares e dos trabalhadores, enquanto a “direita” tornou-se sinônimo de conservadorismo e elitismo. Na política brasileira tradicional, a conceituação de esquerda e direita é usada para definir e enquadrar adversários políticos dentro de um espectro.
Os extremistas, tanto da direita quanto da esquerda, assumem uma posição paranoica generalizada, antecipando qualquer discordância, ainda que sem fundamentações racionais. Estigmatizam o diferente como sendo inimigo. Em síntese, sou um democrata que renega todo movimento político que busca realizar projetos totalitários, seja de direita, seja de esquerda. É fácil perceber que os extremos se encontram num ponto comum: na exacerbação da ação e na posição antidemocrática e totalitária.
Sou, pois, um democrata de esquerda, defendendo que todos tenham as mesmas oportunidades de influenciar as decisões políticas tomadas no país, independentemente de gênero, posição social, raça ou outros fatores. Entendo que só teremos democracia — traduzida em liberdade e garantia de direitos — se tivermos instituições fortes. Nossa democracia esteve ameaçada recentemente, mas foi preservada graças à ação imprescindível do Supremo Tribunal Federal para a manutenção do Estado Democrático de Direito. Quero conviver numa sociedade onde esses estigmas ideológicos não confundam a lógica do pensar livremente, respeitando as discordâncias e caminhando junto aos que renegam as ditaduras, tanto de direita quanto de esquerda.
www.reporteriedoferreira.com.br/ Rui Leitao, Advogado, Jornalista, Poeta, Escritor

