Lula, Bolsonaro, esquerda, direita e as pesquisas recentes

Por Josival PereiraPublicado em 16/12/2024 17:45

Polarizacao esquerda direita
Lula, Bolsonaro, esquerda, direita e as pesquisas recentes (Foto: Reprodução/ Agência Brasil)

Pesquisa Quaest da semana passada sondando cenários para as eleições presidenciais de 2026 acabou provocando polêmica e causando reações, sobretudo, entre os bolsonaristas.

O que revela a pesquisa? Diz que Lula lidera com certa folga e aparece bem à frente de Bolsonaro e de todos os demais possíveis concorrentes (Lula 51%x 35% Bolsonaro; Lula 52% x 26% Tarcisio Freitas; Lula 52% x 27% Pablo Marçal; Lula 54% 20% Ronaldo Caiado). Para agravar, o ministro Fernando Haddad também aparece na frente de todos os possíveis candidatos da direita (Haddad 42% x 35% Bolsonaro; Haddad 44% x 25% Tarcísio Freitas; Haddad 42% 28% Pablo Marçal; Haddad 45% 19% Ronaldo Caiado).

Qual a questão central da polêmica? Até outro dia direita e esquerda apareciam empatadas e agora a esquerda está na frente. Havia levantamentos que até apontavam Bolsonaro na frente.

O que mudou? Existem explicações plausíveis para a recente pesquisa?

O levantamento da Quaest não é sobre esquerda contra direita. É sobre Lula contra Bolsonaro e possíveis outros candidatos da direita. E não existe nenhuma novidade nesse quadro. Lula sempre apareceu na frente de Bolsonaro em pesquisas. Estava bem à frente de todos os candidatos quando foi preso. Liderava mesmo preso em 2018. Veio para a campanha de 2022, aparecia na frente nas pesquisas sérias e venceu a eleição. Aqui funcionam o carisma, a história de lutas e a identificação de Lula com amplos segmentos populares.

A maior vulnerabilidade de Lula nas pesquisas frente a Bolsonaro e à direita apareceram após ele assumir seu terceiro mandato quando se implantou um renitente quadro de empate ou quase empate técnico nos levantamentos dos institutos de pesquisa.

Por que esse quadro teria aparentemente se alterado agora? Porque, dois anos depois, o governo Lula vai consolidando a imagem de ser melhor do que o governo Bolsonaro. Na Quaest divulgada na semana passada, 41% julgam o governo Lula melhor do que o de Bolsonaro, que chega aos 37%. Era 38% contra 33%.

Na avaliação pessoal, Lula é aprovado por 52% (era 51%). A desaprovação é de 47% (era 45%)

Em números não houve alteração substancial. Em verdade, parece estar havendo, isto sim, uma cristalização de avaliação, um sentimento meio cimentado. A renitência das avaliações positivas do governo e pessoal, embora ali nos limites, nos últimos dois anos pode estar minando a resistência, dando substância eleitoral e mais confiança ao trabalho de Lula.

Outro detalhe a se levar em consideração é o da comparação direta de Lula com os candidatos da direita. Não é de agora, mas já tem mais de 20 anos que o petista, individualmente, leva vantagem. Agora, neste momento, é considerado melhor do que Tarcísio Freitas, Pablo Marçal, Ronaldo Caiado, além de Bolsonaro.

Pode-se questionar os levantamentos (pesquisas são feitas pra isso também), mas essa é uma realidade histórica, sem deixar de observar que, a rigor, não existem elementos na gestão Lula que justifiquem reprovação. Talvez esse lado dos números até estejam inflados por ranço puramente ideológico. O país vive uma situação de amplo emprego, o consumo está se expandindo (as vendas no varejo cresceram 19% na Paraíba em relação ao mesmo período do ano passado), a indústria dá sinais de revitalização e os indicadores sociais são positivos para o governo. O que haveria de ruim são a questão fiscal e os juros altos, que interessam ao mercado, ao liberalismo econômico e ao empresariado conservador, mas, no frigir dos ovos, dificilmente vai servir de base para o posicionamento das camadas mais pobre da população.

Assim, as pesquisas não são de difícil compreensão. São a realidade do momento e da recente quadra histórica.

 




O MOVIMENTO GOLPISTA NÃO MORREU Por Rui Leitao 

O MOVIMENTO GOLPISTA NÃO MORREU Por Rui Leitao

É preciso que continuemos atentos e fortes. A vitória eleitoral conquistada no ano passado não nos dá a tranquilidade de que as ameaças à democracia desapareceram por completo. O delírio golpista continua aceso. Os conspiradores seguem na espreita, intimidando os democratas brasileiros. Vencemos uma batalha, mas ainda não ganhamos a guerra. O fascismo trabalha sua reorganização.

Têm aversão ao debate ético. Apelam para as mentiras na busca incessante de tentar desgastar um governo que está dando certo. Embora inelegível, o ex-presidente ainda consegue ser ouvido pelos que pensam como ele. Seus apoiadores, apesar das evidências da prática de crimes, recusam aceitar os fatos incontestáveis como verdadeiros. Parte do seu público se mantém fiel. As pautas cheias de ódio e preconceito retomam os discursos nas redes sociais, com o espalhamento desenfreado da desinformação.

Os grupos extremistas não foram exterminados. É bom lembrar que o Congresso eleito nas eleições do ano passado tem um perfil ideologicamente bem mais conservador do que o das legislaturas pretéritas, obrigando um presidente progressista a fazer concessões que possam garantir a governabilidade. Nele encontramos parlamentares que promovem a cizânia, líderes medíocres que não sabem viver numa democracia. Desrespeitam a ciência, defendem pautas retrógradas e não aceitam a pluralidade de pensamento.

Uma direita histérica, radical, mas barulhenta, insiste em atacar as instituições democráticas e republicanas. A nossa sorte é que são desqualificados, culturalmente despreparados, incapazes de desenvolver um debate de ideias com racionalidade. Quem pensa diferente deles não é patriota, nem cristão, é comunista, segundo definem. Estamos, então, diante da luta da civilização contra a barbárie.

Ainda que o principal líder da extrema direita brasileira tenha se desidratado, não dá para deixar de reconhecer que em torno de 25 % dos brasileiros ainda lhe devota fidelidade. Todavia, o golpismo é muito mais uma ação retórica do que um planejamento inteligente capaz de se efetivar. Mas essa possibilidade de ruptura fica sendo alimentada, até para que se mantenha o grupo mais fiel unido. É um movimento que gerou frutos em alguns setores da sociedade brasileira e levará décadas para que possamos respirar os ares da democracia inteiramente tranquilos, livres das ameaças golpistas.

www,reporteriedoferreira.com.br Por Rui Leitão- jornalista, advogado, poeta e escritor




PORQUE A DIREITA REJEITA PAULO FREIRE: Escrito Por Rui Leitao

 

PORQUE A DIREITA REJEITA PAULO FREIRE: Escrito Por Rui Leitao

 

Temos assistido com muita frequência manifestações de ataques à memória de Paulo Freire. Porque será que o patrono da educação brasileira tanto incomoda a direita? O seu trabalho em favor da educação é reconhecido no mundo inteiro. Mas no Brasil de agora, o próprio governo insiste em ignora-lo.

Mas a resposta vem com facilidade. O educador pernambucano foi considerado subversivo pela ditadura militar, forçando-o, inclusive, ao exílio, em razão do seu projeto pedagógico que buscava a conscientização política do povo, objetivando a emancipação social e cultural das classes menos favorecidas e excluídas das políticas públicas. Esse é o grande motivo de tanta rejeição. Como o governo atual se mostra admirador do sistema de repressão que vivemos após o golpe de 1964, tudo o que naquele tempo se fazia ou condenava, recebe a aprovação dos que estão eventualmente no poder. Segundo os ditadores, conforme consta em documentos que determinavam a sua prisão, Paulo Freire era “homem notoriamente ligado à política esquerdista”.

Uma de suas obras mais conhecidas é a “Pedagogia do Oprimido”. Claro que os conservadores e reacionários de direita nunca aceitariam tal orientação educacional. É o que chamam de “doutrinação de esquerda”. Predomina a justificativa ideológica das classes dominantes que não quer considerar o povo como sujeito de direitos. A concepção freiriana entendia a educação como um ato político e de cultura. Tudo o que não deseja os que o renegam.

A educação tem que ser democrática, participativa, oferecendo condições a que cada cidadão participe efetivamente da construção de sua nação. Por isso foi, e está sendo considerado novamente, “elemento perigoso”, uma vez que contraria os que querem um sistema de ensino que se afaste de qualquer caráter social. A escola tem que ser base para a formação de cidadania.

Portanto, não é de se estranhar esse abespinhamento da direita brasileira com Paulo Freire, um dos educadores, pedagogos e filósofos mais consultados pelas universidades do mundo inteiro. Para ele “estudar não é um ato de consumir idéias, mas sim de criá-las e recriá-las”. Negar o seu legado é o interesse maior desse movimento contemporâneo ultraconservador no Brasil.

 

www.reporteriedoferreira.com.br  Por  Rui Leitão, Jornalista, advogado e escrito.