Publicado no jornal A UNIÃO edição de hoje DONA CREUSA PIRES; Rui Leitao

Publicado no jornal A UNIÃO edição de hoje

DONA CREUSA PIRES; Rui Leitao

Em 1928 nascia em João Pessoa uma mulher que se tornaria muito conhecida por sua atuação dinâmica na vida cultural, política, econômica e social da Paraíba: Dona Creusa Pires. Era casada com uma figura extraordinária, o empresário Adrião Pires. Aos 13 anos de idade já podia ser vista trabalhando como vendedora e depois como auxiliar de escritório num estabelecimento comercial de João Pessoa. Concluiu o curso técnico em Contabilidade pela Academia Paraibana de Comércio. Em 1992 se elegeu para integrar a Câmara de Vereadores de João Pessoa, tendo sua atuação destacada pelas causas sociais que abraçava, especialmente em favor dos idosos. Na rádio Tabajara apresentava, às segundas-feiras o programa “Melhor Idade no Ar”. Foi diretora da Associação Comercial da Paraíba, da Câmara dos Dirigentes Lojistas e da Federação do Comércio.

Criou o Clube da Melhor Idade da Paraíba e nas prévias carnavalescas da Capital organizou o bloco da Melhor Idade, integrando o projeto Folia de Rua, que se concentrava no Busto de Tamandaré na segunda-feira. No teatro escreveu e apresentou peças encenadas por seu grupo, dentre as quais: “A verdadeira historia de chapeuzinho vermelho e sua vovozinha muito pirada”, “Pastoril dramatizado da 3º idade” e as danças: “Ciranda, Luar do Sertão, e Ararunas”. Foi diretora do abrigo de idosos Associação Metropolitana de Erradicação da Mendicância (Amem).

Com o marido formava o casal de comerciantes mais ricos da Paraíba nas décadas de 60 e 70. Construíram o Edifício Manoel Pires e a Gran Pires, a primeira e maior loja de departamentos do Estado, e juntos inauguraram a primeira escada rolante instalada na Paraíba, apresentada à população num desfile pelas ruas do centro da cidade, em cima de um caminhão. O público via aquele equipamento com curiosidade e ansiedade em vê-lo funcionando.

Houve uma época em que a mansão em que residia, em Miramar, tornou-se o primeiro hotel de luxo de João Pessoa. Foram seus hóspedes os presidentes Castelo Branco e Costa e Silva, além de artistas famosos como Jô Soares, Vinicius de Moraes, Roberto Carlos, Toquinho, Maria Creusa, dentre outras celebridades. Embora recebendo em sua casa visitas tão ilustres, dona Creusa continuava a mesma, com sua forma de vestir sem ostentações, dando provas de que a singeleza pode muito bem conviver com a opulência, sem afetar a personalidade das pessoas. Fazia isso com impressionante competência.

Faleceu aos 80 anos de idade, vítima de um câncer no intestino e foi sepultada com a camisa do Bloco da Melhor Idade. O cortejo foi acompanhado por milhares de pessoas, políticos e líderes empresarias do Estado, quando lhe foram prestadas as últimas e merecidas homenagens, pelo tanto que ela fez por nossa terra. Em vida recebeu a medalha de Epitácio Pessoa, a mais alta comenda da casa, por propositura do deputado Zenóbio Toscano.

Dona Creusa contribuiu, junto com seu marido, para o desenvolvimento de nossa cidade e nos ofereceu o valioso ensinamento de que a fortuna não modifica os seres humanos do bem, nem os circunstanciais fracassos abatem os fortes, fazendo-nos entender que a riqueza patrimonial é apenas um detalhe. Na verdade o que enobrece o indivíduo é sua formação moral e espiritual. Vivenciou o apogeu e a decadência, sem jamais perder a postura digna de quem faz as coisas certas, convicta de que as adversidades devem ser encaradas com altivez, coragem e persistência.

www.reporteriedoferreira.com.br Por Rui Leitão, advogado, jornalista, poeta, escritor