Churrascaria Bambu, pedaço memorável da boêmia pessoense Sérgio Botelho

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. Churrascaria Bambu, pedaço memorável da boêmia pessoense
Sérgio Botelho
– Impossível falar da década de 1960 e início da de 1970 sem lembrar da Churrascaria Bambu. Local que acolhia a elite intelectual pessoense e paraibanos e artistas nacionais e estrangeiros e todas as tribos possíveis de noctívagos ao longo de muito tempo. Paulo Pontes, Ipojuca Pontes, Geraldo Vandré, Linduarte Noronha, Wladimir Carvalho, Virgínius da Gama e Melo, Marcos Tavares, Barreto Neto, Anco Márcio, Juarez Batista e Carlos Aranha, além de outras celebridades e subcelebridades da vida pessoense, passaram por suas mesas e saborearam da cerveja e do rom Montilla (uma das bebidas mais procuradas nos bares pessoenses na época), ali servidos.
Mas também da peça de resistência do lugar, comandado pelo seu proprietário, Domingos Sávio Monteiro, que era o galeto, servido com fartura e presteza, acompanhado de vinagrete e arroz, por garçons como José Paulo e Batista. Uma delícia para nenhum comensal botar defeito. Dois de seus mais fervorosos frequentadores eram Caixa d’Água e Mocidade, com destaque para o primeiro que, quando da sua derrubada, em 1973, passou dias a fio sentado num dos bancos da Lagoa acompanhando a queda de pedra por pedra, haste por haste de bambu.
A Bambu coincidia com o final da rua Desembargador Souto Maior – originalmente, rua São José – justamente embaixo do bambuzal que adorna o Parque Solon de Lucena. Para não se diferenciar do ambiente que lhe servia de moldura, foi erguida com a utilização do próprio bambu aliado à alvenaria. Dessa forma, nunca, absolutamente, nunca fez mal ao ambiente original do parque, nem muito menos ao seu visual. Quando se fala em Bambu e de seu arruinamento logo vem à baila, como motivo, um badalado assassinato que ali aconteceu patrocinado por filhos de pessoas influentes da época. Pessoalmente, não vejo isso como motivo, já que tal crime não foi patrocinado pelos proprietários do empreendimento nem fazia parte do modus operandi dos seus frequentadores.
Para compensar a perda do ponto, a prefeitura municipal cedeu um espaço no Parque Arruda Câmara para que os proprietários da Bambu explorassem um outro bar-restaurante de nome Paraibambu, sobre o qual até já falei por aqui. Mas que, apesar do brilho de músicos como Fernando Aranha e Ademir Sorrentino, ases da bossa-nova local, em meio a paradisíaco ambiente, nunca substituiu o que representou a Bambu durante sua existência. Infelizmente, a Bambu foi ao chão, e desapareceu do mapa, para nunca mais!
(A foto foi postada por Zé Marcos Mello no grupo Paraíba Fatos e Fotos Antigas, do Facebook)
Pode ser uma imagem de parquímetro, rua e texto que diz "1960 - Churrascaria Bambu no Parque Solon de Lucena."



TUNEL DO TEMPO: Por Gilvan de Brito

TUNEL DO TEMPO: Por Gilvan de Brito

 

Agora, voltando ao passado, lembro-me com saudades do futuro, do progresso e dos tempos modernos, vividos nos anos setenta e oitenta em João Pessoa. Era uma fase de expectativas diante do surgimento do novo: LP de alta fidelidade, fitas cassetes de uso prático, filmadoras de mão e outras facilidades em todos os segmentos da vida. Homens pisando na Lua, ótimas músicas, excelentes compositores, grandes filmes. Havia até jornais diários (Jornal do Brasil, Correio da Paraíba,

O Momento, O Norte, Diário da Borborema, A União, trazendo sempre informações do dia anterior e nos atualizando com notícias completas de todo o mundo. Tinha uma ditadura mascarada e desmoralizada onde bastavam nas ruas os estudantes para lutarem contra as baionetas dos militares e sem qualquer resquício de medo e o empurrarem de volta aos quartéis.

E a Churrascaria Bambu? E o Pavilhão do Chá? E o Ponto de Cem Reis onde a fina intelectualidade se reunia misturada ao povo, nos fins de tarde, para tomar café São Braz e filosofar sobre a vida e à morte; E o animado carnaval do bate-latas e bloco dos sujos da Lagoa com direito a corso e lança-perfume? E o animadíssimo carnaval social do Cabo Branco, Astreia, Esquadrilha V, Boêmios Brasileiros, AABB e Internacional? E o Hotel Tambaú (antigo) onde alugávamos calções para o banho e guardávamos nossa roupa? E a rádio Tabajara nos esportes e a rádio Arapuan na política? Nossos times viajavam ao Recife e venciam o Sport no sábado e o Santa Cruz no domingo. Havia o nosso Botafogo, representando o Brasil, na Europa (escrevi até um livro sobre este périplo) e, enfim, muito mais solidariedade humana, melhor qualidade do ensino, companheirismo e confiança nas pessoas.

Não sei quanto tempo isso vai durar para chegarmos novamente aqueles anos de expectativas; espero que seja no menor espaço de tempo, após esta pandemia que nos atormenta. Eu sei, porque vivi.

 

www.reporteriedoferreira.com.br  Givan de Brito- Jornalista, Advogado e Escritor