Ameaçado, Bolsonaro paga caro para evitar impeachment

Dependência do Centrão, das quais vários líderes enfrentam investigações de corrupção, desmente a promessa de campanha de limpar a política

Presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto
29/06/2021 REUTERS/Adriano Machado
Presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto 29/06/2021 REUTERS/Adriano Machado

Foto: Reuters

O presidente Jair Bolsonaro está entre a cruz das ameaças de impeachment e a espada do apoio público declinante enquanto escândalos de corrupção envolvendo acordos de compra de vacinas contra covid-19 rondam seu governo.

Por um lado, se denunciar aliados do Congresso ligados a supostas tentativas de lucrar com encomendas de vacinas, Bolsonaro arrisca perder o apoio do grupo volúvel de partidos do Centrão aos quais se aliou para garantir que as iniciativas de impeachment naufraguem.

Por outro, se escolher proteger políticos atingidos por escândalos e seus partidos, Bolsonaro pode ficar maculado por acusações de corrupção antes da eleição presidencial do ano que vem – e já está em baixa nas pesquisas.

O escândalo envolvendo a vacina indiana Covaxin, no qual aliados de Bolsonaro são acusados de fazer pressão indevida em autoridades do Ministério da Saúde para acelerarem a compra do imunizante, torna-se um pesadelo para o presidente, em parte porque ele supostamente envolve o líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR). Bolsonaro e Barros negam qualquer irregularidade.

As acusações dão aos oponentes de Bolsonaro ampla munição para atacá-lo, e a dependência do presidente das siglas de Centrão, das quais vários líderes enfrentam investigações de corrupção, desmente a promessa de campanha de limpar a política brasileira que o elegeu em 2018.

“Bolsonaro caminha para um processo contínuo de enfraquecimento. É difícil ainda dizer se isso pode possibilitar a abertura de um processo de impeachment, mas tende a fragilizá-lo na disputa eleitoral”, disse Claudio Couto, cientista político da Fundação Getulio Vargas.

Mais de meio milhão de brasileiros já morreram de covid-19, e mesmo assim o Brasil está atrás de muitos outros países na vacinação – só 11,8% de sua população está totalmente imunizada (ou seja, com as duas doses de vacina aplicadas), o que torna as alegações de corrupção a respeito de encomendas de vacinas particularmente prejudiciais para o presidente.

Caso Covaxin

CPI da Covid do Senado descobriu uma suposta corrupção envolvendo elementos do Ministério da Saúde e parlamentares pró-Bolsonaro acusados de tentar pagar a mais pela Covaxin.

Nesta sexta-feira, 2, após pedido de três senadores da oposição, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a investigação de Bolsonaro por prevaricação. Os parlamentares argumentam que o presidente não tomou providências após ser alertado sobre supostas irregularidades envolvendo a Covaxin.

É improvável que o inquérito derrube Bolsonaro, mas produz manchetes diárias que aumentam as percepções públicas de incompetência e suspeitas de corrupção no governo.

Suposto pedido de propina

Na quarta-feira, 30, o Ministério da Saúde anunciou a exoneração do cargo do então diretor de Logística da pasta, Roberto Dias, após ele ser acusado de pedir propina para fechar um outro acordo de compra de vacinas contra a covid-19.

Também na quarta, parlamentares de todo o espectro político, grupos sociais e advogados apresentaram um “superpedido” de impeachment coletivo, combinando dezenas de pedidos anteriores que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), outro aliado de Bolsonaro, ignorou.

Alguns políticos começam a desertar o Centrão que blinda Bolsonaro. Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo e presidente do PSD, o fez no mês passado, cogitando apresentar um candidato presidencial próprio no ano que vem.

Uma pesquisa publicada na semana passada pelo instituto Ipec mostrou que a desaprovação ao governo Bolsonaro subiu para 49%, mais do que o dobro da taxa de aprovação de 24%. O Ipec confirmou outras sondagens que mostram que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva derrotaria Bolsonaro facilmente se a eleição presidencial do ano que vem acontecesse agora.

“Agora, com a popularidade declinante e com os recursos também minguantes do governo cada vez menores, pode ser que o Centrão mais na frente o abandone, porque já fez isso no passado”, opinou Carlos Melo professor e cientista político do Insper.

Os casos anteriores de impeachment no Brasil são Fernando Collor, que renunciou para evitá-lo em 1992, e Dilma Rousseff, do PT, afastada do cargo em 2016.

Melo diz que Bolsonaro buscou blindagem com o Centrão no momento em que Fabrício Queiroz – ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente – foi preso o ano passado e ele estava pressionado.

“Bolsonaro é mais dependente do Centrão que o Centrão dele. É um jogo de interesses. Enquanto Bolsonaro tiver algo a dar – cargos, recursos – isso tende a continuar. Quando não ha mais nada a dar do ponto de vista fisiológico, e quando esse projeto de poder parece entrar em perigo, o Centrão muda de barco, e adere rapidamente a outro projeto de poder. Não seria a primeira vez”.

www.reporteriedoferreira.com.br  / Terra




Lira escolhe relator favorável à prisão de Daniel Silveira; centrão deve manter

Deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) publicou ontem (17) um vídeo em que defende a prisão do parlamentar; expectativa é que a Casa mantenha a prisão de Silveira

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) será o relator do caso Daniel Silveira; deputado é favorável à manutenção da prisão
Fotos Públicas

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) será o relator do caso Daniel Silveira; deputado é favorável à manutenção da prisão

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), escolheu o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP) como relator da votação que acontecerá amanhã (19) para decidir se a prisão do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) será ou não mantida.

Em suas redes sociais, o parlamentar do PSDB já publicou um vídeo se mostrando à favor do deputado bolsonarista, que foi preso terça-feira por defender o AI-5 e incitar violência contra ministros do  Supremo Tribunal Federal (STF).

“A conduta do parlamentar foi inadmissível e inaceitável, porque não se pode conceber que, a pretexto de se estar usando a liberdade de expressão, você possa injuriar e difamar quem quer que seja, mesmo que você não concorde com decisões do ministro do Supremo”, disse Carlos Sampaio em vídeo publicado ontem (17).

“Não se pode conceber que, a pretexto dessa mesma liberdade, você venha a incitar movimentos antidemocráticos e mais do que isso o uso da violência e da ameaça para constranger ministros da mais alta corte do nosso país”, continua.

 Daniel Silveira (PSL), preso por incitar violência ao STF e por defender o AI-5
O Antagonista

Daniel Silveira (PSL), preso por incitar violência ao STF e por defender o AI-5

Centrão deve seguir o relator

A expectativa é que a ampla maioria da Casa vote pela manutenção da prisão do parlamentar. Segundo apuração da CNN Brasil, apenas PSL, Podemos, Pros, Novo e PSC se manifestaram contra a prisão do deputado.

Dessa forma, o cálculo é de que cerca de 350 parlamentares votarão para que Silveira continue preso.

www.reporteriedoferreira.com.br  Por Ig




Eleições no Congresso: Bolsonaro está fortalecido ou refém do centrão? Entenda

Especialistas ouvidos pelo iG analisam as consequências da eleição de Arthur Lira para a presidência da Câmara e de Rodrigo Pacheco para o Senado

Bolsonaro em cerimônia de abertura do ano legislativo
O Antagonista

Bolsonaro em cerimônia de abertura do ano legislativo

Desde a última segunda-feira (1) o Congresso tem novos presidentes: Arhur Lira (PP-AL) foi eleito na Câmara dos Deputados, e Rodrigo Pachego (DEM-MG) no Senado. Ambos são representantes do chamado centrão e apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Ameaçado pela queda de popularidade, pela gestão problemática da pandemia e pelos 69 pedidos de impeachment protocolados no Congresso, os pleitos no legislativo são considerados decisivos para a continuidade do governo do presidente da República.

Mostra disso é que, para garantir a vitória dos parlamentares, Bolsonaro desembolsou R$ 630 milhões em emendas parlamentares  e prometeu cargos em ministérios que devem ser entregues nos próximos meses.

Mas, conforme explica Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper, o alinhamento pautado no “toma lá, da cá” deve custar caro para o presidente da República.

“Certamente Bolsonaro fica refém dessas promessas. É errôneo imaginar que nessa relação quem manda é o Bolsonaro. Na verdade, quem tem um poder muito maior de decisão agora é o centrão. O presidente está nas mãos dos parlamentares para pautar sua agenda; seja reformas, seja pautas de costumes, ou, também, aquilo que ele não quer que seja pautado, como investigações sobre seus aliados, seu filho e sobre sua atuação na pandemia”, explica o cientista político.

Já Sérgio Praça, cientista político da FGV-SP, enxerga a aliança mais como uma via de mãos duplas. Segundo ele, o alinhamento será “um processo bastante dinâmico e incerto”. “Essas promessas de cargos, ministérios e liberação de verbas vão ser concretizadas ao longo do tempo, a conta-gotas, para que o centrão avalie se o presidente está cumprindo o combinado, e para o presidente avaliar se o centrão está cumprindo o combinado também”.

Reforma Ministerial

Como parte do acordo, Bolsonaro certamente terá que promover mudanças em seus ministérios para alocar políticos de sua base aliada. A estratégia do Planalto, porém, é fazer isso a “conta-gotas”. São dois os principais motivos: minimizar o risco de sofrer traições em votações de projetos, e evitar que partidos do centrão exijam mais espaço no primeiro e segundo escalões em um futuro próximo, obrigando Bolsonaro a entregar mais cargos do que o pretendido inicialmente.

Em um primeiro momento, Bolsonaro sinalizou estar disposto a trocar o comando de apenas duas pastas: Cidadania, ocupada hoje por Onix Lorenzoni, e Desenvolvimento Regional, comandado por Rogério Marinho.

“Cidadania e Desenvolvimento Regional são um bom ponto de partida, principalmente porque Desenvolvimento Regional tem um grande potencial para ser importante ano que vem, já que questões ligadas a infraestrutura e pequenas obras são importantes eleitoralmente. O da Cidadania é um ministério com uma visibilidade relativamente alta e tem o controle do bolsa-família, então pode ser interessante. Mas isso não segura o centrão por todo o tempo, é apenas um bom começo”, analisa Sérgio Praça.

Para Consentino, a estratégia é inteligente por parte do Planalto, mas deve ser bem combinada com os parlamentares. “O custo de adotar essa estratégia é não parecer crível a quem você prometeu”, afirma.

www.reporteriedoferreira.com.br  Por Ig




Bolsonaro cede à ‘velha política’ e pode dar ao centrão liderança do governo e Ministério da Saúde

A articulação do governo Bolsonaro fracassou mais uma vez na votação sobre o Fundeb na Câmara dos Deputados. Ficaram evidentes as fragilidades da liderança do Major Vitor Hugo, da ala bolsonarista do PSL. Isto pode levar Bolsonaro a cair de vez nos braços do centrão, expoente do fisiologismo e da ‘velha política’, que o presidente jurava que ia banir

Jair Bolsonaro (Foto: Carolina Antunes – PR)

247 – Jair Bolsonaro ficou decepcionado com o desempenho dos seus seguidores no PSL e decidiu aumentar o espaço do centrão no governo. O Palácio do Planalto cogita entregar mais cargos de primeiro escalão ao bloco. Na campanha eleitoral Bolsonaro prometeu acabar com o que ele chama de ‘velha política’. Hoje parece cada vez mais dependente desse bloco, caracterizado pelo chamado toma lá dá cá.

Jair Bolsonaro avalia dar ao centrão a liderança do governo na Câmara e o comando do Ministério da Saúde.

O titular do Planalto já externou a aliados sua intenção de promover mudanças na articulação política de seu governo.

Reportagem dos jornalistas Gustavo Uribe e Julia Chaib relata que Bolsonaro reiterou essa intenção após a aprovação na Câmara nesta quarta-feira (22) da proposta que torna permanente o Fundeb.

Na votação do fundo da educação o governo Bolsonaro sofreu fragorosa derrota. Inicialmente,   tentou desidratar o texto e adiar a vigência do fundo para 2022. Com o risco de derrota, passou a apoiar a proposta em troca do compromisso de líderes partidários de endossar a criação do Renda Brasil, projeto de assistência social que pode substituir o Bolsa Família.

Bolsonaro se irritou com a atitude de seis deputados bolsonaristas do PSL, que, mesmo com a mudança de posição do governo, votaram no primeiro turno contra o Fundeb, expondo uma fragilidade na articulação do Planalto e deixando a derrota à mostra.

 

Bolsonaro já mandou demitir a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) da vice-liderança do governo no Congresso. Ela foi um votos contrários ao Fundeb.

O presidente avalia agora acomodar Vitor Hugo, aliado de primeira hora, em uma autarquia federal e nomear o deputado Ricardo Barros (PP-PR) como líder do governo.

Toda a preocupação de Bolsonaro é garantir votos para futuras votações de interesse do governo, como a reforma tributária, e atender a um pleito dos deputados do centrão, que querem nomear um nome do grupo para a articulação política.

 

O nome de Ricardo Barros é avaliado por Bolsonaro para assumir o Ministério da Saúde após a saída do atual ministro, o general Eduardo Pazuello. O militar já disse ao presidente que, após o arrefecimento da crise da Covid-19, deixará a pasta.

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Datafolha: 67% reprovam a  aproximação de Bolsonaro com o Centrão; 20% aprovam

 

Bolsonaro
Marcos Corrêa/PR

Atitude era muito criticada pelo presidente durante a campanha eleitoral

Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada pelo jornal “Folha de S.Paulo” no final da noite desta sexta-feira (29) mostra 67% dos entrevistados acham que o  presidente Jair Bolsonaro age mal ao negociar cargos e verbas com deputados e senadores do Centrão. Outros 20% consideram que o presidente faz bem e 2% diz que Bolsonaro não está negociando.

A instituto ouviu 2.069 pessoas maiores de idade na segunda e na terça-feira. As entrevistas foram feitas por telefone. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais. O levantamento mostra ainda que 11% não souberam responder ao questionamento.

Outra pergunta feita aos entrevistados foi se o presidente está cumprindo a promessa de não negociar cargos e verbas em troca de apoio. Para 63%, Bolsonaro não está cumprindo, enquanto 29% acreditam que sim e 8% não sabem.

www.reporteriedoferreira.com.br Pot Ig