Nonato Guedes

Com o cenário pré-eleitoral praticamente definido em João Pessoa na órbita do seu esquema político, mediante reiteração da chapa Cícero Lucena (PP) Leo Bezerra(PSB) à reeleição, o governador João Azevêdo volta as atenções para Campina Grande, o segundo maior colégio eleitoral do Estado, onde há variedade de opções dentro do seu bloco para dar combate ao prefeito Bruno Cunha Lima, candidato a um novo mandato pelo União Brasil. O chefe do Executivo e principal líder socialista paraibano cravou para março, já a partir do dia primeiro, a deflagração de entendimentos com correligionários e outros agentes políticos para tentar encaminhar ou até mesmo apressar definições. Há nomes de expressão no radar, como os do secretário de Saúde, Jhony Bezerra (PSB) e o da senadora Daniella Ribeiro (PSD), mas serão levadas em conta indicações do Fórum Pró-Campina em torno do deputado estadual Inácio Falcão, do PCdoB, do secretário André Ribeiro (PDT) e do professor Márcio Caniello (PT).

A discussão em Campina Grande passa pela interlocução com o Republicanos, cujo diretório municipal é presidido pelo deputado federal Murilo Galdino, irmão do deputado estadual Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa. Tanto Adriano quanto Murilo têm feito gestões para atrair para a sigla o ex-prefeito Romero Rodrigues, atual deputado federal pelo Podemos, que está distanciado do prefeito Bruno Cunha Lima, embora não assuma, de público, postura de rompimento com ele. Romero está sendo estimulado a se lançar novamente candidato a prefeito ou, em último caso, dar aval ao lançamento da sua mulher, doutora Micheline, para vice numa chapa majoritária provavelmente encabeçada por Jhony. O União Brasil, através do senador Efraim Filho, faz os mesmos acenos na direção de Micheline, adicionando como trunfo um suposto apoio à candidatura de Romero ao governo do Estado em 2026 pelas oposições. A movimentação em torno de Romero fortalece a impressão de que o ex-prefeito é uma espécie de fiel da balança na disputa eleitoral vindoura na Rainha da Borborema.

O governador João Azevêdo não chega a assumir compromisso oficial com uma pretensão de Romero Rodrigues, mas admite dialogar com o ex-prefeito para a construção de uma chapa competitiva, se houver interesse concreto da parte dele em somar com a oposição. É uma aposta que divide opiniões dentro do próprio grupo liderado por Azevêdo e que inibe os passos, por exemplo, da senadora Daniella Ribeiro na direção de uma candidatura ao executivo municipal campinense. O pai de Daniella, o ex-prefeito e ex-deputado Enivaldo Ribeiro, que é filiado ao PP, chegou a se inquietar com o “rame-rame” de indefinições e a se lançar como alternativa para o páreo, alegando dispor de legenda e de uma folha de serviços prestados à cidade como homem público. Na verdade, a grande indefinição se dá na seara oposicionista local, já que do lado do prefeito Bruno Cunha Lima ele tem o apoio garantido do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e do ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), ambos ex-candidatos ao governo nas eleições de 2022. Veneziano e Pedro prometem se empenhar para reforçar a recandidatura de Bruno, em meio a gestões para persuadir o ex-prefeito Romero Rodrigues a permanecer no agrupamento em que tem militado até agora na sua trajetória política.

Enquanto não avançam algumas definições indispensáveis à formatação do jogo eleitoral deste ano em Campina Grande, o governador João Azevêdo passou a investir de forma maciça, ultimamente, em obras, serviços e investimentos da administração estadual na Rainha da Borborema, cumprindo agendas periódicas de que participam o secretário Jhony Bezerra, o vice-governador Lucas Ribeiro, filho da senadora Daniella Ribeiro e outros líderes alinhados com o governo do Estado. Bruno Cunha Lima, por sua vez, conta com o reforço da atuação dos senadores Veneziano e Efraim para conseguir recursos em Brasília e destravar pleitos de interesse da população campinense que enfrentam demandas burocráticas. As forças políticas que se movimentam em campos opostos travam, simultaneamente, uma guerra de comparações em torno de feitos administrativos que beneficiam diretamente a população, o que acirra os ânimos e acalora os debates através de redes sociais e de meios de comunicação, numa prévia dos embates que serão travados a céu aberto durante a disputa propriamente dita a ser deflagrada pelos respectivos agrupamentos.

O anúncio feito pelo governador de que já em março se debruçará, com seus aliados, sobre o panorama pré-eleitoral em Campina Grande comprova o nível de engajamento que João Azevêdo pretende ter nas eleições municipais deste ano em todo o Estado. Ele sabe que o pleito vindouro é importante para acumular forças e vitórias rumo à Estação 2026 quando estará em jogo a sua própria sucessão ao governo, bem como a renovação de duas cadeiras no Senado Federal, uma das quais possivelmente seja disputada pelo próprio Azevêdo. Embora insista que seu estilo não é de imposição e rejeite a pecha de expoente do “coronelismo político moderno”, o chefe do Executivo tem consciência de que não poderá cruzar os braços, mormente em regiões onde a construção de candidaturas competitivas enfrente dificuldades no seu esquema. Vai se engajar, sim, e ativamente, no processo, mediante articulação com os liderados que seguem sua orientação. O esquema comandado por Azevêdo distribui-se por várias siglas – e é com o reforço desses partidos que o governador vai procurar dar uma demonstração de força que lhe dê cacife para os embates mais acirrados prenunciados para dentro de dois anos.