Caso Marielle: Chiquinho Brazão chora e diz não conhecer Lessa, em audiência no STF

Deputado está preso desde março deste ano sob a acusação de ser um dos mandantes do crime

Por

iG Último Segundo

|21/10/2024 16:55

O deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) em imagem de setembro de 2023
Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

O deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) em imagem de setembro de 2023

O deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido) foi o primeiro a depor na audiência do Supremo Tribunal Federal ( STF ), nesta segunda-feira (21), que ouve os cinco réus acusados de serem os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco ( PSOL ) e do motorista Anderson Gomes , em 2018.

Durante depoimento, Brazão afirmou não conhecer Ronnie Lessa ou Élcio de Queiroz , os assassinos confessos do crime. O deputado enfatizou que nem ele nem seu irmão, Domingos Inácio Brazão , então conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro , tiveram qualquer contato com os acusados.

Publicidade

“Nunca tive contato com Ronnie Lessa. As pessoas são anônimas para você muitas das vezes. Não tenho dúvida de que ele poderia me conhecer, mas eu nunca na vida tenho lembrança de ter estado com essa pessoa”, disse Brazão ao juiz auxiliar do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, Airton Vieira.

O parlamentar também afirmou que seu irmão sequer conhecia a vereadora Marielle Franco. “Quando houve o crime, ele comentou: ‘O que tão sério fez essa jovem para um crime tão grave?’. Ele não conhecia, com certeza”, declarou.

Chiquinho Brazão afirmou ainda que mantinha uma excelente relação com Marielle e que ela tinha um “futuro brilhante”.

“Foi maldade o que fizeram. Marielle tinha um futuro brilhante. Ela era uma vereadora muito amável”, lamentou.

Durante o depoimento, o parlamentar chorou ao falar de sua família. Ele se emocionou ao lembrar da filha, do neto e de sua rotina antes da prisão, mencionando suas idas à igreja e o trabalho com comunidades, especialmente em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

Acusações de Ronnie Lessa

Chiquinho Brazão está  preso desde março deste ano sob a acusação de ser um dos mandantes do crime. Apesar de negar o conhecimento de Ronnie Lessa, o ex-policial e assassino confesso de Marielle afirmou, em delação premiada à Polícia Federal (PF), que teria feito um acordo de US$ 10 milhões com os irmãos Brazão.

Segundo Lessa, Domingos e Chiquinho ofereceram um loteamento em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, como parte do pagamento pelo assassinato.

Lessa revelou que o acordo envolvia milhões de reais, mencionando que na época falavam em R$ 100 milhões, valor que estaria relacionado ao lucro gerado pelos dois loteamentos oferecidos. “Ninguém recebe uma proposta de US$ 10 milhões simplesmente para matar uma pessoa. Uma coisa assim, impactante”, afirmou Lessa aos investigadores.

Depoimentos ao STF

Além de Chiquinho Brazão, também são ouvidos Domingos Brazão, o delegado Rivaldo Barbosa de Araújo Júnior, o policial militar Ronald Paulo de Alves Pereira e Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe, que responde por organização criminosa.

O caso está sendo conduzido pelo gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal. Os depoimentos seguem sendo realizados por videoconferência, através do aplicativo Zoom, dando continuidade às oitivas iniciadas em 12 de agosto com testemunhas de defesa, acusação e o delator do caso.




Quem são os 129 deputados bolsonaristas que votaram para soltar Chiquinho Brazão

O deputado federal expulso do União Brasil é apontado como um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco, ao lado do irmão Domingos Brazão e do delegado Rivaldo Barbosa

Chiquinho Brazão e Marielle Franco.Créditos: Reprodução

A Câmara dos Deputados acaba de votar em plenário nesta quarta-feira (10) o parecer da Comissão de Constituição e Justiça que pedia a manutenção da prisão do deputado federal Chiquinho Brazão (ex-União Brasil). 277 deputados votaram favoráveis ao parecer e, graças a eles, o homem apontado como um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco permanecerá preso.

No entanto, outros 129 deputados – quase a totalidade da extrema direita, daqueles que costumam pedir “punições mais severas” para criminosos – votaram para soltar Brazão [veja abaixo quem são eles].

Chiquinho Brazão foi preso em 24 de março, um domingo, pela Polícia Federal, ao lado do irmão Domingos Brazão – conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do RJ – e de Rivaldo Barbosa, delegado e então chefe da Polícia Civil do Rio que atuou para travar as investigações acerca do crime.

O trio foi apontado como mandante da execução na delação premiada de Ronnie Lessa, o homem que efetivamente apertou o gatilho naquela noite de 14 de março de 2018. O deputado está no Presídio Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, que é de segurança máxima. Ele foi expulso do União Brasil, seu ex-partido, após sua prisão como mandante do assassinato.

Contra Chiquinho Brazão pesam as acusações derivadas da investigação da Polícia Federal contra o maior crime político desde a redemocratização. Também pesa a possibilidade de que ele fuja do país enquanto as investigações e o processo correm. Mas os parlamentares bolsonaristas e a sua defesa também apontaram os seus argumentos.

Cleber Lopes, advogado de Chiquinho Brazão, falou na sessão em defesa do seu cliente. Entre seus argumentos, ele aponta que Brazão foi surpreendido em sua residência num domingo (24 de março), dia em que teoricamente mandados de prisão não são cumpridos, e levado para Brasília “algemado e exposto como um troféu para a mídia”.

“Foi lançado ao sistema penitenciário federal em lugar reservado a presos de alta periculosidade, que comandam facções criminosas. Ele é inserido nesse sistema de forma inadequada (…) e antes mesmo que a defesa pudesse se reunir com ele no Presídio Federal de Brasília, ele foi transferido de madrugada para o Presídio Federal de Campo Grande (MS), onde está submetido a regime disciplinar diferenciado, com 23 horas de isolamento na cela diário, e apenas 1 hora de banho de sol sem a companhia de nenhum outro interno”, disse.

Para o advogado, a prisão atentaria contra a dignidade da pessoa humana. Lopes também afirma que não teve acesso à delação premiada de Ronnie Lessa, que confirmou seu cliente como mandante do crime, e que isso seria uma ilegalidade da parte do Supremo Tribunal Federal.

Veja a lista dos deputados que votaram a favor de Chiquinho Brazão

  • Abílio Brunini (PL-MT)
  • Alberto Fraga (PL-DF)
  • Alessandro Leite (União Brasil-SP)
  • Alexandre Leite (União-SP)
  • Altineu Côrtes (PL-RJ)
  • Amália Barros (PL-MT)
  • Ana Paula Leão (PP-MG)
  • André Ferreira (PL-PE)
  • André Fernandes (PL-CE)
  • Antonio Andrade (Republican-TO)
  • Antônio Doido (MDB-PA)
  • Bia Kicis (PL-DF)
  • Bibo Nunes (PL-RS)
  • Cap. Alberto Neto (PL-AM)
  • Capitão Alden (PL-BA)
  • Carla Zambelli (PL-SP)
  • Carlos Gaguim (União-TO)
  • Carlos Jordy (PL-RJ)
  • Caroline de Toni (PL-SC)
  • Cb Gilberto Silva (PL-PB)
  • Cel. Chrisóstomo (PL-RO)
  • Chris Tonietto (PL-RJ)
  • Coronel Assis (União-MT)
  • Coronel Fernanda (PL-MT)
  • Coronel Meira (PL-PE)
  • Da Vitoria (PP-ES)
  • Dal Barreto (União-BA)
  • Dani Cunha (União-RJ)
  • Daniel Freitas (PL-SC)
  • Daniela Reinehr (PL-SC)
  • Daniela Waguinho (União-RJ)
  • Danilo Forte (União-CE)
  • David Soares (União-SP)
  • Del. Éder Mauro (PL-PA)
  • Del. Fabio Costa (PP-AL)
  • Delegado Bilynskyj (PL-SP)
  • Delegado Marcelo (União-MG)
  • Delegado Ramagem (PL-RJ)
  • Detinha (PL-MA)
  • Douglas Viegas (União-SP)
  • Dr Fernando Máximo (União-RO)
  • Dr. Allan Garcês (PP-MA)
  • Dr. Frederico (PRD-MG)
  • Dr. Jaziel (PL-CE)
  • Dr. Luiz Ovando (PP-MS)
  • EduardoBolsonaro (PL-SP)
  • Eli Borges (PL-TO)
  • Elmar Nascimento (União-BA)
  • Eros Biondini (PL-MG)
  • Evair de Melo (PP-ES)
  • Felipe Saliba (PRD-MG)
  • Fernanda Pessôa (União-CE)
  • Fernando Rodolfo (PL-PE)
  • Filipe Barros (PL-PR)
  • Filipe Martins (PL-TO)
  • General Girão (PL-RN)
  • General Pazuello (PL-RJ)
  • Geovania de Sá (PSDB-SC)
  • Giacobo (PL-PR)
  • Gilberto Abramo (Republican-MG)
  • Gilvan da Federal (PL-ES)
  • Giovani Cherini (PL-RS)
  • Gustavo Gayer (PL-GO)
  • Gutemberg Reis (MDB-RJ)
  • Helio Lopes (PL-RJ)
  • Hugo Leal (PSD-RJ)
  • Jadyel Alencar (PV-PI)
  • Jefferson Campos (PL-SP)
  • Jorge Braz (Republican-RJ)
  • Jorge Goetten (PL-SC)
  • José Medeiros (PL-MT)
  • José Rocha (União-BA)
  • Julia Zanatta (PL-SC)
  • Juninho do Pneu (União-RJ)
  • Junio Amaral (PL-MG)
  • Júnior Mano (PL-CE)
  • Lafayette Andrada (Republican-MG)
  • Luciano Amaral (PV-AL)
  • Luciano Vieira (Republican-RJ)
  • Luiz Carlos Motta (PL-SP)
  • Luiz Lima (PL-RJ)
  • Luiz P.O Bragança (PL-SP)
  • Magda Mofatto (PRD-GO)
  • Marcel van Hattem (Novo-RS)
  • Marcelo Álvaro (PL-MG)
  • Marcelo Moraes (PL-RS)
  • Marcio Alvino (PL-SP)
  • Marcos Pollon (PL-MS)
  • Marcos Tavares (PDT-RJ)
  • Mario Frias (PL-SP)
  • Marussa Boldrin (MDB-GO)
  • Marx Beltrão (PP-AL)
  • Mauricio Marcon (Podemos-RS)
  • Mauricio do Vôlei (PL-MG)
  • Meire Serafim (União-AC)
  • Messias Donato (Republican-ES)
  • Murillo Gouvea (União-RJ)
  • Nicoletti (União-RR)
  • Nikolas Ferreira (PL-MG)
  • Osmar Terra (MDB-RS)
  • Otoni de Paula (MDB-RJ)
  • Pastor Diniz (União-RR)
  • Pastor Eurico (PL-PE)
  • Pastor Gil (PL-MA)
  • Paulinho Freire (União-RN)
  • Paulo Azi (União-BA)
  • Pedro Aihara (PRD-MG)
  • Pedro Westphalen (PP-RS)
  • Pezenti (MDB-SC)
  • Pr.Marco Feliciano (PL-SP)
  • Professor Alcides (PL-GO)
  • Raimundo Santos (PSD-PA)
  • Ricardo Salles (PL-SP)
  • Roberto Duarte (Republican-AC)
  • Rodolfo Nogueira (PL-MS)
  • Rosângela Reis (PL-MG)
  • Samuel Viana (Republican-MG)
  • Sanderson (PL-RS)
  • Saullo Vianna (União-AM)
  • Sgt. Gonçalves (PL-RN)
  • Silvia Waiãpi (PL-AP)
  • Sóstenes Cavalcant (PL-RJ)
  • Tião Medeiros (PP-PR)
  • Vermelho (PL-PR)
  • Vicentinho Júnior (PP-TO)
  • Vinicius Gurgel (PL-AP)
  • Wellington Roberto (PL-PB)
  • Zé Trovão (PL-SC)
  • Zé Vitor (PL-MG)
  • Zucco (PL-RS)



CCJ da Câmara aprova parecer pela prisão de Brazão e Lira promete votação no plenário ainda nesta quarta-feira,10

Chiquinho Brazão foi afastado do cargo na Câmara por decisão de Alexandre de Moraes. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
RELACIONADAS

A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou, por 39 votos a 25, o parecer do deputado Darci de Matos (PSD-SC) favorável a manter a prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ). A manutenção da prisão ainda precisa ser decidida pelo Plenário, o que deve ocorrer ainda nesta quarta, de acordo com o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).

O resultado acabou gerando surpresa, pela grande vantagem dos votos a favor da prisão. Brazão, que foi expulso do União Brasil, está preso desde o último dia 23. Ele é acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol) e do seu motorista, Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, no centro do Rio de Janeiro. Na época, Brazão era vereador na capital fluminense.

O parecer de Darci de Matos concorda com a tese do Supremo Tribunal Federal de que a prisão era necessária por atos de obstrução à justiça, os quais, segundo o Supremo, “continuavam a ser praticados ao longo do tempo”. Deputados só podem ser presos em flagrante de crime inafiançável.

Matos ressaltou que o que está em análise não é o assassinato de Marielle. “A situação que a Polícia Federal coloca como flagrância não decorre do homicídio, nós não estamos discutindo se o deputado assassinou a vereadora ou não. A flagrância decorre da obstrução permanente e continuada da justiça. E em organização criminosa o crime passa a ser inafiançável”, explicou.

O advogado de Brazão, Cleber Lopes, questionou o flagrante. “A Polícia Federal está investigando há meses. Estivesse o deputado em flagrante delito, será que a Polícia Federal teria protegido o parlamentar e não o teria prendido em flagrante?”, indagou.

Aspectos legais
Deputados favoráveis ao relaxamento da prisão de Brazão argumentaram que a CCJ não julga o crime em si, mas os aspectos legais da prisão. O deputado José Medeiros (PL-MT), por exemplo, afirmou que a Câmara tem uma instância para o julgamento político da questão, que é o Conselho de Ética. “Nós não podemos aqui endossar qualquer decisão que relativize a lei, como foi feito com o deputado Daniel Silveira, que está hoje preso. A corte deste País pode muito, mas pode dentro dos limites constitucionais estabelecidos. Nós não podemos fazer qualquer decisão aqui sobre achismos, e eu li esse material todo. Nós não temos elementos que corroborem o arcabouço, o roteiro”, afirmou.




Marielle Franco: PF prende suspeitos de serem mandantes do crime

Operação deste domingo (24) prendeu três suspeitos de estarem envolvidos no assassinato da vereadora em 2018

Por

iG Último Segundo

|24/03/2024 07:18

Suspeitos de serem os mandantes do crime foram detidos nesta manhã
Rena Olaz/Câmara Municipal do RJ

Suspeitos de serem os mandantes do crime foram detidos nesta manhã

Neste domingo (24), em operação conjunta da Procuradoria Geral da República, do Ministério Público do Rio de Janeiro e da Polícia Federal foram presos três suspeitos de serem os mandantes do  assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018.

Na ocasião, foram detidos Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Chiquinho Brazão, deputado federal do Rio de Janeiro, e Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil do Rio.

Além disso, foram expedidos 12 mandados de busca e apreensão na sede da Polícia Civil do Rio e no Tribunal de Contas do Estado.

As autoridades ainda investigam a motivação do crime, mas, a suspeita é de que esteja relacionada à expansão territorial de milícia no Rio de Janeiro.

Com o objetivo de surpreender os supostos mandantes do assassinato, os investigadores decidiram fazer a operação no início deste domingo. Segundo informações da inteligência da polícia, os suspeitos já estavam em alerta nos últimos dias, especialmente após o  Supremo Tribunal Federal (STF) homologar a delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa,  preso desde 2019 pelo assassinato da vereadora.

Ao aceitar o acordo,  Lessa indicou quem eram os mandantes do crime e falou sobre a motivação do assassinato.

Segundo Lessa, os supostos mandantes fazem parte de um grupo político poderoso no Rio de Janeiro, que tem interesses em diversos setores do Estado. Durante a delação, o ex-policial ainda deu detalhes sobre os encontros entre eles e indícios sobre as motivações.

Delação

Lessa começou a colaborar com a Polícia Federal após  Élcio de Queiroz entregá-lo como o executor dos assassinatos. A partir desse momento, ele revelou quem tinha o contratado para realizar o crime, contando detalhes de reunião antes e depois do assassinato.

O ex-PM afirmou ainda que um grupo político poderoso no Rio de Janeiro estava envolvido no crime.

Relembre o crime

Na noite de 14 de março de 2018,  Marielle e seu motorista foram vítima de homicídio quando o veículo em que estavam foi alvo de tiros no bairro do Estácio, localizado na região central da cidade. Os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram detidos em março de 2019, um ano após os assassinatos, e são apontados como os executores dos crimes.




Domingos Brazão: Quem é o suposto mandante da morte de Marielle?

Brazão já cometeu um assassinato na década de 1980 e é conhecido por ameaçar seus opositores

Home

Último Segundo

Por

|23/01/2024 12:44

Atualizada às 23/01/2024 13:25

Domingos Brazão, conselheiro afastado do TCE-RJ, é apontado em delação como mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco
Reprodução

Domingos Brazão, conselheiro afastado do TCE-RJ, é apontado em delação como mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco

Nesta terça-feira (23), o portal The Intercept Brasil revelou que Ronnie Lessa, o ex-PM acusado de matar a  vereadora Marielle Franco e o motorista dela, Anderson Gomes, delatou à Polícia Federal o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Brazão, como mandante do crime.

Contudo, os advogados de Lessa afirmaram desconhecer a suposta delação, revelada a princípio pelo jornal O Globo. Caso seja real,  o acordo ainda precisará ser homologado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), pois Brazão tem foro privilegiado devido ao seu posto de conselheiro vitalício do TCE-RJ.

Na suposta delação em questão, Ronnie Lessa teria dito que Brazão encomendou a morte de Marielle para se vingar de Marcelo Freixo, ex-deputado estadual pelo PSOL, hoje filiado ao PT e presidente da Embratur.

Procurado pelo iG, Freixo disse que por enquanto não deseja se pronunciar sobre o assunto. “A investigação não foi concluída, não tem delação assinada. Toda essa especulação pode atrapalhar a investigaçã, é preciso prudência. Quem fala sobre investigação é quem investiga. Fora isso, tudo é especulação.”

A professora de ciência política da UFRJ, Mayra Goulart, é muito importante esperar que a investigação avance para podermos ter certeza do que realmente aconteceu.

“Ronnie Lessa é criminoso, um matador que tem envolvimento com vários criminosos, vários políticos, que não são restritos ao âmbito do Rio de Janeiro. A família Brazão é uma família importante, mas ela está, de alguma maneira, restrita ao âmbito do Rio de Janeiro. O crime contra a Marielle pode atingir também políticos em âmbito nacional, e Domingos Brazão seria um bode expiatório muito interessante, porque é alguém que já tem uma trajetória ligada ao crime organizado, à milícia e, portanto, e tem esse confronto com o deputado federal Marcelo Freixo. Daí a possibilidade de ele ser um bode expiatório ou testa de ferro para proteger outros possíveis mandatários.”

Quem é Domingos Brazão?

Nascido no Rio de Janeiro em 7 de março de 1965, Brazão é um empresário do ramo dos postos de gasolina e político conhecido com uma longa carreira no estado. Seu histórico de problemas com a Justiça é tão longo quanto a sua carreira política.

No ano de 1987, no seu aniversário de 22 anos, Domingos Brazão matou um vizinho, Luiz Cláudio Xavier dos Reis, que apareceu no churrasco de comemoração acusando um de seus irmãos de ser amante da esposa dele. Ao deixar o local pilotando uma moto, Luiz foi perseguido por um carro e baleado na nuca, sem chance de se defender.

Domingos negou o crime a princípio, mas foi reconhecido por testemunhas e passou a alegar “legítima defesa”. “Matei, sim, uma pessoa. Foi um marginal que tinha ido à minha rua, na minha casa, no dia do meu aniversário, afrontar a mim e à minha família”, disse Brazão na Alerj. O processo foi adiado duas vezes na década de 90, depois passou oito anos parado sem qualquer explicação.

Em 2000, passou a tramitar no TJRJ, corte na qual, dois anos depois, a condenação foi rejeitada, fazendo com que o caso jamais tenha chegado ao Tribunal do Juri. “A Justiça me deu razão”, disse Brazão.

A família Brazão, como um todo, é conhecida por inspirar medo através de ameaças a seus adversários políticos, principalmente na zona oeste do Rio de Janeiro, seu principal reduto eleitoral. Tal fama lhes rendeu o apelido de “Irmãos Metralha”, numa referência aos personagens criminosos dos gibis da Disney.

De acordo com a professora de ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mayra Goulart, além de Domingos, a tradicional família Brazão também conta com o deputado estadual Pedro Brazão; e com Chiquinho Brazão, deputado federal afastado para ser secretário da prefeitura, cujo primeiro suplente, Ricardo Abraão, é parente de Anísio Teixeira, famoso bicheiro da cena carioca.

“É uma família de muito poder, e tem seus votos concentrados na zona oeste, muitas áreas que são tidas como áreas conflagradas pela milícia. Daí a associação entre a família Brazão e o crime organizado, que está suscitando a hipótese, reforçada pela delação premiada de Ronnie Lessa, de que Domingos Brazão seria um dos mandantes do crime contra Marielle, numa tentativa de vingança contra Marcelo Freixo, que levou a cabo essas investigações da CPI das Milícias na Alerj.”

Como foi revelado pelo portal UOL, na época do julgamento do assassinato, o Ministério Público apontou a “índole violenta e perigosa” de Domingos Brazão, atestando que ele “constantemente portava arma e se unira a “grileiros” que disputavam a posse das terras na região. Ademais, ameaçara de morte a todos que pudessem delatá-lo, sendo, por isso, inicialmente muito difícil a sua identificação”.

Ex-filiado ao MDB, Brazão foi eleito vereador do Rio em 1996, tornou-se deputado estadual em 1998 e concorreu à prefeitura da cidade maravilhosa em 2000, mas não obteve êxito.

Em 2002, Brazão voltou a se eleger deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), conquistando reeleições para o cargo em 2006 e 2010, ano em que seu mandato chegou a ser cassado pelo TSE, devido a acusações de compra de votos. No entanto, uma liminar concedida pelo então ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Ricardo Lewandowski (hoje indicado ao Ministério da Justiça), o reconduziu ao cargo.

O que pode parecer habilidade política num primeiro momento, se traduz como um comportamento agressivo e ameaçador para com os colegas de Assembleia. Ao longo do tempo em que Brazão permaneceu na Alerj, diversos parlamentares relataram que ele costumava se aproximar para dar abraços e fazer ameaças cochichadas ao pé do ouvido.

O caso mais emblemático foi o da deputada estadual Cidinha Campos (PDT), que denunciou ter sido ameaçada pelo então deputado durante uma discussão. De acordo com os autos do processo que ela moveu (e chegou ao STF, mas foi arquivado), Brazão teria lhe dito “nunca matei uma puta, mas tenho vontade de matar”.

Quando estava em seu quinto mandato na Alerj, no ano de 2015, Brazão foi escolhido por seus pares para assumir o cargo de conselheiro vitalício do TCE. Apenas cinco deputados se opuseram à sua eleição, um deles foi justamente Marcelo Freixo, cujo partido, o PSOL, foi o único a se posicionar oficialmente contra a indicação de Brazão.

Marielle era assessora de Freixo quando ele ingressou – sem sucesso – com uma ação na Justiça do Rio de Janeiro para impedir que Domingos se tornasse conselheiro do Tribunal de Contas.

A “rixa” entre com Freixo teve início no ano de 2008, quando foi divulgado o relatório final da CPI das Milícias na Alerj (na qual Marielle Franco também trabalhou), sob a presidência do psolista, citando o nome de Domingos Brazão como um suposto envolvido com os grupos paramilitares que agem na capital, sendo um dos políticos que as milícias autorizaram a fazer campanha em Rio das Pedras, região dominada por esses grupos.

No ano de 2017, Brazão foi preso – e posteriormente solto – no âmbito da Operação Quinto do Ouro, um desdobramento da Lava Jato, que também levou à cadeia outros quatro membros do TCE-RJ. Ele foi acusado de receber propina de empresários para não fiscalizar obras e o uso de verbas públicas do governo do Rio.

Em 2019, Domingos Brazão chegou a ser acusado formalmente pela Procuradoria-Geral da República (PGR), de obstruir as investigações da execução de Marielle e Anderson