Se o critério fosse coerência, petistas ficariam com Ricardo Coutinho
Socialista ficou ao lado de Lula e Dilma após denúncias de corrupção e agora busca reciprocidade
Antes de ser preso, Lula (D) conversa com Ricardo Coutinho e com a ex-presidente Dilma Rousseff durante agenda na Paraíba. Foto: Divulgação
O cantor e compositor Tom Jobim nos legou uma frase memorável. De forma direta e simples, dizia que “o Brasil não é para amadores”. E ele tinha razão. O Brasil, realmente, não é para amadores. A gente pode tirar uma lição disso observando a relação entre o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) e o PT no Estado. Minha observação não visa dizer quem está certo ou errado, afinal, as relações humanas são por essência imperfeitas. Agora, convenhamos, fosse por coerência, o Partido dos Trabalhadores seguiria o socialista na disputa eleitoral deste ano.
Basta um olhar sobre a história. É verdade que o ex-governador, hoje, tem a imagem profundamente arranhada por causa das acusações de corrupção. Ele se tornou réu em várias das denúncias protocoladas na Justiça e terá dificuldades para provar sua inocência. Mas é importante dizer que o Ricardo Coutinho, agora enrolado, é o mesmo que anos atrás comprou as brigas homéricas em defesa do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff, ambos do PT. O primeiro chegou a ser preso e a segunda foi alvo de um impeachment.
É bem verdade que a história de Ricardo Coutinho com o PT, na Paraíba, sempre foi recheada de altos e baixos. O hoje socialista surgiu politicamente nas fileiras do Partido dos Trabalhadores. Pela sigla, foi eleito vereador e deputado estadual. Depois, numa relação conflituosa, mudou para o PSB. De lá para cá, estiveram por vezes de mãos dadas, com petistas empregados nas gestões socialistas, e por outras em pé de guerra. Mas foi justamente no momento mais difícil da história petista que Ricardo comprou as dores da antiga casa.
O socialista brigou com os opositores de Lula e Dilma nacionalmente e na Paraíba. Ele usou o peso político, por exemplo, para derrotar um inimigo comum: o ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB), que tinha grande influência nacional. Além disso, foi visitar Lula na cadeia e adotou postura combativa contra o ex-presidente Michel Temer (MDB), sucessor de Dilma. Talvez por isso, recebeu a solidariedade de Lula e da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Com eles, conseguiu o sinal verde para a intervenção no diretório municipal da sigla, na capital.
Talvez pela forma, o apreço da executiva nacional do PT não foi o mesmo dos petistas paraibanos. O candidato do PT, Anísio Maia, por exemplo, acusou o socialista de “mover-se nas sombras” para impedir a postulação petista dele. Disse ainda que Ricardo Coutinho, pelas denúncias de corrupção, não tem condições de combater os candidatos classificados por ele como de extrema-direita. O que se tira de verdade disso é que, em João Pessoa, a sigla busca passar longe da operação Calvário. A postura de agora, dos petistas, é bem diferente da de antes, do socialista. Ou seja, cada um por si.
www.reporteriedoferreira.com.br / Blogsuetonisoutomaior