CARTA A GILBERTO GIL Por Rui Leitao

CARTA A GILBERTO

A sensação é de que, em nosso pais, nos últimos quatro anos a inteligência começa a cair. Vemos gente se orgulhando em agredir quem tem talento. Não sei se por inveja ou porque, na verdade, se orgulham em ser ignorantes. Parece que o mundo está mergulhando na burrice. É esse o sentimento quando vemos a agressão gratuita a você, quando estava em Katar prestigiando a participação da nossa seleção na copa do mundo.

Seus agressores manifestam, indiscutivelmente, um tipo de deficiência mental. Têm cérebros propensos à irracionalidade. Eles praticam a restauração alegre da burrice. E se envaidecem disso. É a tentativa de fazerem o triunfo das toupeiras. Pertencem ao rebanho político dos canalhas. O grande problema é que a burrice é contagiosa, segundo Agripino Grieco, e tem sido muito mais nos anos recentes. Afinal elegeram como líder alguém inculto e anticiência. A burrice no poder chama-se fascismo.

Um homem que persiste no exercício da inteligência incomoda os que não conseguem compreender a sua diferença intelectual. E o que fazem? Partem para as ofensas morais sem qualquer compromisso com a sensatez. São estúpidos, pela ausência de inteligência. Você é gênio e isso incomoda os obtusos. São oligofrênicos incapazes de montarem uma frase com verbo e sujeito. E assim repetem as agressões tão conhecidas desse pessoal que se posiciona contra a democracia. Eles querem que o irrelevante ocupe o centro do mundo. Assim viverão melhor, porque se inserem num caos de valores e contravalores conforme suas compreensões limitadas. São idiotas vacinados contra o conhecimento e o saber. Nada é mais perigoso do que um imbecil persuadido de sua própria normalidade.

Todos os brasileiros querem assinar embaixo da declaração do acadêmico da ABL, Marco Luchesi, quando afirmou: ” Gilberto Gil traduz o diálogo entre a cultura erudita e a cultura popular. Poeta de um Brasil profundo e cosmopolita. Atento a todos os apelos e demandas de nosso povo”. Esses indivíduos fazem parte de uma praga mais nefasta que pode se abater sobre a cultura nacional. Sabe o que eu diria para eles? Os muitos burros que me perdoem, mas a inteligência é fundamental. Mas, com certeza, não entenderiam a mensagem. Fazem parte de um novo grupo social da contemporaneidade em nosso país; os alienados, politicamente analfabetos, integrantes de um rebanho de manipulados. Não têm condições de pensar por si próprios.

Rui Leitão




“O VOTO É MAIS FORTE QUE A BALA” Por Rui Leitao

“O VOTO É MAIS FORTE QUE A BALA” Por Rui Leitao

 

Recorro a este célebre pensamento do presidente norte-americano Abraham Lincoln para refletir um pouco sobre essa “onda intervencionista” que estamos assistindo nas manifestações antidemocraticas dos que se recusam a aceitar o resultado de uma eleição legitima realizada.

 

Num ato de desespero, alguns vão em busca de saídas que imaginam serem salvadoras, mesmo tendo a História demonstrando o contrário. Chegam ao cúmulo de abrir mão das liberdades individuais e coletivas, na ilusão de que, pela força, poderão ser conquistadas as transformações que se fazem necessárias. As experiências negativas de um tempo pretérito, não tão distante, são desconsideradas. A razão perde espaço para a emoção. Perigosamente fica desprezada a importância do “viver em liberdade”, a faculdade de agir e pensar por si mesmo, como se fosse ntegrante de um “rebanho”.

 

Ignorar a História é arriscar-se a repetir erros cometidos no passado. Reivindicar a volta de uma ditadura militar é admitir o suicídio político, voltando a matar a democracia que foi reconquistada corajosamente.. A grave crise institucional que estamos vivenciando, não poderá ser justificativa para uma campanha intervencionista. Até porque nada do que se espera de um novo Brasil, aconteceu nos “anos de chumbo”. Não tínhamos liberdade, não havia transparência nos atos da administração pública, o país viveu um tempo em que as desigualdades sociais aumentavam, a inflação corroía o poder de compra dos assalariados, a censura amordaçava a imprensa e as manifestações culturais, a tortura e a opressão eram políticas de Estado. Será que qualquer semelhança é mera coincidência? Então o que aguardar de bom num regime autoritário?

 

A “grande virada”, só seria conquistada através da soberania do voto popular. E o foi o que aconteceu, quando foi despertada uma consciência cívica responsável nos eleitores. Afinal de contas, cabia a cada um de nós agir com esse propósito, sem entregar de “mão beijada” nosso destino sob a responsabilidade de pessoas que desconhecem o quen sejam princípios morais e éticos. Mais do que isso, permitir que corramos o risco de revivermos o império da prepotência e do despotismo.

 

É reservada às forças armadas a missão nobre de defender a soberania nacional. Acredito que essa seja a compreensão da grande maioria dos que exercem esse mister. Os que defendem um novo golpe militar são remanescentes do sistema implantado na década de sessenta, sedentos de retomarem o poder e voltarem a praticar arbitrariedades e excessos equivocadamente, em nome da ordem social.

 

Fizemos valer o poder do voto, dispensando a ação nefasta da tirania. A verdade defendida por Lincoln jamais pode ser menosprezada. Não conheço povo feliz em qualquer que seja a ditadura.

 

www.reporteriedoferreira.com.br Por Rui Leitão




O SONHO DA COPA E O PESADELO DA COZINHA Por Francisco Nóbrega dos Santos

O SONHO DA COPA E O PESADELO DA COZINHA
Por Francisco Nóbrega dos Santos

A história conta que o Estadista Francês, Charles De Gole, ao visitar o Brasil,
numa época de carnaval, vendo a euforia do povo, exclamou: Esse não é um País sério.
O povo brasileiro sentiu-se ofendido com o pronunciamento, praguejou aquele
governante, como se fora uma ofensa.
Confesso que, à época, fiquei bastante aborrecido, pelo meu sentimento
patriótico. Porém, concordei em tese, pois mesmo sabendo que seria uma expressão
xenófoba e preconceituosa.
Na verdade, num País onde eleitor diz, com indisfarçável prazer, que vota num
candidato, porque ele rouba mas trabalha. É uma regra que se eterniza no tempo e
anda de braços dados com fiel e inseparável companheira chamada “corrupção.
Todos sabem que a corrupção nasceu desde a formação do povo, mas no Brasil
gonhou conotação padrão, onde, nas entrelinhas das normas de regras e condutas,
acham-se existem as dúbias interpretações, que encontram respaldo entreas
conjunções, propositalmente inseridas tais como “ MAS, PORÉM, TODAVIA,
ENTRETANTO, PORTANTO ETC. ETC. em que se impõem direitos e obrigações, para os
reis e os vassalos, respectivamente. Essas normas enigmáticas, seguem a teleologia da
conveniência e o TRÍDUO PODER CONSTITUCIONAL, faz a distinção, separando o joio
do trigo, descartando, lamentavelmente, o segundo , para a facilidade de locomoção
do primeiro.
Quanto dinheiro público é desviado, de modo especial dos menos privilegiados,
para engordar o patrimônio de muitos que entram no poder, com um projeto
corruptamente perfeito, sobrando, tão somente, a conta que implica numa injusta
distribuição de riquezas. E a população cresce, desordenadamente enquanto a
corrupção se amplia nos escaninhos da impunidade.
Na versão invasiva, o raciocínio de um governante de uma progressista Nação,
embora tenha ferido o brio de certos patriotas, não se pode, em tese discordar.
Numa demonstração inequívoca da verdade das palavras, o País sempre se portou,
como no ANTIGO EGITO, onde o povo vivia de PÃO E CIRCO. Aceitava, pacificamente,
a injusta distribuição das riquezas, assistindo uma tremenda digladiação, numa disputa
desigual entre gladiadores e plebus, homens e feras.E a plebe rude,, feliz com as
migalhas que sobravam dos banquetes.
Neste mês o Mundo assistirá mais uma COPA. E os brasileiros, fanáticos ou não,
esbanjam patriotismo, sem se esqueceram as farras e as fanfarras, enquanto os preços
de alimentos devoram suas ínfimas economia. Depois da disputa, vencendo ou
perdendo termina O SONHO DA COPA, para se viver O PESADELO DA COZINHA, com o

aumento dos preços de gêneros alimentícios, que governantes e governados deixaram
em um plano secundário.

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O FABULOSO DESTINO Por: Gilvan de Brito

O FABULOSO DESTINO

Eu amava Amélia Poulain e não sabia. Ontem, finalmente, após voltar a vê-la, me dei conta da minha paixão introvertida e inconfessada. Já tinha caminhado com ela dezenas de vezes, mas desta feita, descontraído como me encontrava, tocou-me o coração e a mente. Uma mulher simples, inteligente, de gestos singelos, cuja maior alegria é tornar as pessoas próximas mais felizes ou punir a incivilidade daqueles que desrespeitam a dignidade humana. Isso realmente lhe enche de prazer. A história do pai, uma das suas maiores peraltices, foi marcante: O velho não se aventurava em conhecer novos mundos, o país mais distante que visitara era a padaria da esquina no fim da rua. Então ela foi ao jardim e retirou uma estátua de um anão, e pediu a uma aeromoça amiga para fotografá-la nos pontos turísticos mais conhecidos do mundo, e depois enviar um cartão postal para o pai.

Qual não foi a surpresa do velho Poulain ao descobrir que um dos discípulos de Branca de Neve, cativo do seu jardim, andava pela Europa, Ásia e África, enquanto ele não arredava o pé da casa onde nascera. Ainda o curioso e impressionante passeio com o deficiente visual no centro da cidade, contando todas as imagens do que vê para quem não vê; a caixinha de brinquedos de um menino achada 40 anos após; o pintor, o quitandeiro e as “Lágrimas da Madalena”. Outra história que ela me contou e eu a achei interessantíssima foi a do colecionador de fotos rasgadas, que tinha um álbum que não o levava a lugar nenhum. Suas amizades também são interessantes, cada uma com surpresas gratas, atraentes e sedutoras da sua vida íntima, transbordante de detalhes.

As peripécias cheias de cumplicidade, inconfessados sentimentos, sonhos e desejos, como dizem, daria um filme. Pois bem, marquei novo encontro com a fantástica Amélie Poulein, cujo nome verdadeiro é Audrey Tatou, aqui mesmo na República do Bessa. Ela, estimulada pela linguagem saltitante e audaz de Jean-Pierre Jeunet, agora tem três endereços fixos para quem quiser assistir ao filme: “O Fabulosa Destino de Amélie Poulain”, na Netflix, Telecine Play ou YouTube. Vale pena ver e conferir!

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O HOMEM DOS 40 Por Gilvan de Brito

O HOMEM DOS 40 Por
Gilvan de Brito

Num começo de tarde muito quente de 1982, cheguei ao aeroporto dos Guararapes (antigo) para embarcar com destino ao Rio de Janeiro. Era um desses dias de semana sem muito movimento. Ao fazer o chek in, vi que o aeroporto ainda se encontrava em reformas com algumas escoras e muita poeira. Então, para fugir das metralhas, mostrei a minha carteira da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas), que me abria muitas portas e fui encaminhado à Sala Vip onde havia apenas uma pessoa. Retirei o Jornal do Brasil da alça da maleta e antes de abri-lo para ver as manchetes olhei para o lado, a surpresa: era o sambista João Nogueira, cujas músicas ocupavam as primeiras colocações nas paradas de rádios e televisão. Eu mesmo tinha o último CD de sua autoria intitulado

“O homem dos 40”, na sua inconfundível e agradável voz grave e aveludada. Pensei comigo: falo, não falo. Decidi que não falaria em respeito ao aparente cansaço que demonstrava, pois devia vir em trânsito de alguma cidade do Norte, quem sabe viajara a noite inteira depois de realizar algum show na noite anterior, e ali estava à espera da conexão que o levasse ao Rio de Janeiro onde estava à sua disposição uma cama amiga para se recuperar.

Vi pela parede de vidro que o avião estava chegando e alegrei-me ao saber que não haveria atraso. Comecei a ler o Jornal do Brasil, vendo primeiro as manchetes dos cadernos de esportes, cultura, política e administração. Minutos depois os alto falantes anunciaram o embarque e eu segui ao lado do artista para tomar lugar no avião, obedecendo a regra de que os passageiros da Sala Vip são liberados imediatamente, antes dos demais passageiros. Subi, fui à frente, encontrei a poltrona 14 F, coloquei a bolsa de mão no bagageiro acima e sentei-me, procurando estirar as pernas naquele curto espaço. Para a minha surpresa, João Nogueira veio atrás e tomou o outro assento (14 D), do corredor, quase vizinho e colocou a bagagem de mão na poltrona do meio.

– Sempre faço isto e fecho os olhos quando se aproxima alguém, para evitar a presença de algum gordo besuntado na poltrona do meio; às vezes o dono da poltrona chega, não quer importunar e vai procurar outro assento – disse amistosamente olhando nos meus olhos e sorrindo. Quando ele falava parecia sorrir, pela conformação da boca e dos olhos redondos e grandes, acompanhando a curva das sobrancelhas, de modo que ninguém sabia ao certo quando estava ou não sorrindo de verdade. Depois falou sobre vários assuntos, disse que fizera um show em Manaus e que saíra daquela cidade de madrugada, fazendo escalas em Belém, São Luís, Fortaleza e Natal; estava um bagaço.

Estranhei a sua cordialidade, demonstrando um comportamento muito diferente daquelas celebridades que conhecia de perto. E disso não lhe fiz segredo.
– Quando o vi na sala de embarque logo o reconheci, mas não quis invadir a sua privacidade. E agora me arrependo disso, porque já deveríamos nos ter conhecido antes para falar sobre o CD “O Homem dos 40”, que tem essa música título e outra da qual eu gosto muito – disse.
Ele quis saber da outra música e, por não me lembrar do título, cantei as primeiras estrofes:
TRANSFORMAÇÕES
João da Gente e Jurandir

Minha companheira foi embora
A solidão veio comigo morar
Já não tenho mais os lindos sonhos
Não tenho ninguém a me esperar
Quando eu me lembro
Daqueles olhos tristonhos
Sinto até vontade de chorar…

– Ah, chama-se Transformações; também gosto muito dessa música – revelou enquanto assinava alguns autógrafos solicitados pelos passageiros mais próximos.

Seguimos conversando sobre a sua saída da Portela para fundar a Escola de Samba Tradição, os 11 discos gravados até aquela data, do bloco Clube do Samba, da família de artistas da qual emergira e de alguns parceiros dos quais considerava Paulo César Pinheiro o mais importante na sua carreira. Fizemos uma escala em Salvador, onde ele desceu, comprou uma xilogravura de Caribé, tomou suco de laranja e atendeu aos fãs que o cercaram como acontecia em toda parte. Depois voltamos ao avião, ele dormiu, finalmente, e em pouco mais de uma hora desembarcamos do turboélice Samurai de 80 lugares no aeroporto Santos Dumont.
– Qualquer dia a gente se vê aí pelas quebradas – despediu-se com um toque de mãos espalmadas. Nunca mais nos encontramos, mas eu sempre comprava um disco novo, quando surgia, e foram muitos (18, ao todo, com 145 músicas gravadas).

Depois soube de sua morte prematura, um infarto fulminante, no ano 2000. João, quando o conheci pessoalmente, era um homem dos 40, como eu, apenas um ano mais novo; nascido em 1941. Fiz um minuto de silencio em sua homenagem, em casa ouvi o disco “O Homem dos Quarenta” e espantei-me com a premonição dos letristas João da Gente e Jurandir na música Transformações, justamente uma das que tanto eu quanto ele mais gostavam.
TRANSFORMAÇÕES
João da Gente e Jurandir

 

… Não me dá mais prazer
Contemplar o luar
Pelo buraco do teto do meu barracão
Que já não é mais palácio encantado,
Hoje estou magoado,
ferido no coração.
E até esta vida que eu tanto amo
Sinto que está chegando ao fim.
O meu barracão de madeira,
Lá em Mangueira,
Sem ela não nada para mim…

O compositor carioca havia composto até aquela data mais de 300 músicas, muitas delas interpretadas por Clara Nunes, Elizeth Cardoso, Elis Regina, Beth Carvalho, Alcione, dentre outras. Em resumo, foi bom ter encontrado João Nogueira, ocasionalmente, durante essa viagem, para filosofar sobre pensamentos avulsos. Tinha certeza de que jamais o veria novamente depois daquela pequeníssima e circunstancial brecha no espaço, mas o que é a vida senão a lembrança desses momentos que nos transportam na moldura do tempo?

www.reporteriedoferreira.com.br Por Gilvan de Brito- Jornalista, advogado e escritor.




QUEM TEM MEDO DO GOLPE? Por Rui Leitao

QUEM TEM MEDO DO GOLPE? Por Rui Leitao

Como alternativa derradeira o presidente intensifica o seu discurso golpista. E o faz sem qualquer constrangimento, buscando transmitir aos seus seguidores um clima de confiança nas suas intenções de golpear a democracia brasileira. Chega a ser risível declarar que “se as urnas não apontarem um percentual em torno de sessenta por cento dos votos a seu favor no primeiro turno, é porque algo de estranho aconteceu no TSE”. Ele sabe que as probabilidades de que seja derrotado ainda no dia dois de outubro, sem direito a disputar o segundo turno, são muito grandes. Então só lhe resta insuflar os trinta por cento de eleitores que ainda o acompanham a reagirem contra o resultado que as urnas apresentarão.

Permanece com a estratégia de criar um ambiente de não reconhecimento da derrota para promover perturbações que pudessem justificar ações das forças militares contra as instituições democráticas. Já está mais do que comprovado que tudo isso não passa de um delírio golpista. A retórica da intimidação já não amedronta, porque visivelmente enfraquecida.

O perigo de colapso da democracia brasileira inexiste. Portanto, já se percebe que o medo do golpe se transformou no golpe do medo. Mas sem qualquer resultado prático. Que o digam as pesquisas quando apontam uma rejeição a esse projeto político superando os cinquenta por cento da população. As ameaças são desconsideradas por falta de credibilidade. O leão que está rugindo, não tem dentes.

A elite econômica já deu sinais de que a perturbação institucional não faz parte do seu modelo de negócios. Diferentemente do que aconteceu em 1964, os EUA não se mostram interessados em influenciar no processo eleitoral do Brasil neste ano. As Forças Armadas brasileiras, embora envolvidas, como nunca antes, na máquina da administração pública, não embarcariam nessa aventura golpista. Vivendo no isolamento político, não há como viabilizar o plano de contestar uma eventual derrota. Não haverá tolerância para a tentativa do golpe de perdedor. Não conseguirá vencer a desvantagem eleitoral pela imposição do medo. Cão que ladra, não morde.

Rui Leitão




A ORIGEM DO PLEBISCITO Por Francisco Nóbrega dos Santos

A ORIGEM DO PLEBISCITO
Por Francisco Nóbrega dos Santos

Nos remotos séculos, durante oVelho Império o tratamento dado à
classe menos favorecida não era muito diferente do que se pratica hoje, no mundo
que se denomina moderno.
O Mundo vivia os clamares da escravidão e do desapreço com que era
tratada a PLEBE, cuja denominação é originária do velho latim, que simbolizava a
classe considerada inferior, ou seja, a terceira classe, como é hoje a dimensão de
camadas sociais. No Império Romano essa divisão discriminatória, desconsiderava os
desprovidos de meios financeiros, cujo tratamento equiparava-se “rés” que se traduzia
como “coisa, objeto desprovido de valor. Daí a classe considerada “c” não seria
provida de direitos, porém com todos os deveres e obrigações peculiares à plebe
Na vigência da Monarquia de tristes lembranças, o plebeu, como era
individualizado pelo poder, poderia ser negociado, trocado ou presenteado, como um
objeto insignificante.
Naqueles remotos tempos as camadas sociais eram escalonadas em
superpoderes, que o próprio sistema outorgava às autoridades supremas, onde eram
constituído, em primeiro plano, o Imperador, e no sequencial escalonamento, os
senhores feudais, donos das enormes glebas, muitas adquiridas através de guerras
de invasões,ou sucessões hereditárias.
Nessa hierárquica viriam O Clero, representado pelos Sumos Sacerdotes
e os ricos mercadores, que forneciam haveres para os governantes de estados ou
províncias. Infelizmente, a plebe não figurava em nenhuma lista de casta, origem e
camada social.
Com a evolução dos tempos foram surgindo outros segmentos de
poderes, onde nascera o “Senatus Consultus, que seria formado por cidadãos idosos
e experientes,(essa denominação indicava os senactus, derivado de senectus,” que
eram cidadãos de idades provectas) daí viera a formação do Senado que, com o
tempo,a derivação de senil, como os idosos que hoje são pejorativamente conhecidos
como “caducos”.
Como eram subestimados pelos incluídos na casta, o plebeu
representava, tão somente a mão de obras e vivia das sobras dos que tinham poderes
aquisitivos.
Aconteceu algo surpreendente que mudou a história da injustiça social.Eis
os fatos Um plebeu, de uma visão “sui generis” despertou a plebe pelo sentimento de
respeito e direitos. Ergueu a cabeça e foi em busca dos que, timidamente,
alimentavam esse ideal de liberdade. Improvisaram um conselho e fizeram com que
todos sentissem que a plebe era uma gigantesca maioria. Que tinha numero suficiente
para a imposição de se tornarem pessoas, ao invés de coisas.

Chegaram à solene conclusão de que a ausência dessa “rés” causaria
profunda revolta perante a classe dominante.Convenceram uma grande maioria a
uma “greve” geral, com a fuga para as elevadas montanhas existentes nas terras
dominadas pelos poderes, forçando, dessa forma, a reação contra o império, quanto a
ausência da plebe no rol de direitos outorgados ou conferidos aos detentores de
“status” que subjulgavam a plebe.
A medida surpreendeu os poderosos vez não existiam meios de realizar as tarefas
mais rudes, como sejam: roça de matos, limpeza nas casas e nos jardins, além dos
rudes meios de transportar materiais ou equipamentos pesados. Isso os obrigou a
pedir providências imediatas do Império, o que forçou as autoridades a procurar a
causa dessa ausência.
Um dos articuladores greve, como chamamos hoje, levou a mensagem de que os
plebeus subiram às montanhas, equipados com armamentos artesanais, como azeite,
calderoões e fogo para aquecer o material inflamável ou escaldante, que seria
utilizado contra quem ousasse galgar as montanhas, além cataputas que atirar bolas
incendiárias contra quem avançasse.
Tomadas essas providências, os detentores de poderes imperiais causaram
um inesperada balbúrdia forçando o império a encontrar uma solução. Procuraram os
líderes do movimento indagando sob os objetivos desse incidente. Obtiveram a solene
resposta; DIREITO A VOTO E VETO.
A ideia se tornou realidade e o poder maior, que estava adormecido na plebe,
contribuiu para que, hoje, a maioria é quem decide. Princípio Constitucional.

www.reporteriedoferreira.com.br   Por Francisco Nóbrega dos Santos- Jornalista- Advogado e Escritor




O HOMEM DOS 40 por: Gilvan de Brito

O HOMEM DOS 40
Gilvan de Brito

Num começo de tarde muito quente de 1982, cheguei ao aeroporto dos Guararapes (antigo) para embarcar com destino ao Rio de Janeiro. Era um desses dias de semana sem muito movimento. Ao fazer o chek in, vi que o aeroporto ainda se encontrava em reformas com algumas escoras e muita poeira. Então, para fugir das metralhas, mostrei a minha carteira da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas), que me abria muitas portas e fui encaminhado à Sala Vip onde havia apenas uma pessoa. Retirei o Jornal do Brasil da alça da maleta e antes de abri-lo para ver as manchetes olhei para o lado, a surpresa: era o sambista João Nogueira, cujas músicas ocupavam as primeiras colocações nas paradas de rádios e televisão. Eu mesmo tinha o último CD de sua autoria intitulado “O homem dos 40”, na sua inconfundível e agradável voz grave e aveludada. Pensei comigo: falo, não falo. Decidi que não falaria em respeito ao aparente cansaço que demonstrava, pois devia vir em trânsito de alguma cidade do Norte, quem sabe viajara a noite inteira depois de realizar algum show na noite anterior, e ali estava à espera da conexão que o levasse ao Rio de Janeiro onde estava à sua disposição uma cama amiga para se recuperar.
Vi pela parede de vidro que o avião estava chegando e alegrei-me ao saber que não haveria atraso. Comecei a ler o Jornal do Brasil, vendo primeiro as manchetes dos cadernos de esportes, cultura, política e administração. Minutos depois os alto falantes anunciaram o embarque e eu segui ao lado do artista para tomar lugar no avião, obedecendo a regra de que os passageiros da Sala Vip são liberados imediatamente, antes dos demais passageiros. Subi, fui à frente, encontrei a poltrona 14 F, coloquei a bolsa de mão no bagageiro acima e sentei-me, procurando estirar as pernas naquele curto espaço. Para a minha surpresa, João Nogueira veio atrás e tomou o outro assento (14 D), do corredor, quase vizinho e colocou a bagagem de mão na poltrona do meio.
– Sempre faço isto e fecho os olhos quando se aproxima alguém, para evitar a presença de algum gordo besuntado na poltrona do meio; às vezes o dono da poltrona chega, não quer importunar e vai procurar outro assento – disse amistosamente olhando nos meus olhos e sorrindo. Quando ele falava parecia sorrir, pela conformação da boca e dos olhos redondos e grandes, acompanhando a curva das sobrancelhas, de modo que ninguém sabia ao certo quando estava ou não sorrindo de verdade. Depois falou sobre vários assuntos, disse que fizera um show em Manaus e que saíra daquela cidade de madrugada, fazendo escalas em Belém, São Luís, Fortaleza e Natal; estava um bagaço.
Estranhei a sua cordialidade, demonstrando um comportamento muito diferente daquelas celebridades que conhecia de perto. E disso não lhe fiz segredo.
– Quando o vi na sala de embarque logo o reconheci, mas não quis invadir a sua privacidade. E agora me arrependo disso, porque já deveríamos nos ter conhecido antes para falar sobre o CD “O Homem dos 40”, que tem essa música título e outra da qual eu gosto muito – disse.
Ele quis saber da outra música e, por não me lembrar do título, cantei as primeiras estrofes:
TRANSFORMAÇÕES
João da Gente e Jurandir

Minha companheira foi embora
A solidão veio comigo morar
Já não tenho mais os lindos sonhos
Não tenho ninguém a me esperar
Quando eu me lembro
Daqueles olhos tristonhos
Sinto até vontade de chorar…

– Ah, chama-se Transformações; também gosto muito dessa música – revelou enquanto assinava alguns autógrafos solicitados pelos passageiros mais próximos.

Seguimos conversando sobre a sua saída da Portela para fundar a Escola de Samba Tradição, os 11 discos gravados até aquela data, do bloco Clube do Samba, da família de artistas da qual emergira e de alguns parceiros dos quais considerava Paulo César Pinheiro o mais importante na sua carreira. Fizemos uma escala em Salvador, onde ele desceu, comprou uma xilogravura de Caribé, tomou suco de laranja e atendeu aos fãs que o cercaram como acontecia em toda parte. Depois voltamos ao avião, ele dormiu, finalmente, e em pouco mais de uma hora desembarcamos do turboélice Samurai de 80 lugares no aeroporto Santos Dumont.
– Qualquer dia a gente se vê aí pelas quebradas – despediu-se com um toque de mãos espalmadas. Nunca mais nos encontramos, mas eu sempre comprava um disco novo, quando surgia, e foram muitos (18, ao todo, com 145 músicas gravadas).
Depois soube de sua morte prematura, um infarto fulminante, no ano 2000. João, quando o conheci pessoalmente, era um homem dos 40, como eu, apenas um ano mais novo; nascido em 1941. Fiz um minuto de silencio em sua homenagem, em casa ouvi o disco “O Homem dos Quarenta” e espantei-me com a premonição dos letristas João da Gente e Jurandir na música Transformações, justamente uma das que tanto eu quanto ele mais gostavam.
TRANSFORMAÇÕES
João da Gente e Jurandir

… Não me dá mais prazer
Contemplar o luar
Pelo buraco do teto do meu barracão
Que já não é mais palácio encantado,
Hoje estou magoado,
ferido no coração.
E até esta vida que eu tanto amo
Sinto que está chegando ao fim.
O meu barracão de madeira,
Lá em Mangueira,
Sem ela não nada para mim…

O compositor carioca havia composto até aquela data mais de 300 músicas, muitas delas interpretadas por Clara Nunes, Elizeth Cardoso, Elis Regina, Beth Carvalho, Alcione, dentre outras. Em resumo, foi bom ter encontrado João Nogueira, ocasionalmente, durante essa viagem, para filosofar sobre pensamentos avulsos. Tinha certeza de que jamais o veria novamente depois daquela pequeníssima e circunstancial brecha no espaço, mas o que é a vida senão a lembrança desses momentos que nos transportam na moldura do tempo?




O GRITO EM DEFESA DA DEMOCRACIA Por Rui Leitao

O GRITO EM DEFESA DA DEMOCRACIA Por Rui Leitao

O dia de hoje vai se transformar numa data histórica. A sociedade civil organizada decidiu ecoar o grito uníssono em defesa do Estado Democrático de Direito. Vários manifestos serão lidos em atos públicos nesta quinta feira, incluindo a Carta aos Brasileiros, elaborada por juristas da Faculdade Direito da USP, a serem realizados em todas as capitais do país.

É um momento de união nacional contra os ataques do atual governo às instituições republicanas brasileiras e de reação à escalada autoritária que pretende quebrar a normalidade democrática. Trata-se de um movimento suprapartidário de resistência, buscando mobilizar a sociedade brasileira para construção de um novo tempo a partir das nossas lutas por justiça e paz.carta;

Quando se ataca a democracia, igualmente se promove ataques aos Direitos Humanos e às conquistas que os segmentos vulnerabilizados da população alcançaram em épocas recentes. É, portanto, necessário que as organizações populares estejam dispostas a abraçarem, de forma conjunta, as lutas por transformações políticas, sociais e econômicas, que nos conduzam a estruturas fortes de preservação da democracia com justiça.

Não dá mais para esperar. A hora é de agrupar todas as forças políticas democráticas para salvar o Brasil das ameaças golpistas. É um primeiro passo para superarmos esse momento trágico que estamos vivenciando. Só assim poderemos encontrar o caminho da reconstrução nacional. O grito que vai ecoar hoje em todo o território nacional é um aviso de que não aceitaremos mais essa insistente ação de “esticar a corda”, como se estivessem testando a nossa capacidade reação.

Lutemos por um Brasil melhor e mais inclusivo para todos e todas. O regime autocrático não tem mais espaço na nossa nação, devendo as experiências pretéritas neste sentido ficarem restritas aos livros de História, até como exemplo para não voltarmos a viver essas paginas sombrias que tanto nos entristeceram e assustaram. A democracia é um ideal universalmente reconhecido. Devemos, então, preservá-la a qualquer custo. Exercitemos, pois, o direito básico de cidadania, qual seja a de sair às ruas para defender a institucionalidade democrática em sua plenitude. Que os golpistas saibam que não contarão com nosso silêncio e omissão. Exerçamos o nosso direito de gritar contra o que consideremos inaceitável. Não podemos ficar parados. Devemos seguir unidos em defesa do Brasil e da Democracia.

Rui Leitão




OS INIMIGOS DA CIVILIZAÇÃO Por Rui Leitao

OS INIMIGOS DA CIVILIZAÇÃO Por Rui Leitao

As estruturas políticas de uma nação se fortalecem à medida em que suas instituições lhes dão vida. Vivemos na contemporaneidade uma guerra ideológica promovida pelos inimigos da civilização. Eles nutrem uma absoluta aversão a tudo que se afirme como um pacto de convivência harmoniosa e solidariedade. Negam-se a enfrentar as mazelas sociais que afligem nosso povo, especialmente os marginalizados pelas políticas públicas, impondo um retrocesso à marcha civilizatória que experimentamos anos atrás. Tem uma parcela da nossa gente sem empatia, que pensa e age assim, portadora de uma insensibilidade desumana.

Estamos, portanto, vivendo uma desventura histórica. É urgente e necessário que revertamos essa pauta elitista e egoísta que tentam, a qualquer custo, nos impor. Saibamos cumprir nosso destino libertando-nos dos reacionários que objetivam criar um ambiente de barbárie e de beligerância entre compatriotas. A civilização precisa ser salva da cultura do ódio, do desprezo e da indiferença social.

As lideranças populistas e messiânicas normalmente se comportam como inimigos da civilização. E, por isso mesmo, se tornam uma ameaça à democracia, animados pela tentação da tirania. Propositadamente fazem com que o bem comum e o bem individual caminhem em direções opostas. O messianismo político produz a arrogância e a prepotência nas relações dos governos com as demandas sociais.

Os preconceitos, a xenofobia, o racismo, e outras manifestações comportamentais nocivas a uma sociedade civilizada, estão presentes explorando o medo e a insegurança, para atender conveniências políticas dos detentores do poder. Para alcance de seus objetivos procuram atacar as instituições democráticas.

Só o voto livre e consciente permitirá escolhas coletivas no plano da economia e da sociedade, recuperando o processo civilizatório. Não podemos abrir mão do envolvimento na vida pública, porque desta forma estaremos dando vitalidade à democracia. A paz e o estado democrático de direito são conquistas inalienáveis que não podem ser questionadas. Quando defendemos a democracia, estamos igualmente defendendo a civilização. A eleição deste ano não é uma disputa entre a direita e a esquerda. É em favor da civilização contra a barbárie.

www.reporteriedoferreira.com.br     Rui Leitão