Pratos vazios não mentem: Por Rui Leitao

 

Pratos vazios não mentem: Por Rui Leitao

Carolina Maria de Jesus, em sua obra Quarto de Despejo, declara: “O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora […] quem passa fome aprende a pensar no próximo, e nas crianças”. Uma verdade inquestionável. A fome voltou a ser uma constante na vida de muitos brasileiros. Quem viveu essa dolorosa experiência, consegue compreender bem que a alimentação é um direito de todos indistintamente.

O número de pessoas em situação de fome em nosso país já ultrapassa 30 milhões. É a triste realidade provocada pela desigualdade social que vem se intensificando no Brasil. Esse quadro de penúria resulta do desmonte das políticas públicas voltadas para atender às necessidades dos mais pobres. Estamos vivendo uma crise moral e ética, quando verificamos que os poderosos da política e da economia se mostram alheios às dores das ruas.

Os pratos vazios não mentem, o caos econômico e social está diante de nossos olhos, muitas vezes com total e irresponsável indiferença. Essa tragédia é observada nos semáforos, onde encontramos famílias de desvalidos em busca da solidariedade para conseguirem garantir o mínimo necessário para se alimentarem e sobreviverem.

O empobrecimento está ocorrendo de forma acelerada. Não serão com minguados auxílios eleitoreiros que essa chaga social será combatida. A extrema pobreza está diretamente relacionada à fome. Em julho de 1919 o Presidente da República chegou a afirmar, durante um encontro com jornalistas estrangeiros no Palácio do Planalto, que “falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira”. Ele nunca conheceu o que seja passar fome.

O país voltou ao Mapa Mundial da Fome da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em razão da ausência de uma política forte que enfrente esse problema. O direito humano à alimentação está, inclusive, estabelecido em nossa Constituição. Porém, o que define a nossa Carta Magna de 1988 vem sendo desrespeitada desavergonhadamente. Mais de 120 milhões de brasileiros têm algum grau de insegurança alimentar. Esse drama nacional passou a ser agravado a partir da extinção do Conselho de Segurança Alimentar Nacional, no início do atual governo. O combate à fome não pode depender de caridade, deve ser enfrentado com políticas públicas efetivas.




A ESCALADA DA VIOLÊNCIA POLÍTICA Por: Rui Leitão

A ESCALADA DA VIOLÊNCIA POLÍTICA

O Brasil está assustado com a escalada da violência política. Profundamente lamentável que alguns agentes políticos estejam estimulando isso por discursos de ódio, encarando adversários como inimigos. A cada dia temos notícia de ataques criminosos com motivações políticas. Cadáveres já aparecem resultantes desse clima de guerra instalado no país.

Quando fanáticos puxam o gatilho ou lançam bombas em concentrações públicas realizadas por divergentes de seu pensamento político, fazem por impulsos estimulados pela cultura da violência. Ao sentirem que não possuem argumentos para o debate civilizado, partem para as agressões e até para a barbárie. Se sentem empoderados em razão dos exemplos que vêm de cima.

O campo democrático precisa reagir em busca da paz e da realização de eleições livres e sem conflitos beligerantes. Que vençam os que tiverem mais votos e melhores propostas. Disputas eleitorais não são ganhas com ameaças e violência, aviltando a democracia. A sociedade civil organizada, por suas entidades, deve buscar impor freios a essas repetidas manifestações de intolerância e de intolerância às divergências. É urgente que medidas preventivas e de combate à violência política sejam implementadas.

Os recados contidos nas mensagens políticas são compreendidos pelos militantes como ordens de ação. Ficam propensos a obedecerem cegamente o que, as vezes de forma sutil, lhes são recomendados. A linguagem discursiva utilizada é explicitamente de beligerância. O que dizer de um líder político festejar seu aniversário com um bolo temático representado por um revólver calibre 38? Como utilizar o gesto com as mãos como se estivessem empunhando uma arma de fogo, transformado em símbolo de uma campanha eleitoral? Isso não pode continuar sendo aceito como algo muito natural. É inadmissível. BASTA!

Rui Leitão




A BOMBA DO APOLO XI Por: Rui Leitão

A BOMBA DO APOLO XI

Cajazeiras foi também palco dos atentados terroristas ocorridos nos primeiros cinco anos da década de setenta, quando o Brasil ainda vivia sob o regime da ditadura militar. Presume-se que tenham sido episódios perpetrados por agentes do próprio governo, insatisfeitos com a abertura política anunciada pelo então Presidente Ernesto Geisel. A intenção era atribuir responsabilidades aos que chamavam de “subversivos”, aqueles que contestavam o regime imposto com o golpe de 1964, numa forma de justificar o impedimento da redemocratização no país.

Como em qualquer cidade interiorana, boa parte da população já estava adormecida, quando na noite do dia 02 de julho de 1975, por volta das vinte e uma horas, foi acordada pelo barulho ensurdecedor de uma bomba estourada no cine-teatro Apolo XI. Até hoje esse “ato terrorista” continua envolto em mistério, sem que se tenha conhecimento dos seus autores.

O artefato explosivo foi colocado embaixo da poltrona em que costumava se sentar o bispo de Cajazeiras, Dom Zacarias de Moura. O funcionário Geraldo Galvão encontrou uma pasta, tipo 007, quando fazia uma varredura no local, antes do fechamento do cinema. Chamou o soldado Didi para, junto com ele, descobrirem a razão daquele “achado” estranho. Abrindo a mala preta perceberam um objeto que imaginavam tratar-se de um gravador. Próximo deles o porteiro Manoelzinho, gritou: “Não mexe, isso é uma bomba”. Assustado o soldado soltou a bolsa no chão, que veio a explodir.

A bomba, embora de fabricação caseira, tinha alto teor explosivo, com potencial para matar dezenas de pessoas se o acontecimento tivesse ocorrido com a sala de projeção cheia de expectadores para assistir ao filme Sublime Renúncia. O artefato mortífero, além de ter causado enormes estragos ao cinema, arrancando a grade da entrada, feriu o segurança do cinema Altino Soares, que ficou com as pernas amputadas; o porteiro Manoelzinho, com um pedaço de madeira na cabeça; o operador de projetor Geraldo Conrado, com uma perna partida e corpo atingido por fragmentos e o adolescente Geraldo Galvão, com abdômen perfurado e as pernas queimadas. Transportados para João Pessoa, Manoelzinho e o soldado Didi vieram a falecer.

Dom Zacarias não estava no cinema naquela noite, pois cumpria atividades da igreja em viagem a Recife. Ao retornar a Cajazeiras, uma semana após o incidente concedeu uma entrevista ao jornal A União em que declarou: “Não tenho inimigos, se ideologicamente entre em divergência com outras pessoas, não vejo razão nenhuma para que isso justifique um atentado, pois sou apenas um discípulo de Deus”.

O atentado ganhou repercussão nacional, abrindo espaço para interpretação de motivações políticas. Dom Zacarias de Moura, era um religioso da ala conservadora da Igreja Católica, se contrapondo aos seus colegas Dom José Maria Pires e Marcelo Carvalheira, considerados progressistas. Na suposição de que ele teria sido o alvo do ato terrorista, os agentes da ditadura militar se apressaram em acusar o crime como uma ação de militantes da esquerda. Algo muito parecido com o que ocorreu no Rio Centro, anos atrás, conforme reconheceu o general Bandeira, em 1981, em conversa com o dentista Abdiel de Sousa Rolim, ao afirmar: “são da mesma safra”.

As primeiras suspeitas recaíram sobre o deputado Bosco Barreto, o técnico em eletrônica Inácio Assis e o padre norte-americano Francis Boyer, conhecido como Mister Boy. Nada ficou comprovado contra qualquer um deles.

A Comissão Estadual da Verdade tentou desvendar o mistério e apurar a autoria intelectual do atentado. No entanto, concluiu que “tudo não passou de mais uma provocação de agentes da ditadura militar descontentes com a abertura anunciada pelo presidente da República, general Ernesto Geisel”.

Rui Leitão




UM BARCO FURADO: Por Rui Leitao

UM BARCO FURADO: Por Rui Leitao

A sensação é de que estamos num barco furado, no Brasil de hoje. E o pior, sem rumo, e prestes a afundar. Quem está no comando do barco, não se dá conta de que concorre para o que o buraco aumente cada vez mais. O que nos dá ainda algum ânimo é vislumbrarmos terra no horizonte. Não há outra alternativa, a não ser pularmos desse barco, antes do naufrágio coletivo, e nadarmos em direção à terra firme.

Lamentável que alguns passageiros do barco, continuem acreditando que ele não corre risco de afundar. E continuam confiando no comandante da embarcação, mesmo com as evidências de que todos estão próximos de um iminente naufrágio. Não percebem a incompetência de quem delegaram a responsabilidade de conduzi-los e permanecem como se não estivessem em perigo.

Continuar no barco furado, em meio a essa tempestade que nos assusta, é cometer suicídio político. Sem alguém que saiba remar com rapidez, antes que ele seja submerso pelas águas, só nos resta saltar e nadar com coragem até que alcancemos o solo que representa a nossa salvação. E aí, se precisarmos navegar em outros mares, ainda que enfrentando ondas bravias, escolhamos alguém que tenha domínio da embarcação. Seja experiente para enfrentar crises, porque soube vencê-las em outras oportunidades em que comandava o barco. Assim, não viveremos a intranquilidade das incertezas do futuro, causadas por timoneiros despreparados.

O buraco que se abriu nessa nau desgovernada, não nos permitirá chegar a um porto seguro. Se estivermos em alto mar, nademos guiados pelas estrelas para encontrarmos o caminho certo a ser seguido. As estrelas sempre foram os sinais que oferecem as chances de nos guiar quando nos encontramos na escuridão. Que fiquem no barco furado, aqueles que não têm a coragem de nadar em direção

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“É CAMINHANDO QUE SE FAZ O CAMINHO” Por Rui Leitão

“É CAMINHANDO QUE SE FAZ O CAMINHO” Por Rui Leitão

Na canção “Enquanto Houver Sol”, do Titãs, gravada em 2003, tem um verso que gosto muito: “é caminhando que se faz o caminho”. Impossível alguém chegar onde quer, sem que decida por onde deve caminhar. São inúmeros os caminhos que nos são oferecidos para que alcancemos os objetivos pretendidos. Porém, o mais importante é termos a consciência de que parados não sairemos do lugar.

O caminhar deve ser feito passo a passo, mas de forma contínua, sem medo de enfrentar o desconhecido. Vencendo obstáculos, superando as adversidades, suportando eventuais tempestades, mas nunca perdendo a confiança de que está no caminho certo. Com essa convicção encontramos mais facilmente nosso próprio caminho.

Percorrendo as estradas do nosso pensamento, iremos desbravando rotas nunca percorridas, avançando em direção ao que definimos como metas a serem conquistadas. Nem sempre o roteiro escolhido pela maioria é aquele que nos levará na direção certa. Que nossa consciência defina o caminho que deveremos trilhar.

Sem vermos o que ficou para trás, olhemos em frente e construamos o caminho que nos leve ao futuro desejado. É com os olhos voltados para o horizonte que vamos encontrar o que procuramos. Na certeza de que há algo mais para ir além.

Façamos da canção de Geraldo Vandré o nosso hino nesse caminhar:
“Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção”.

Porque ficarmos parados? “Esperar não é saber e quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Sigamos adiante, mesmo que alguns queiram que nos acomodemos, permitindo que tracem nossos caminhos. Sejamos donos da nossa vontade e façamos valer os nossos sonhos. Para torná-los realidades, decidamos nossos próprios caminhos.

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CALABAR FOI UM TRAIDOR? por: Rui Leitão

CALABAR FOI UM TRAIDOR?

Participei, na terça-feira última, de um evento no IPHAEP – INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DA PARAÍBA, em que o tema abordado era o polêmico personagem histórico do período colonial no Nordeste, Domingos Calabar, apontado pela historiografia portuguesa como um “traidor da pátria”. Os palestrantes foram a restauradora Piedade Farias, o jornalista Ademilson José e o antropólogo Carlos Alberto de Azevedo, que brilhantemente proporcionaram um interessante e necessário debate sobre o papel por ele desempenhado nos conflitos entre os holandeses e a coroa portuguesa, no século XVII.

Essa matéria tem despertado os mais diversos questionamentos por parte de historiadores e estudiosos quando se colocam contrários aos escritos da época, todos eles produzidos por autores portugueses, fazendo prevalecer o entendimento de que ele teria cometido um ato de traição, ao optar por aderir aos holandeses no confronto estabelecido nas chamadas “Guerras do Açúcar”. Os portugueses não conseguiam aceitar a súbita adesão de Calabar às tropas batavas, depois de ter lutado ao lado dos colonizadores lusitanos. Lamentando a perda daquele aliado, decidiram estabelecer a sua condição de traidor.

No entanto, para muitos, Calabar não cometeu traição. Fez opção pelo que acreditava ser o melhor para a sua Terra e o seu povo. Em carta dirigida ao governador da capitania, Matias de Albuquerque, afirmou que passou para o outro lado não como um traidor, mas como patriota, por entender que os holandeses queriam implantar a liberdade no Brasil, enquanto que os portugueses e espanhóis tinham interesse em escravizar o nosso país.

Chico Buarque e Ruy Guerra ao escreverem a peça “CALABAR – O ELOGIO DA TRAIÇÃO”, em 1973, procuram produzir uma ação revisionista do episódio histórico, buscando discutir qual julgamento seria mais apropriado a Calabar, ensejando, inclusive, a indagação de qual teria sido a colonização mais interessante para o Brasil, a portuguesa ou a holandesa. O conceito de “traição” é questionado, a partir da escolha feita por Calabar. E os autores contextualizam com a ditadura que o país vivenciava na época em que a peça foi elaborada, ao perguntarem: afinal de contas, onde está realmente a traição? A analogia era explícita, provocando a confusão: onde estão os vilões e os heróis? Quando se sabia que o regime militar premiava a traição, os conhecidos “dedos duros”. A figura de Calabar serviu ao Brasil como exemplo de subversão.

Calabar amava sua Terra e fez a escolha que julgava mais acertada, embora seu nome tenha ficado na história definitivamente associado à ideia de traição. A História precisa ser recontada, no propósito de evitar julgamentos injustos. Percebe-se uma luta onde se ouvem várias vozes disputando o direito de serem consideradas detentoras da “verdade histórica”. Mas é preciso que isso ocorra, para que se consiga explicar, atacar ou defender as atitudes de Calabar, sem a preocupação em transformar o vilão em herói, mas a de encontrar a verdade histórica que não seja, exclusivamente, a da sua condenação escrita na versão oficial dos livros didáticos até então.

Rui Leitão




UMA DISPUTA POLÍTICA ACIRRADA Por: Rui Leitão

UMA DISPUTA POLÍTICA ACIRRADA

O grande debate que sucedeu ao anúncio de Burity como futuro governador da Paraíba, foi a decisão de Antônio Mariz em ir à disputa na convenção da ARENA, contrariando o que havia determinado o presidente Geisel. A questão era avaliada como arriscada, mas ele e seus apoiadores acreditavam nas chances de vitória.

Em 1973, portanto, a Paraíba viveu dias de grande efervescência política. As disputas eram entre Burity e Mariz para Governador, Clóvis Bezerra e Valdir dos Santos Lima para vice, Milton Cabral e Ernani Sátiro para Senador biônico. Uma das vagas para o senado seria preenchida por eleição direta que tinha Ivan Bichara como candidato da ARENA. Cada grupo em busca da conquista de votos dos convencionais. Os dois lados contabilizavam números que animavam as perspectivas de vitória. A população acompanhava essa movimentação assumindo suas preferências.

No dia 4 de junho, desde as 7:00 h, a Praça João Pessoa começava a receber um grande público. Os partidários de Mariz eram visivelmente em maior quantidade e bem mais barulhentos. Antes de iniciados os discursos no plenário da Assembléia Legislativa, onde se realizaria a Convenção, vários oradores ocuparam o parlatório que fica na frente do prédio e ali improvisaram um comício. Parlamentares e lideranças municipais se revezavam nos pronunciamentos em defesa da chapa de contestação liderada por Mariz. Até o popular Mocidade fez uso da palavra, assim se expressando: “Mais uma vez assaltam a soberania da Paraíba. Esta praça é do povo, e eu estou acostumado a falar na praça do guardião da democracia que foi o presidente João Pessoa e o faço agora em defesa do nome de Mariz”.

Por volta das 10:00 h, encerradas as manifestações na tribuna da praça, o público ocupou as galerias para ouvir os oradores daquela festa cívica. Em sendo maioria, os marizistas vaiavam os adversários e aplaudiam os correligionários. O único orador dentre os governistas ouvido em silêncio foi Tarcisio Burity, em razão do apelo feito por João Agripino no sentido de que o escutassem com respeito.

Sendo o primeiro a discursar, João Agripino iniciou dizendo: “Eu não ensinei a Paraíba a ser rebelde. Porque esse comportamento, eu proclamo, foi João Pessoa quem ministrou. Compreendo as reações. Apenas eu lhes peço para provarmos que somos um povo bravo, mas educado politicamente. Somos da ARENA e queremos Mariz candidato a governador por nosso partido. Contamos com vocês”.

Os dois candidatos ao governo assim se dirigiram aos convencionais. Tarcisio Burity: “Vou colocar os interesses do povo acima dos pessoais. Sigam-me, portanto, todos aqueles que desejam a paz, a união, a tranquilidade, o trabalho e o progresso em benefício da Paraíba e do Brasil”. Antônio Mariz: “A Paraiba não admite medo. E o povo é senhor de sua história. Quando o povo grita que eu sou o “governador do povo”, está afirmando uma verdade. Os convencionais da ARENA são uma expressão do povo. Eles trazem para aqui a voz de todos os municípios paraibanos e aqui reunidos farão a vontade desse povo e por isso nos darão a vitória”.

Exatamente às 14 h começou o processo de votação, que durou até as 17 h, quando então as duas urnas coletoras de votos foram lacradas e entregues à Comissão Apuradora para contagem das cédulas ali depositadas e consequente conhecimento do resultado da histórica convenção.

Ao ser encerrada a votação, João Agripino sugeriu ao presidente dos trabalhos que promovesse a evacuação das galerias, permitindo a presença apenas dos convencionais durante o processo de apuração, no que foi atendido. O público ficou ansiosamente esperando o resultado na Praça João Pessoa.

Predominava o nervosismo natural em qualquer momento que antecede a contagem de votos de uma eleição. Mas os partidários das duas chapas faziam contas que prenunciavam a vitória dos seus respectivos candidatos, embora na certeza de que o vencedor obteria uma pequena vantagem de votos sobre o adversário.

A Comissão Apuradora, composta por Teotônio Neto, Álvaro Gaudêncio e Américo Maia, presidida pelo primeiro, iniciou a abertura das cédulas exatamente às 17:30 h, sob os olhares atentos dos que participavam da convenção.

Quarenta e cinco minutos depois foi proclamado o resultado, apontando a vitória dos governistas. Para governador e vice, Burity e Clóvis Bezerra tiveram 152 votos, enquanto Mariz e Valdir dos Santos Lima contaram com 124 sufrágios. Confirmou-se então a expectativa de que seria apertada a disputa. Para o Senado, Milton Cabral obteve 162 votos, contra 111 dados a Ernani Sátiro. Tarcisio Burity tornava-se oficialmente o candidato da ARENA ao governo do estado a ser eleito numa votação indireta.

Rui Leitão

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O DIREITO DE CHORAR Por Rui Leitão

O DIREITO DE CHORAR Por Rui Leitão

 

O choro é um estado emocional que pode ser provocado, tanto por manifestação de alegria, quanto de tristeza. É uma característica exclusivamente humana. O pranto do sofrimento, no entanto, é resultado da vivência de angústias, decepções, dores, medo, indignação e saudade. Nesses casos o choro é involuntário. Há quem entenda que ao chorar a pessoa demonstra que não tem capacidade para lidar racionalmente com uma situação indesejada. Não concordo com esse ponto de vista. Tem sentimentos que dificilmente podem ser reprimidos ou sufocados. É preciso que eles sejam expressos de forma a acalmar um coração pesaroso.

 

Tem gente também que costuma censurar o choro e pergunta por quanto tempo o indivíduo vai continuar derramando lágrimas. São pessoas que se incomodam com o choro dos outros, porque as deixam irritadas. Geralmente esse é o comportamento de quem não tem sensibilidade, são embrutecidos, não costumam ser alcançados pelo espírito de empatia. São frios por natureza.

 

O aperto no peito, a sensação de desamparo, a perda de paz interior, são sintomas que inevitavelmente levam o ser humano a verter lágrimas de tristeza e de preocupação. Neste momento ele espera receber o abraço fraterno de apoio, a compreensão do seu sentimento de consternação, a palavra de conforto e de ajuda. O pranto do luto é mais demorado, permanece maltratando os corações por mais tempo, por conta da perda inesperada de alguém que amamos.

 

O choro nem sempre se mostra ao derramar lágrimas. Muitas vezes ele se evidencia por gritos silenciosos de inquietação, desgosto, aflição, amargura, revolta. Chorar, no sentido de lamentar, cobrar, questionar, reclamar, é um exercício de cidadania. A indignação nos conduz também ao choro. Lágrimas são palavras ditas de um sentimento calado.

 

Chorar é bom para a nossa saúde mental. Portanto, não nos faz bem segurar as lágrimas. Reprimir as emoções nos faz infelizes. Há momentos em que o choro tem efeitos terapêuticos. Após o choro, muitas vezes, recuperamos o equilíbrio emocional e melhoramos de humor. Guardar as lágrimas pode aumentar nosso sentimento de raiva ou de tristeza.

 

O machista diz que “homem não chora”. São inaceitáveis códigos culturais impostos como peso da masculinidade, onde ele terá que guardar para si as emoções que podem produzir pranto. Eu não me envergonho de chorar. E tenho chorado recentemente. Por vários motivos. Mas principalmente pelos males causados pela pandemia. Reajo com veemência às afirmações de que chorar é “frescura”. Não. Chorar não é atitude de covardia, como alguns tentam classificar. Pelo contrário é um ato de coragem, autenticidade, quando não se submete ao fingimemto de que não está infeliz ou desgostoso com alguma coisa, para não ferir a imagem de masculinidade ou não desagradar os que possam ficar aborrecidos com seu pranto de lamento.

 

Quero me manter firme na coragem de não esconder meus sentimentos de tristeza, de dor, de medo e de angústia. E vou chorar sempre que tiver vontade. Porém, sem perder o ânimo para vencer as contrariedades, a desesperança e o arbítrio. Não abro mão do meu direito de chorar. Muito mais quando esse choro tem justificativas e se faz necessário até para alívio da alma.

 

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O sequestro dos símbolos nacionais por: Rui Leitão

O SEQUESTRO DOS SÍMBOLOS NACIONAIS

Muito triste ver que os símbolos nacionais estão sendo indevidamente usados com propósitos reacionários e antidemocráticos. Sempre compreendi que as cores e os símbolos nacionais representam o sentimento de amor ao nosso país. Tentam passar a ideia de que só eles são patriotas. Como perceber manifestações de patriotismo em quem consente pacificamente com a entrega de nosso rico patrimônio? Que patriotismo é esse que se estabelece num clima de ódio aos que não comungam com as políticas elitistas e retrógradas dos que estão circunstancialmente no poder? Será que homenagear torturadores e desejar a volta de uma ditadura militar que matou nossa democracia por duas décadas, é patriotismo? Pode ser considerado patriota quem aprova injustiças sociais, extinção dos direitos dos trabalhadores e discriminação das chamadas minorias na definição das políticas públicas?

 

A bandeira nacional não pertence a qualquer grupo sectário. Não pode, em nenhum instante, significar sentimentos pautados em paixões ideológicas ou partidárias. É lamentável que o ato de vestir a camisa da CBF tenha se tornado uniforme de ativista da extrema direita. Isso é uma agressão ao espírito libertário de um povo que sempre sentiu orgulho de suas cores nacionais. Uma tentativa de forçar uma distinção entre os autoproclamados patriotas de um lado e do outro os que julgam serem inimigos da pátria, classificados por eles como comunistas.

Esse sequestro dos símbolos nacionais pode ser considerado uma armadilha para inibir os contrários de usarem tais símbolos e assim considerá-los impatrióticos. O objetivo é criar na opinião pública a ideia de que quem não veste verde e amarelo não sente orgulho do país. Estabelecer uma falsa distinção entre “patriotas verdadeiros” e os que acusam, irresponsavelmente, de não terem compromisso com a nação.

Não podemos nos afastar do debate sobre o papel da identidade nacional e do real e autentico patriotismo. É preciso reagir contra o falso nacionalismo estimulado por políticos oportunistas. Faz-se necessário, portanto, resgatarmos os símbolos nacionais, não permitindo que ideólogos da extrema direita continuem adotando-os como marcas de suas manifestações políticas. Os símbolos pátrios foram historicamente construídos para identificação nacional. Logo, nenhum grupo tem o direito de se apoderar deles por motivos que não se afinem com os interesses nacionais.

 

Rui Leitão




A BOA LIDERANÇA TEM CORAÇÃO Por: Rui Leitão

A BOA LIDERANÇA TEM CORAÇÃO

 

Impossível alguém exercer liderança positiva sem que demonstre empatia pelos outros. Os que não têm coração só conseguem sobreviver como líderes, impondo a cultura do medo e numa sociedade desumanizada. Insistem na necessidade de manter a “máscara” para serem vistos como poderosos. Quando se perde o contato com o coração, dificilmente é escolhido o caminho do amor.

 

Liderar pelo coração é, ao mesmo tempo, servir e retribuir, afirmando-se como construtor de ações inovadoras, saudáveis e de sucesso. Sem abrir mão da prerrogativa de tomador de decisões, sempre está pronto para ouvir opiniões e acatá-las quando as julga oportunas, revelando-se um comandante flexível, ágil, estratégico e responsável. Conquista sua autoridade por meio da compreensão e da confiança e, assim, espalha esperança. Tem plena consciência do seu papel de guia e de orientador.

 

O bom líder não fica preso às armadilhas do “poder sobre os outros”, mas procurando exercitar o “poder com os outros”. A falta de diálogo com os liderados marca o comportamento dos autocratas, instaurando permanentemente um ambiente de tensão. Winston Churchill dizia que “os ditadores montam em tigres dos quais não têm coragem de desmontar. E os tigres estão ficando com fome”. Já Andrew Carnegie proclamava que: “nenhum homem será um grande líder se quiser fazer tudo sozinho ou se quiser levar todo o crédito por fazer isso.” Quem não atua com a definição de objetivos, alicerçados no compartilhamento de idéias e opiniões dos liderados, não consegue administrar sua própria vida, imagine a dos outros.

O verdadeiro líder se apresenta como alguém ousado, sem ser valentão; humilde sem ser acovardado; amável, sem ser fraco; enérgico, sem ser arrogante, sabe administrar as emoções, não inventa desculpas para erros cometidos e nem transfere para outros a responsabilidade daquilo que não foi capaz de fazer. Também não adota como base a sustentação do próprio ego, nem se dedica a atender interesses pessoais ou de grupos, em detrimento das demandas coletivas.

Quem lidera com o coração produz sempre bons resultados. E os maus líderes não se sustentam por muito tempo.

Rui Leitão

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