MARINGÁ Por Rui Leitao 

MARINGÁ Por Rui Leitao

Na década de trinta do século passado, quando José Américo de Almeida era ministro da Viação, seu oficial de gabinete, Ruy Carneiro, sugeriu ao compositor Joubert de Carvalho que fizesse uma música tendo como enfoque o problema da seca no Nordeste. O jovem paraibano ofereceu-lhe alguns nomes de cidades do nosso estado, entre eles Ingá e Pombal. O autor da canção imaginou a figura de uma cabocla nordestina chamada Maria de Ingá, que seria personagem principal na letra. Criou a corruptela “Maringá” porque soava melhor. Perguntou depois em que cidade Ruy Carneiro havia nascido, tendo como resposta o município de Pombal, que passou a ser referida na canção que se imortalizou. Foi gravada originalmente na voz de Gastão Fermenti, e posteriormente fez grande sucesso na interpretação de Carlos Galhardo.

 

“Foi numa leva que a cabocla Maringá/Ficou sendo a retirante que mais dava o que falar/E junto dela veio alguém que suplicou/Pra que nunca se esquecesse de um caboclo que ficou”. Os retirantes eram os flagelados da seca nordestina que saiam em procissão abandonando suas terras em busca de uma vida melhor. Num desses grupos o compositor destacou “Maringá”, ou “Maria de Ingá”, cabocla bonita e faceira. Ao partir, deixara alguém que por ela se apaixonara e que rogava que nunca o esquecesse.

 

“Maringá, Maringá/Depois que tu partiste/Tudo aqui ficou tão triste/Que eu garrei a imaginar” O “eu lírico” chora sua dor de saudade. E ao lamentar a sua partida, diz que o local onde morava, sem a presença dela, ficava muito triste. E não conseguia pensar noutra coisa, a não ser nela.“Maringá, Maringá/Para haver felicidade/É preciso que a saude

 

ade/Vá bater noutro lugar”. Chamando muitas vezes pelo seu nome, fica na esperança de que a felicidade possa voltar, junto com ela. E pede que aquela enorme saudade vá embora; vá provocar essa tortura noutro lugar.

“Maringá, Maringá/Volta aqui pro meu sertão/Pra de novo o coração/De um caboclo assossegar”. Apela para que ela retorne ao seu sertão. E assim possa sossegar o coração daquele caboclo que ficou abatido pela lembrança de quem não tem mais ao seu lado.

“Antigamente uma alegria sem igual/Dominava aquela gente/da cidade de Pombal”. Na memória fica a recordação dos momentos felizes que viveram juntos na cidade de Pombal onde moravam. Era um tempo de alegria inigualável.

“Mas veio a seca,/toda chuva foi embora/Só restando então a mágoa/Do caboclo quando chora”. A seca castigou o “eu lírico” de uma forma mais perversa ainda. Sua amada foi embora, junto com a chuva. E só restou esse penar, causa maior do seu pranto.

www.reporteriedoferreira.com.br/Rui Leitão, advogado, jornalista, poeta, escritor.

Do livro CANÇÕES QUE FALAM POR NÓS.




A NECESSÁRIA REGULAÇÃO DA MÍDIA Por Rui Leitao 

A NECESSÁRIA REGULAÇÃO DA MÍDIA Por Rui Leitao

Ainda existe muita gente no Brasil que permite ser anestesiada pela mídia monopolista empresarial que permanece atrelada às classes dominantes. São muitos os que resistem em enxergar a realidade e acreditam no mundo paralelo que o jornalismo pertencente à elite econômica insiste em propagar. O jornalismo por ela produzido tem forte apelo ideológico de direita. Pratica a ideologização e partidarização das informações sem nenhum constrangimento. Faz a defesa intransigente do neoliberalismo e nunca foi aliada de projetos democráticos.

 

A monopolização da informação tem o propósito de distorcer fatos conforme seus interesses políticos e econômicos, na intenção de manipular a opinião pública e negar ao cidadão o direito de conhecer a verdade dos fatos. Jornalistas golpistas que se afirmam democráticos estimulam o ódio, o preconceito, o separatismo, o racismo e vociferações fascistas. Defendem o totalitarismo que quer ocupar o lugar da política, enfraquecendo o Estado. Não se conformam com o resultado da eleição presidencial de outubro do ano passado.

 

A regulação da mídia é imperiosa e urgente para a preservação, a consolidação, o avanço da democracia e a garantia da soberania nacional. E não venham argumentar que se trata de cerceamento da liberdade de expressão. O que se faz necessário é o impedimento do monopólio midiático, porque ele tem compromisso com o capital financeiro, e não com os brasileiros. Vemos, com muita frequência, condenações midiáticas que se antecipam ao devido processo penal. Basta que sejam adversários.

 

Há um lobby histórico de empresários do setor contra a regulação da mídia, fazendo com que boa parte da população aceite os argumentos de que se trata de imposição de censura. Pelo contrário, a diversidade de vozes e a pluralidade de ideias ajudam a combater a censura. A grande mídia se recusa a promover um debate transparente e informado sobre o tema. Alimenta a cultura do medo e da desinformação. A regulação midiática já é realidade em vários partes do mundo democrático. A regulação estabelece regras para garantir o bom funcionamento e para que todos possam usufruir do direito à comunicação.

 

Esse debate precisa ser aprofundado no campo das políticas da comunicação e da cultura. É imprescindível regulamentar o § 5o do Art. 220 da CF quando prevê que “Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”. Até hoje não há uma lei que determine o que é monopólio e oligopólio na lógica das comunicações. É importante que a mídia funcione de forma ética, responsável e democrática. O embargo a este debate é feito com a preocupação em garantir a reserva de mercado, o lucro e com o poder de pautar a sociedade com a visão única dos valores da classe dominante. Que tenhamos uma regulação com critérios transparentes e amplamente debatidos.

 

www.reporteriedoferreira.com.br Por Rui Leitão, Jornalista, advogado, poeta escritor.




A PEC INÓCUA Por Rui Leitao

A PEC INÓCUA Por Rui Leitao

A PEC do Senado que limita a monocratização das decisões do Superior Tribunal Federal nasce sem qualquer efeito prático, uma vez que isso já havia sido resolvido por meio de resoluções aprovadas na gestão da ministra Rosa Weber, que se aposentou em setembro. Indiscutivelmente é um tema que merece ser debatido e o parlamento é fórum apropriado para tal, embora sem assumir a condição de poder revisor de decisões da Suprema Corte, conforme estabelecido constitucionalmente. A PEC, portanto tem vício de origem. É inócua.

A inoportunidade da votação dessa Emenda Constitucional serviu muito mais para provocar um entrevero político entre os poderes constituídos: Executivo, Legislativo e Judiciário. O fato é que os intentos golpistas dos últimos anos foram contidos pelo STF que passou a ser visto como o principal inimigo dos que não convivem bem com a democracia. Porém, é inegável que no período pós Constituinte, o Supremo, de certa forma, concorreu para que sofresse críticas em razão de alguns posicionamentos que podem ser considerados como quebra de regras do devido processo legal. Foi assim, no julgamento da Ação Penal 470, julgando e condenando pessoas sem foro. A admissão da “teoria de domínio do fato” para lastrear o punitivismo. A aprovação do impeachement de Dilma, sem crime de responsabilidade. A negação do Habeas Corpus para Lula que permitiu a sua prisão por condenação em segunda instância, o que é proibido pela Constituição.

Mas, quando o STF resolveu agir como verdadeiro “guardião da Constituição”, motivou reações que podem ser vistas como vingança política. A firmeza com que o Supremo tem defendido a democracia, o voto eletrônico e a punição dos golpistas da intentona de 8 de janeiro, desagrada os políticos que flertam com o autoritarismo. Quando enfrentou as teses negacionistas do governo passado, principalmente durante a crise sanitária da Covid-19, passou a ser alvo de investidas da extrema direita. Afinal já houve quem afirmasse que bastaria “um cabo e um soldado para fecharem o STF”. Em que pesem algumas dessas decisões terem sido efetivadas monocraticamente, foram necessárias para que vidas fossem salvas e o regime democrático fosse protegido dos ataques golpistas.

A reforma do Poder Judiciário que se faz necessária, não pode ser feita a “toque de caixa”, estimulada por paixões ideológicas ou político-partidárias. É uma demanda que exige ampla discussão da sociedade, evitando que produzam desforras de grupos extremistas, em detrimento dos interesses do país. Sem um Poder Judiciário forte, não há Constituição forte. O movimento de desconstitucionalização que se apresenta no momento depõe contra a cidadania ativa.

www.reporteriedoferreira.com.br/ Rui Leitão- advogado-Jornalista- Poeta e Escritor




O COMPLEXO DE VIRA-LATAS Por Rui Leitao 

O COMPLEXO DE VIRA-LATAS Por Rui Leitao

“O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Nossa tragédia é que não temos o mínimo de auto-estima”. Essa declaração de Nelson Rodrigues retrata bem o sentimento chamado de “complexo de vira-latas” a que muitos estão assumindo nos tempos atuais, inclusive parlamentares que viajaram nesta semana para os Estados Unidos, bancados por recursos públicos, para falar mal do Brasil. É muito normal vermos hoje em dia frases como: “só no Brasil acontece isso”, “tinha que ser no Brasil”, na compreensão de que o mundo todo presta, menos o Brasil.

A expressão “complexo de vira-latas” foi cunhada também por Nelson Rodrigues, numa crônica escrita às vésperas da Copa do Mundo de 1958, quando ele se referia ao pessimismo que tomava conta dos brasileiros quanto ao sucesso de nossa seleção. Essa sensação prévia de falta de confiança foi causada pelo trauma vivenciado por ocasião da inesperada derrota para o Uruguai na decisão de 1950, em pleno Maracanã lotado. Ele afirmou: “por complexo de vira-latas entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca perante o mundo”.

Dali por diante toda vez que vemos alguém se lamuriando pelo fato de ser brasileiro, dizemos que ele está alcançado pelo “complexo de vira-latas”. Na verdade, antes de falarmos mal do Brasil, é necessário que façamos uma autocrítica no sentido de promovermos mudanças de mentalidade e de comportamento. Transformar essa mentalidade subalterna, de desconhecimento dos nossos próprios valores, de ignorância dos acontecimentos gloriosos de nossa história, em sentimento de honra patriótica. Somos um povo alegre, trabalhador, sofrido, mas corajoso. Não podemos deixar que o desânimo, a desesperança e o desalento, façam com que nos sintamos incapazes de reagir em busca de modificar o que possa ser apontado como nossas deficiências e imperfeições.

Eu não embarco nessa do “complexo de vira-latas”. Tenho orgulho de ser brasileiro. Nossa terra é bonita e rica por natureza, em todos os sentidos. Temos defeitos sim, mas temos também muitas qualidades, e ao invés de realçar nossas falhas, devemos valorizar nossas peculiaridades positivas, nossos predicados invejados pelo mundo, nossos atributos de excelência, que são muitos. Essa negação de amor à pátria representa atitude de sujeição ao império das vontades vindas de fora, submissão ao estrangeiro, fraqueza de personalidade.

Rui Leitão, jornalista. advogado, poeta e escritor




A ONDA CRESCENTE DO ANTISSEMITISMO Por Rui Leitao 

Publicado no jornal A UNIÃO edição de hoje:

A ONDA CRESCENTE DO ANTISSEMITISMO Por Rui Leitao

No dia 10 de novembro de 1938 a onda de violência anti-semita alcançou seu estágio de maior intensidade, em toda a Alemanha, na Áustria então anexada e em algumas áreas da Tchecoslováquia ocupadas por tropas alemãs, quando foram quebrados vidros das janelas das sinagogas, das casas e empresas que pertenciam aos judeus. Esse acontecimento ficou conhecido como “A Noite dos Cristais Quebrados”.

As autoridades alemãs informaram que os ataques ocorreram como uma reação popular em resposta ao assassinato de Ernst vom Rath, um diplomata alemão lotado em Paris. Os massacres da Noite dos Cristais Quebrados foram instigados pelo Ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, que, em discurso pronunciado logo após a morte do diplomata, assim se manifestou: “o Fuhrer decidiu que as manifestações não deveriam ser preparadas ou organizadas pelo Partido, mas na medida em que elas irrompessem espontaneamente, não deveriam ser impedidas”. A mensagem foi compreendida como uma determinação para que se desencadeasse a violência.

267 sinagogas foram destruídas e incendiadas, 7.500 estabelecimentos comerciais de propriedades judaicas tiveram suas mercadorias saqueadas e 91 judeus mortos. Além disso, o governo nazista confiscou todos os pagamentos dos seguros devidos aos judeus, cujas empresas e residências foram saqueadas. Esse foi o saldo da tragédia. Dias depois foram promulgadas dezenas de leis e decretos privando os judeus de suas propriedades e de seus meios de subsistência e proibidos de possuírem carteira de motorista e de frequentarem teatros, cinemas e salas de concerto. Era a política da “arianização”, com a transferência desses bens para a população considerada “ariana”. Nos anos seguintes o regime nazista ampliou as medidas que objetivavam eliminar inteiramente os judeus da vida econômica e social alemã. “A Noite dos Cristais Quebrados” foram o marco histórico que deu início efetivamente ao processo de perseguição aos judeus pela Alemanha nazista.

O antissemitismo que surgiu primeiramente sob pretextos religiosos na Idade Média, a partir do século XIX assumiu a forma de nacionalismo, até se tornar uma ideologia nazista.

A Guerra do Oriente Médio, entre o grupo islâmico terrorista Hamas e o governo de Israel, tem provocado um aumento das manifestações antissemitas em todo o mundo, As explosões do antissemitismo em vários países, provocando uma onda de ódio global, estão sendo intensificadas pela resposta indiscriminada de Israel à Faixa de Gaza pelos assassinatos terroristas contra civis israelenses pelo Hamas, em 7 de outubro. As cenas de atrocidades promovidas pelas forças militares israelenses em comunidades palestinas têm despertado uma antipatia pública por Israel no estrangeiro.

Quase um século após “A Noite do Cristais Quebrados” e o Holocausto, que matou em torno de 6 milhões de judeus europeus, o antissemitismo revive com força, se voltando contra os judeus de todo o mundo, por conta das ações genocidas do governo de Israel. Os massacres perpetrados na Faixa de Gaza protagonizam uma tragédia humana, na qual civis se tornam vítimas inocentes, sem qualquer responsabilidade pela deflagração da guerra.

A questão israelo-palestina, sem dúvidas, possui uma complexidade histórica, geográfica e política que pouca gente tem conhecimento, mas fica tomando partido por preferências ideológicas ou religiosas. E o pior é que se transformam em divergências que levam à violência. A história do antissemitismo nunca termina, ela apenas adormece por algum tempo e reaparece ameaçando o mundo, com culpados de ambos os lados da contenda.

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A TENTAÇÃO AUTORITÁRIA Por Rui Leitao 

A TENTAÇÃO AUTORITÁRIA Por Rui Leitao

Impressiona como a tentação autoritária se faz presente na consciência política de boa parte da população brasileira. Os arrivistas estão por aí pregando a ruptura democrática, sonhando com um poder militarizado, ainda que a experiência recente com fardados na política e em cargos públicos tenha sido desastrosa. Não se desfez o desejo, por alguns, de ver o Brasil mergulhado numa quartelada. A democracia está a todo instante sendo ameaçada.

 

O fantasma do totalitarismo continua nos rondando. A apologia aos regimes ditatoriais tornou-se estratégia de marketing política, porque a extrema direita saiu do armário sem qualquer constrangimento. E surge procurando apresentar uma imagem de cordialidade, de moralismo, alicerçada em fundamentalismo religioso, apesar de, contraditoriamente, se utilizar da retórica da violência, do desrespeito aos direitos humanos, dos preconceitos e do ódio a quem pensa diferente. E o pior é que esses arroubos totalitários têm recebido a chancela do maior símbolo da democracia: o voto. Ainda bem que na última eleição para presidente conseguimos ser majoritários, mas muitos reacionários conquistaram assentos no parlamento, procurando dificultar a adoção de pautas políticas progressistas.

 

Parte do eleitorado se mantém seduzida pelo discurso retrógrado da extrema direita. Sabemos que o militarismo no Brasil tem origem no Império. E a República se instalou através de um golpe militar. Em nome do que julgam ser a necessidade de impor a normalidade democrática, temos visto, ao longo da nossa história, a repetição de intervenções militares, com manifestações populares que antecedem aos golpes. O imaginário do militarismo se mantém firme em considerável parcela do eleitorado brasileiro.

 

Com isso temos um país dividido. Pacificar a Nação é uma tarefa histórica a ser desafiada. Mas não está sendo fácil. Conseguiram plantar a semente da discórdia e do confronto político-ideológico nas famílias e em qualquer ambiente social. Caberá às futuras gerações conter essa “tentação totalitária” que se vê latente entre nós. Não podemos aceitar a naturalidade com que se encara a exclusão social, política e cultural dos que não estão na escala superior da sociedade. É inadmissível o estímulo à violência. Inaceitável a idéia do pensamento único, sem permitir as divergências e o contraditório, tão essenciais ao exercício da democracia plena.

 

O totalitarismo tem como objetivo maior enfraquecer os princípios fundamentais da democracia. Há um trabalho articulado visando concentrar o poder e eliminar adversários necessários ao jogo democrático, seja no Legislativo, seja no Judiciário, seja na sociedade civil. É muito preocupante testemunhar chefes de estado que agem para provocar a erosão da democracia. A governança democrática precisa ser fortalecida para que, assim, possamos resistir aos ímpetos totalitários. Proteger a ordem democrática é a palavra de ordem para enfrentar os golpistas de plantão.

 

As lideranças políticas alcançadas pela tentação autoritária emergem como compulsão humana para se fixar na ignorância, esquecendo que são providos de inteligência. Será que são mesmos? Mas acham chique manifestarem-se ignorantes, comportando-se como fanfarrões irresponsáveis e incivilizados. A tentação totalitária nasce do deslumbramento do poder. Querem ser absolutos. A partidarização dos quartéis e o enfraquecimento das instituições democráticas foram experimentados com redundante fracasso, mas deixaram fieis apoiadores que se recusam a enxergar o óbvio. No momento presente já é possível distinguir os militares que rejeitam a aventura golpista e aqueles que conservam elevado espírito autoritário herdado dos anos de chumbo que vivenciamos na segunda metade do século passado. Líderes retiram as máscaras de democratas e optam pelo populismo que descamba para o autoritarismo. Pregando um ideário conservador e salvacionista lançam propostas de endurecimento do regime.

 

Acabemos com a guerra das patrulhas ideológicas. Nas democracias constitucionais os fins não justificam os meios. O poder sem limites leva à barbárie. Afastemos, pois, esses, ainda permanentes, delírios autocráticos. E que VIVA A LIBERDADE. DITADURA NUNCA MAIS.

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A INAUGURAÇÃO DO HOTEL TAMBAÚ Por Rui Leitao 

Publicado no jornal A UNIÃO edição de hoje:

A INAUGURAÇÃO DO HOTEL TAMBAÚ Por Rui Leitao

Enfim o Hotel Tambaú estava pronto. Como dizia o Governador Ernany Sátiro, “A Paraiba abria as portas para o turismo”. A cidade ganhava o seu mais novo cartão postal. O projeto arquitetônico, que levava a assinatura de Sérgio Bernardes, chamava a atenção, não só por sua singular forma arredondada, mas por ter sido construído nas areias da praia, algo inusitado.

Certamente, na atualidade, não se permitiria a sua construção. Na época, João Pessoa não possuía ainda o seu Plano Diretor, que só veio a existir em 1974. Portanto, não havia ilegalidade na sua edificação. Hoje os ambientalistas se insurgiriam contra, por considerá-lo uma agressão à natureza.

Construído, o governo do Estado vendeu o equipamento turístico à Companhia Tropical de Hotéis. Também não se questionou a forma da operação de venda, mesmo sem concorrência pública.

A inauguração aconteceu na noite do dia 11 de setembro de 1971, com uma festa de que só participaram personalidades convidadas. O povo não teve acesso, o que se entendia como conveniente para preservar a sua estrutura física. Não era um evento adequado à participação popular. Presentes o Governador que concluiu a obra, Ernany Sátiro, e o Governador que deu início e teve a ideia da sua construção, João Agripino. Naquela noite o cinema, também inaugurado, exibiu o filme “O Aeroporto.

Na véspera, os novos proprietários do hotel ofereceram um almoço às autoridades. Ocorreu um fato que causou certo constrangimento: o Padre Zé Coutinho teria sido barrado à entrada do restaurante. Ao tomar conhecimento do que acontecera, o governador Ernany Sátiro manifestou seu desagrado e comunicou a decisão de levar o sacerdote que havia sido impedido de comparecer ao almoço, para a solenidade de inauguração, e que seria ele o responsável pela bênção religiosa do hotel, mesmo com a presença do Arcebispo Dom José Maria Pires. Essa foi a forma que a principal autoridade do Estado encontrou para desagravar o Padre Zé.

O quadro de empregados era quase na sua totalidade formado por paraibanos, selecionados pelos profissionais de recursos humanos da Companhia Tropical de Hotéis. Em frente se instalou uma praça de táxis, com dez Opalas, cujos motoristas foram especialmente treinados para prestarem serviços aos turistas.

Nós, que não tivemos a oportunidade de participar da festa da inauguração, só podemos conhecer a parte interna do hotel dias depois, em visitas permitidas ao público, de forma a evitar aglomerações que comprometessem o seu funcionamento normal, nem perturbassem os hóspedes. No entanto, tornou-se motivo de orgulho para todos nós paraibanos. O Hotel Tambaú é classificado como uma das obras clássicas da arquitetura brasileira.

Lamentavelmente esse cartão postal de nossa cidade se encontra abandonado, sendo deteriorado, embora se saiba que há interesses empresários em fazê-lo voltar a funcionar. Estamos na torcida para que isso, de fato, possa acontecer.

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EU PREFIRO FICAR DO LADO DA PAZ Por Rui Leitao 

EU PREFIRO FICAR DO LADO DA PAZ Por Rui Leitao

 

Eu costumo não ter lado quando recebo notícias de guerras deflagradas. A estupidez de um confronto bélico entre nações não me permite tomar partido por qualquer um dos lados. De ambos os lados vemos famílias dilaceradas, inocentes serem assassinados, corações destruídos, filhos sem pais, etc. Nada justifica esses atos de barbárie.

 

Na guerra do Oriente Médio iniciada recentemente, não vejo como entender que um dos oponentes esteja com a razão. A iniciativa do grupo terrorista Hamas, no ataque a Israel, é condenável em todos os sentidos. Porém, a reação do governo israelense é tão incivil quanto a do grupo terrorista palestino. Não há contexto histórico, ou explicações político-ideológicas, nem convicções de fundamentalismo religioso que expliquem tal desumanidade.

 

O ataque do Hamas à população civil de Israel é abominável e de acordo com o direito internacional se configura um crime de guerra. No entanto, a extrema direita de Israel, comandada por Netanyahu, com o interesse político de bloquear a formação do Estado Palestino, considera os habitantes da área territorial da Faixa de Gaza como massa excedente, que precisa desaparecer, com bombardeios matando milhares de palestinos que não são terroristas como os integrantes do Hamas. Não estão sabendo separar o joio do trigo.

 

São povos irmãos que se tornaram inimigos. É inadmissível o genocídio que está sendo praticado na Faixa de Gaza, assim como também é intolerável o violento ataque que o Hamas tem produzido a civís de Israel. Deus não tem favorito nessa guerra. Porque Deus é amor. Jesus foi um pregador da paz e da fraternidade. O conflito entre Israel e Palestina existe há muitos anos e afeta a vida de milhares de pessoas. O Israel bíblico não é o Israel governado pelo extremista Netanyahu. Nem os terroristas do Hamas representam a causa palestina. Agora, o que se vê, é muito mais do que uma guerra, é um massacre humano mútuo, uma barbárie sem precedentes.

 

É preciso encontrar uma solução pacífica em que palestinos e israelenses entendam que é importante respeitar os limites estabelecidos para a coexistência de duas nações. Abdicarem, de uma vez por todas, do exercício da política de terror, onde as maiores vítimas são civis, principalmente idosos e crianças, que nada têm a ver com os propósitos políticos dos governantes que patrocinam o conflito. Como usar o nome de Deus praticando ações de destruição e morte? É inconcebível isso. Não é uma questão de ficar em cima do muro, é a de defender a retomada do processo de paz no Oriente Médio. Posso desagradar alguns que já fizeram sua escolha de lado nessa guerra. Eu prefiro ficar do lado da paz.

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O MOVIMENTO GOLPISTA NÃO MORREU Por Rui Leitao 

O MOVIMENTO GOLPISTA NÃO MORREU Por Rui Leitao

É preciso que continuemos atentos e fortes. A vitória eleitoral conquistada no ano passado não nos dá a tranquilidade de que as ameaças à democracia desapareceram por completo. O delírio golpista continua aceso. Os conspiradores seguem na espreita, intimidando os democratas brasileiros. Vencemos uma batalha, mas ainda não ganhamos a guerra. O fascismo trabalha sua reorganização.

Têm aversão ao debate ético. Apelam para as mentiras na busca incessante de tentar desgastar um governo que está dando certo. Embora inelegível, o ex-presidente ainda consegue ser ouvido pelos que pensam como ele. Seus apoiadores, apesar das evidências da prática de crimes, recusam aceitar os fatos incontestáveis como verdadeiros. Parte do seu público se mantém fiel. As pautas cheias de ódio e preconceito retomam os discursos nas redes sociais, com o espalhamento desenfreado da desinformação.

Os grupos extremistas não foram exterminados. É bom lembrar que o Congresso eleito nas eleições do ano passado tem um perfil ideologicamente bem mais conservador do que o das legislaturas pretéritas, obrigando um presidente progressista a fazer concessões que possam garantir a governabilidade. Nele encontramos parlamentares que promovem a cizânia, líderes medíocres que não sabem viver numa democracia. Desrespeitam a ciência, defendem pautas retrógradas e não aceitam a pluralidade de pensamento.

Uma direita histérica, radical, mas barulhenta, insiste em atacar as instituições democráticas e republicanas. A nossa sorte é que são desqualificados, culturalmente despreparados, incapazes de desenvolver um debate de ideias com racionalidade. Quem pensa diferente deles não é patriota, nem cristão, é comunista, segundo definem. Estamos, então, diante da luta da civilização contra a barbárie.

Ainda que o principal líder da extrema direita brasileira tenha se desidratado, não dá para deixar de reconhecer que em torno de 25 % dos brasileiros ainda lhe devota fidelidade. Todavia, o golpismo é muito mais uma ação retórica do que um planejamento inteligente capaz de se efetivar. Mas essa possibilidade de ruptura fica sendo alimentada, até para que se mantenha o grupo mais fiel unido. É um movimento que gerou frutos em alguns setores da sociedade brasileira e levará décadas para que possamos respirar os ares da democracia inteiramente tranquilos, livres das ameaças golpistas.

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ENVELHECER COM DIGNIDADE Por Rui Leitao

Publicado no jornal A UNIÃO edição de hoje:

ENVELHECER COM DIGNIDADE Por Rui Leitao

O planeta Terra tem 13,9 % da sua população formada por pessoas com mais de 60 anos. No Brasil é de 15,1 %. Em 2030, o número de idosos deve superar o de crianças e adolescentes de zero a quatorze anos. Há, portanto, uma evolução etária que precisa ser encarada pelas políticas públicas. Em 2003, no seu primeiro mandato, o presidente Lula, promulgou o Estatuto da Pessoa Idosa, assegurando direitos básicos para as pessoas com mais de 60 anos. Foi a primeira iniciativa de governo em nosso país com o propósito de atender, de forma justa e adequada, essa parcela crescente e numerosa do povo brasileiro. Mas a forma de proteção designada à população idosa, como garantia legal, já estava incluída na Constituição Federal de 1988.

O que preocupa é a evidência de que esse grupo de idosos se concentra na população mais empobrecida do país, cidadãos e cidadãs destituídos de quase todos os direitos de cidadania. Vivem, então, numa condição de vulnerabilidade que requer novas perspectivas sociais, econômicas e ambientais, contra o preconceito e a exclusão. É preciso combater a desumanização do envelhecimento, exigindo tratamento prioritário e preferencial nos mais diversos aspectos da vida cotidiana. Normas protetivas que devem ter sua efetividade máxima alcançada, reconhecendo que a população idosa é detentora de direitos civis, políticos, individuais, sociais e culturais, colocando-a como protagonista de sua própria vida e responsável por suas próprias escolhas.

É necessário acabar com o entendimento de que a “velhice” seja associada a algum diagnóstico de doença O preconceito da idade, o etarismo, é um estigma inaceitável nos tempos atuais. Envelhecer com dignidade é um direito que deve ser garantido, em sendo um processo natural da vida que precisa ser encarado com atenção e respeito. Lamentável que nem todo mundo pense assim. O que vemos é uma realidade cruel em que se configura descaso da sociedade e, até mesmo, da própria família.

O envelhecimento deve ser analisado alem da dimensão biológica, mas com o olhar voltado para seus aspectos sócio-políticos, culturais e históricos. A participação social da pessoa idosa no processo democrático, oferece empoderamento no processo decisório e de controle das políticas públicas. Para alcançar a longevidade é preciso estar bem consigo mesmo, continuar vivendo num permanente aprendizado, cuidar da saúde física e mental, estabelecer boas relações sociais e procurar construir uma situação financeira tranquila, sem permitir que a idade biológica interfira na idade psicológica, fazendo com que se consiga reduzir os efeitos indesejáveis do envelhecimento físico.

No primeiro dia de outubro, no Brasil, se comemora o Dia Nacional do Idoso. Que a data possa, a cada ano, despertar a reflexão de que é possível fazer valer o que dispõe o Estatuto da Pessoa Idosa quando estabelece que “ao idoso sejam garantidas todas as oportunidades e facilidades para a preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade”.

Por Rui Leitão, Jornalista, advogado, poeta e escritor