O MASSACRE DE ELDORADO DO CARAJÁS Por Rui Leitao

O MASSACRE DE ELDORADO DO CARAJÁS Por Rui Leitao

O município de Eldorado do Carajás, no sul do Pará, foi palco de um genocídio que passou a ser conhecido como o Massacre de Eldorado do Carajás. No início da tarde do dia 17 de abril de 1996, cerca de 1,5 mil trabalhadores rurais estavam acampados no local, pretendendo marchar até a capital do estado, com o propósito de conseguir a desapropriação da fazenda Macaxeira, ocupada por 3,5 mil famílias sem-terra. Por volta das 17 horas, reagindo ao bloqueio da estrada PA-150, no km 95, que liga a Belém, dois pelotões das forças militares chegaram ao local e, sem que houvesse qualquer tentativa de negociação, empreenderam uma ação desastrosa, promovendo o ataque aos acampados, matando 19 trabalhadores e deixando 56 gravemente feridos.

Não se tratou de um caso isolado, mas foi o episódio mais cruel de tantos que aconteceram no meio rural, onde se repetiam conflitos entre agricultores e milícias privadas, formadas por jagunços e pistoleiros, patrocinadas por proprietários rurais com a colaboração de policiais militares. O massacre foi amplamente noticiado pelos meios de comunicação do país, com repercussão no cenário político nacional. Os principais jornais do Brasil destacaram a forma como os detentores dos poderes públicos procuraram enfrentar essa situação gravíssima. O jornal O Povo, de Fortaleza, no dia 21, trazia a seguinte manchete: “FHC pede cadeia para o responsável pela chacina e admite que estrutura agrária está ultrapassada”. Quatro dias depois, o Diário do Nordeste estampava em sua capa principal: “Senado cria comissão para apurar chacina do Pará”.

Foram indiciados sob acusação de homicídio, pelo Inquérito Policial Militar (IPM), 155 policiais que participaram da operação, sendo oito oficiais e 147 praças (sargentos, cabos e soldados), além de quatro civis. Há quem afirme que essa decisão foi tomada propositadamente, pois, assim, ficaria mais difícil punir um grupo, já que a conduta necessária seria individualizada. Além disso, não foi realizada a devida perícia nas armas e projéteis, de forma que pudesse determinar quais policiais cometeram os assassinatos e lesões, o que contribuiu para a permanência da impunidade.

O Governo Federal, uma semana após o massacre, criou o Ministério da Reforma Agrária, nomeando o então presidente do Ibama, Raul Jungmann, para o cargo de ministro. Ao avaliar o vídeo do confronto, José Gregori, chefe de gabinete do Ministro da Justiça, declarou, em relatório elaborado, que “o réu desse crime é a polícia, que teve um comandante que agiu de forma inconveniente, de uma maneira que jamais poderia ter agido”.

O advogado Walmir Brelaz, autor do livro Os Sobreviventes do Massacre de Eldorado do Carajás: um caso de violação do princípio da dignidade da pessoa humana, declara que “A impunidade em relação a esse caso, especificamente, torna-se evidente: ela impulsiona novas violências. Mataram 19 trabalhadores e apenas um policial foi condenado. Parece que as mortes não existiram. O conflito ainda existe, como naquele período. Há 29 anos, praticamente nada mudou”. É inaceitável, então, que um dos maiores crimes já cometidos no campo no Brasil permaneça na impunidade. Após o massacre, o dia 17 de abril passou a marcar também o Dia Internacional de Luta Camponesa e a Jornada de Lutas do MST pela Reforma Agrária Popular, conhecida como “Abril Vermelho”.

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A ABSURDA PROPOSTA DE CONGELAMENTO DO SALÁRIO MÍNIMO; Rui Leitao

A ABSURDA PROPOSTA DE CONGELAMENTO DO SALÁRIO MÍNIMO; Rui Leitao

É sempre assim que os economistas do neoliberalismo propõem soluções que penalizam os mais pobres. Foi o caso de Armínio Fraga, um dos homens mais ricos do Brasil, ao defender o congelamento do salário mínimo por seis anos, durante sua participação no evento Brazil Conference, em Harvard, nos EUA, como forma de conter os gastos públicos e promover um ajuste fiscal. Em outubro do ano passado, ele chegou a propor que o SUS ficasse restrito àqueles que não pudessem pagar, estabelecendo um corte de renda para selecionar quem teria acesso ao sistema público. Já a parcela da população que poderia arcar com seguros e planos de saúde seria absorvida pelo setor privado. Paulo Guedes, ex-ministro do governo Bolsonaro, também pensava assim.

À época em que Armínio Fraga era presidente do Banco Central, os juros foram elevados ao patamar de 45%, e o desemprego atingiu níveis recordes. Agora, voltamos a assistir a ataques ao poder de compra de trabalhadores, aposentados e pensionistas, atingindo diretamente a base da pirâmide social. Essa postura ideológica busca blindar os setores mais privilegiados de qualquer esforço redistributivo.

A elite econômica brasileira não demonstra preocupação com as questões sociais. As alternativas apresentadas tendem a sacrificar cada vez mais os assalariados, adotando políticas baseadas na contenção de direitos sociais e na manutenção da concentração de renda e dos privilégios de uma minoria que vive do rentismo. É bom lembrar que essa ideia de Armínio Fraga já foi posta em prática nos governos de Temer e Bolsonaro, deixando o salário mínimo sem aumento real por seis anos.

Essas maldades impostas pelo neoliberalismo não resolvem crises econômicas. Pelo contrário, são incompatíveis com a justiça social. É indiscutível que o ajuste das contas públicas é necessário, mas não à custa do estrangulamento de setores destinados aos brasileiros mais vulneráveis, nem aplicado de forma seletiva ao impor sacrifícios apenas aos mais pobres. Considerar o salário mínimo como o vilão do orçamento revela o sentimento de desprezo pelos assalariados de baixa renda, a partir da visão ideológica de quem faz essa defesa. Em um país com a desigualdade estrutural do Brasil, essa proposta só poderia partir de quem nunca experimentou qualquer dificuldade financeira, ignorando o papel histórico do salário mínimo como instrumento de distribuição de renda, valorização do trabalho e estímulo à atividade econômica.

A pergunta que poderia ser feita ao propositor bilionário desse absurdo seria: por que não buscar a adoção de medidas que alcancem os beneficiários de lucros financeiros, como a taxação das grandes fortunas? Ou, então, por que ele não sugere congelar o pagamento dos serviços da dívida pública por seis anos?

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Suspeito envolvido em sequestro é morto com vários tiros, na Grande João Pessoa

A vítima Diego Luna já estava sob investigação por suspeita de envolvimento em crimes graves, como sequestro e desaparecimento

Na tarde dessa segunda-feira (14), um homem identificado por Diego Luna,  foi encontrado morto apresentando perfurações em diversas partes do corpo provocados por tiros. O corpo foi encontrado  em uma área de mata na cidade de Santa Rita, na Grande João Pessoa.

A vítima,  Diego Luna, estava na região de Águas Turvas, zona rural do município, quando foi localizada pela Polícia Civil. om corpo foi transladado para o IML para ser necropsiado

Segundo a delegada Josenise Andrade, Diego Luna já estava sob investigação por suspeita de envolvimento em crimes graves, como sequestro e desaparecimento.

A Polícia Civil já iniciou o trabalho investigativo visando elucidar o fato delituoso



O ÓDIO DE CLASSE AO BOLSA FAMÍLIA ; Rui Leitão 

O ÓDIO DE CLASSE AO BOLSA FAMÍLIA ; Rui Leitão

Em conversa com um amigo, ele lastimava a falta de pessoas interessadas em trabalhar na sua empresa e culpava o Bolsa Família por isso. Não me surpreendi e preferi não alimentar a discussão, até porque essa é uma opinião que se manifesta majoritariamente entre os integrantes da classe média brasileira. Para muitos, o Bolsa Família é chamado de “bolsa vagabundo” ou “bolsa voto”, ignorando que ele é o maior e mais importante programa de combate à pobreza do mundo e já foi copiado por mais de 40 países.

Sem o Bolsa Família, um quarto da população brasileira ainda estaria passando fome. Os que criticam o programa ficam indignados porque não encontram mais gente disposta a alugar sua força de trabalho por qualquer tostão, em um regime de semi-escravidão. Na verdade, o que existe é uma demanda por mão de obra barata, o que gera insatisfação pelo fato de que, na medida em que se garante uma renda suficiente para assegurar a sua sobrevivência, o trabalhador passa a ter maior poder de barganha para decidir se aceita ou não as condições de emprego que lhe são oferecidas.

Não conseguem entender que a fome não é um problema pessoal, mas sim um problema político. Essa reação não é recente. Ela existe desde 2003, quando o programa foi criado, adotando uma política de mudanças sociais com a transferência de renda para famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza, no propósito de pôr fim ao ciclo de miséria entre gerações de brasileiros ao longo da nossa história. Isso nos coloca como um dos países mais desiguais do mundo.

Esse ódio de classe contra o Bolsa Família não é apenas uma implicância de conservadores contra Lula; é coisa de quem não tem a menor noção do que seja passar fome. Culpam o Estado pelo desestímulo ao ingresso no mercado de trabalho, sob a alegação de que o programa representa uma ação política paternalista que inibe a autossuficiência individual e o mérito próprio. No entanto, em contraposição a essas críticas, pesquisas têm demonstrado que o desempenho econômico do país não é afetado pelo crescimento do número de famílias inseridas no programa, e o índice de desemprego vem diminuindo nos últimos anos. Trata-se, portanto, de um direito social que amplia a cidadania e está ligado a uma lógica de seguro social, contrariando a visão de que se trata apenas de uma política compensatória de renda mínima. Faz parte das políticas sociais típicas de um Estado de bem-estar social.

O Programa Bolsa Família foi criado com o objetivo de “contribuir para a superação da pobreza no Brasil por meio de três frentes de atuação: a transferência direta de renda, que representa uma melhoria imediata nas condições de vida das famílias pobres; o acompanhamento das condicionalidades, como reforço do direito de acesso das famílias aos serviços básicos de saúde, educação e assistência social, contribuindo para romper o ciclo de pobreza entre gerações; e a oferta de programas complementares, que abrem oportunidades de desenvolvimento para as famílias beneficiárias”.

Essa campanha contra o Bolsa Família se apoia no desejo de que o capitalismo continue se reproduzindo por meio da exploração de classes, perpetuando as grandes desigualdades sociais. Seus críticos procuram achincalhar a reputação de quem recebe o benefício e influenciar a opinião pública contra o programa, seja por desinformação, seja por preconceito. No plano ideológico, esses opositores — que se veem em uma posição intermediária na pirâmide social — temem perder seu status e diminuir a distância que os separa dos mais pobres.

Ninguém está afirmando que o Bolsa Família é a solução definitiva para erradicar a pobreza, mas ele representa um avanço no combate à exclusão social, ainda que precise de aperfeiçoamentos. Eis aí o motivo pelo qual a classe média reage contra o programa.

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O SHOW DA REDEMOCRATIZAÇÃO; SHO Rui Leitao Jornalista

O SHOW DA REDEMOCRATIZAÇÃO
No ano em que o Colégio Eleitoral definia o fim da Ditadura Militar, elegendo a chapa Tancredo Neves e José Sarney para substituir o general Figueiredo, afirmando-se como o primeiro governo civil após duas décadas conhecidas como os “anos de chumbo”, realizava-se, no Rio de Janeiro, o primeiro festival de rock do Brasil. O evento contou com a participação de artistas de renome nacional, como Ivan Lins, Paralamas do Sucesso, Blitz, Barão Vermelho, Gilberto Gil, Alceu Valença, Roberto Carlos, Ney Matogrosso e Rita Lee, além de muitas atrações internacionais.
Alguns desses artistas retornavam ao país após anos de exílio. Era a edição inaugural do Rock in Rio. Sua importância não se restringiu a um momento de diversão e entretenimento; representou a afirmação política de uma geração que ansiava por liberdade e democracia. Havia um sentimento de vitória, potencializado pela juventude. O evento atraiu um público estimado em mais de um milhão de pessoas e aconteceu em meio à expectativa política pelo resultado da votação em Brasília. A esperança era de que, enfim, o país iniciaria o processo de redemocratização. O Kid Abelha e os Abóboras Selvagens se apresentaram na noite de 15 de janeiro, no exato momento da eleição, sendo anunciados como o “primeiro show da democracia brasileira”. Como não poderia ser diferente, carregavam a bandeira nacional, o que inflamou a multidão, que, em coro, gritava: “Brasil, Brasil!”.
Na plateia, majoritariamente composta por jovens, militantes do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) distribuíam panfletos com frases como: “O rock foi a forma que a juventude encontrou para botar para fora seus sentimentos” e “Para os reacionários, o rock vem ameaçar seus caducos e carcomidos preconceitos e valores”. Os artistas transmitiam seus recados por meio de músicas temáticas, alterando letras e fazendo discursos, transformando o festival em um evento político. Os Paralamas, em sua apresentação no dia 13 de janeiro, cantaram Inútil, do Ultraje a Rigor, cuja letra afirmava ironicamente: “A gente não sabemos escolher presidente”, uma crítica ao regime que não admitia o voto direto na eleição presidencial. No Barão Vermelho, Cazuza, enrolado na bandeira nacional, mudou o refrão de Pro Dia Nascer Feliz para Pro Brasil Nascer Feliz. Ivan Lins alterou a letra de Começar de Novo para criticar o fascismo e lembrar as pessoas que haviam desaparecido durante a ditadura.
O idealizador e promotor do grandioso evento, Rubem Medina, chegou a declarar: “O Rock in Rio será uma festa de comemoração da esperança para o País”. O governo, no entanto, usou a máquina pública para dificultar a realização do festival. A Cidade do Rock teve suas obras embargadas em setembro de 1984, sob a justificativa de que o local seria usado por escolas de samba. Quando o empresário conseguiu autorização para a continuidade dos trabalhos, a obra foi novamente impedida, desta vez sob o argumento de que o evento rivalizaria com o RioCentro, um dos maiores espaços de exposição do país. Finalmente, o Rock in Rio foi autorizado, com shows programados para o período de 11 a 20 de janeiro de 1985. O festival simbolizou um novo momento na história nacional e o festivo nascimento da Nova República.
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A SÍNDROME DO COITADISMO Por Rui Wilson Leitão

A SÍNDROME DO COITADISMO Por Rui Wilson Leitão

A mania de perseguição é considerada, no campo da psiquiatria, um transtorno mental. O indivíduo sente constantemente que alguém quer prejudicá-lo, alimentando um exagerado sentimento de desconfiança. Imagina que tudo conspira contra ele. Trata-se, portanto, de uma doença que requer tratamento médico.

Na esfera política, no entanto, essa postura não pode ser classificada como uma enfermidade, mas como uma forma de autodefesa. Enfraquecido, o agente político apela para a narrativa de que está sendo perseguido, construindo discursos que o façam parecer vítima aos olhos dos eleitores. É a desculpa que encontra para enfrentar as acusações que lhe são impostas. Uma estratégia eficaz de manipulação da opinião pública, buscando amplificar manifestações de solidariedade.

Trata-se de um comportamento que, propositadamente, se descola da realidade, permitindo que a irracionalidade prevaleça e evidenciando instabilidade emocional. Geralmente, sua origem está na egolatria. O político vitimista se vê como injustiçado, ainda que existam provas irrefutáveis contra ele. Jamais admite ter adotado condutas que contrariem as normas da legalidade.

O vitimismo se manifesta no excesso da sensação de perseguição sistemática, atribuindo qualquer acusação a uma suposta vingança de adversários. Esse comportamento leva à perda do senso de autocrítica, do discernimento e da capacidade de avaliar racionalmente as situações. A negatividade é característica dos fracos, uma marca dos covardes. Não podendo demonstrar força, recorrem à política da vitimização. Não aceitam o fato de que os outros já não se curvam à sua ambição de poder. E, em vez de assumirem responsabilidades, transferem-nas para terceiros – muitas vezes de forma agressiva. É a síndrome do “coitadismo”.

Esses indivíduos assumem uma dupla personalidade: ora se apresentam como “machões”, que tudo podem; ora como “coitadinhos”, clamando por proteção e apoio de seus seguidores. Vitimizam-se para despertar piedade.

Mussolini e Hitler chegaram ao poder culpando os outros e explorando a retórica da vitimização. Utilizaram essa estratégia para cometer atrocidades, como se tivessem recebido licença moral para tanto. Eles sabiam que encontrariam pessoas de mente fraca, incapazes de pensar por si mesmas, verdadeiros integrantes de um rebanho ideológico. Provocar a vitimização consiste em construir uma imagem de ameaça constante, de modo a influenciar o público.

Devemos ter cuidado com os vitimistas. Eles manipulam situações para conquistar o que desejam, explorando a compaixão alheia. Por isso, é essencial não cair no jogo armado. Se autopromovem com o coitadismo, dramatizando circunstâncias desfavoráveis pelas quais estejam passando. É um vitimismo calculado, consciente, que se alimenta do lamento e da chantagem emocional. Seus discursos buscam desclassificar os argumentos dos adversários. Em vez de refutarem afirmações, preferem posar de vítimas de extremistas radicais. Nunca admitem erros. Agem pela emoção, sem preparo para defender suas ideias, ignorando a veracidade e a consistência dos fatos.

O vitimismo é um discurso fácil de vender. Quem o pratica sente a necessidade de ter seu sofrimento reconhecido diante dos outros, em busca de compaixão. Falam em meritocracia, mas são os primeiros a se colocarem como vítimas quando derrotados em seus projetos políticos. E recorrem à retórica do ódio.

A dinâmica do vitimismo está presente nas ciências políticas – lamentavelmente.

Rui Wilson Leitão




O FANATISMO E A IDOLATRIA POLÍTICA; Rui Leitao 

O FANATISMO E A IDOLATRIA POLÍTICA; Rui Leitao

A história da humanidade revela que a idolatria política, muitas vezes, causa dores, tragédias e mortes a uma nação. Cultos a personalidades, produzidos por circunstâncias sociais, tornam-se responsáveis pelo surgimento de líderes populistas que se esforçam para sequestrar o sistema democrático. Suas ideias e práticas incorporam-se ao caráter do idólatra, destruindo sua consciência moral e política, transformando-a em zelo cego.

O cenário político contemporâneo do Brasil tem feito com que o ódio contamine relacionamentos, promovendo uma guerra cultural e um clima de violência. Os idólatras, com seus pensamentos binários, dominados por discursos autoritários e linchamentos virtuais, abandonam a reflexão para aceitar percepções ideológicas propagadas por seus ídolos, considerando inimigos aqueles que não se alinham às suas ideias políticas. As discussões são transferidas para o âmbito pessoal ou moral. Eles têm uma visão simplista do mundo, enxergando apenas os extremos, como se a vida fosse uma equação exata. Assumem posições de ordem moral (o Bem e o Mal), nas relações sociais (o Bom e o Mau) e nas avaliações políticas do momento (Direita e Esquerda).

A idolatria política impede a conjugação de verbos de ação, como questionar, descobrir, inovar e duvidar. Limita o raciocínio ao “cercadinho reducionista”, definido por quem está sendo idolatrado. O exemplo mais atual dessa postura binária é a batalha que se desenvolve há décadas entre capitalismo e comunismo, como se fossem as únicas formas econômicas aplicáveis em qualquer sociedade.

Lideranças irresponsáveis estimulam uma divisão sectária da sociedade, resultante de discursos de intolerância aos que pensam de forma diferente. O fanatismo político leva pessoas a defenderem obsessivamente, de forma acrítica e apaixonada, seus ídolos. Trata-se de um comportamento que gera danos mentais tanto a si próprios quanto a terceiros, causando desequilíbrios emocionais que podem evoluir para um distúrbio psiquiátrico. Fanáticos tendem a conviver apenas com indivíduos que integram a mesma bolha ideológica, perdendo a individualidade e agindo como se pertencessem a um rebanho. Preferem cometer erros em nome da ideologia do que acertar em nome da razão.

Não é difícil identificar um fanático ou idólatra político. Ele não aceita opiniões divergentes das suas, ignora as incoerências evidentes de seus próprios argumentos e se recusa a admitir qualquer questionamento sobre a conduta de seu ídolo. Além disso, nega aos adversários — reais ou imaginários — o direito mais elementar: a dignidade humana. É incapaz de interagir civilizadamente. O grande perigo da idolatria e do fanatismo político é a desumanização de segmentos da população, inibindo a capacidade de empatia e deslegitimando o direito dentro de um Estado Democrático.

É preciso fazer valer a norma democrática que assegura a dignidade da pessoa humana. E isso jamais será possível enquanto estivermos presos a essa disputa política entre agrupamentos formados por idólatras e fanáticos.

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O EMPODERAMENTO FEMININO E A IGREJA CATÓLICA Por Rui Leitao

O EMPODERAMENTO FEMININO E A IGREJA CATÓLICA

A partir do século XIX, surgiu um movimento político, social e filosófico com o objetivo de fortalecer o papel da mulher, buscando inseri-la em uma sociedade que historicamente se estrutura de forma patriarcal. Essa luta ficou conhecida como “empoderamento feminino”, pautando-se na reivindicação da igualdade de direitos entre homens e mulheres.

Por milênios, a mulher foi vista como um ser inferior ao homem, impedida de desfrutar de privilégios concedidos exclusivamente ao gênero masculino, como ler, escrever e votar, sendo relegada, quase que exclusivamente, aos afazeres domésticos, em submissa obediência às figuras paternas ou conjugais. Ainda que tenham conquistado avanços significativos no acesso a espaços sociais, políticos e econômicos, as mulheres continuam enfrentando inúmeras barreiras que precisam ser superadas.

Essa luta não deve ser vista como uma guerra entre os gêneros, como declarou Frei Gilson em sua pregação na madrugada do dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, por ocasião da Quaresma Digital. O empoderamento feminino não se trata apenas de uma disputa por poder, mas sim da busca pelo direito da mulher de ter controle sobre a própria vida em todos os aspectos que historicamente foram reservados aos homens. O próprio Papa Francisco diverge da visão do missionário católico, o que ficou evidente ao elevar a memória de Maria Madalena ao título de apóstola, um gesto que pode ser interpretado como uma contestação da cultura patriarcal machista, que nega às mulheres o protagonismo no círculo dos discípulos de Jesus.

Na ocasião, o Papa publicou um tuíte com a seguinte afirmação: “Às mulheres devem ser confiadas funções e responsabilidades maiores. Quantas opções de morte seriam evitadas se estivessem precisamente as mulheres no centro das decisões! Empenhemo-nos para que sejam mais respeitadas, reconhecidas e envolvidas.”

O discurso político do frade, alinhado ideologicamente à extrema direita, não está em consonância com o pensamento do Sumo Pontífice e, portanto, diverge da orientação oficial da Igreja Católica.

www.reporteriedoferreira.com.br   Por Rui Leitão- Advogado, jornalista, poeta, escritor




O FASCISMO DIGITAL;  Rui Leitao Jornalista

Rui Leitao Jornalista: O FASCISMO DIGITAL

Ingressamos na era do fascismo digital. As big techs têm cumprido bem o propósito de substituir a informação pela desinformação, transformando as redes sociais nos grandes instrumentos de propaganda de uma ideologia neofascista. Atuam, com competência, como formadoras de mentalidades obscurantistas, incentivando pulsões violentas alimentadas pelo discurso de ódio e intolerância. A internet cria conexões rápidas entre grupos que praticam e estimulam atos de terrorismo e ataques antidemocráticos.

Em consequência, os discursos populistas e autoritários passam a ser externados não só por lideranças políticas, mas também por cidadãos comuns. Em vez de as tecnologias digitais se colocarem como ferramentas para a promoção da democracia, assumem…
[15:27, 09/03/2025] Rui Leitao Jornalista: Tumulto na inauguração do Almeidão
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Ao encerrar o seu mandato de governador, Ernani Sátiro inaugurou os estádios que construiu em João Pessoa e Campina Grande. Foram entregues ainda sem nomes oficiais, por isso receberam do povo, em princípio, os apelidos de “Satirão”, o da Capital, e “Amigão”, o de Campina Grande. Só em maio é que foram denominados de José Américo de Almeida Filho, passando a ser chamado de “Almeidão”, e Governador Ernani Sátiro, respectivamente.

O Botafogo do Rio foi o time convidado para enfrentar os paraibanos nas partidas de inauguração, realizadas nos dias sete e nove de março de 1975. No “Amigão” o Campinense empatou em zero a zero com a equipe carioca. Enquanto que em João Pessoa o “Belo” perdeu de dois a zero. Como não havia ainda refletores os jogos aconteceram no período da tarde. A iluminação dos campos só foi inaugurada meses depois.

A festa esportiva no “Almeidão” foi marcada por um clima de tensão, em razão de advertências que teriam sido feitas durante toda a semana pelo deputado Rui Gouveia, de que o estádio não oferecia segurança para acolher um grande público e poderia acontecer uma tragédia. Mesmo assim, os dois lances de arquibancadas ficaram totalmente tomados pelos torcedores, calculando-se em torno de 30 mil expectadores.

Ao final do primeiro tempo uma bomba que explodiu na área que hoje chamamos de “arquibancada sol” foi o suficiente para provocar um tumulto generalizado. O barulho das pessoas correndo apavoradas dava a impressão de que o estádio estava ruindo. Na “arquibancada sombra”, onde me encontrava, o público também se atemorizou, estabelecendo idêntica agitação. Realmente foi algo estarrecedor. Sem compreender bem o que estava acontecendo, todo mundo procurava a saída ao mesmo tempo, com as pessoas atropelando umas as outras. Cerca de 30 torcedores foram enviados para o Hospital do Pronto Socorro para receber atendimento médico.

A tranquilidade só aconteceu quando o próprio governador ocupou os microfones da Rádio Tabajara para anunciar que tudo estava dentro da normalidade e que não havia qualquer motivo para aquele alvoroço, atribuindo, inclusive, o fato ao efeito psicológico do terrorismo praticado pelo parlamentar nos dias que antecederam a inauguração.

Passado o susto, o público voltou a fazer festa e a partida foi reiniciada sem qualquer outra ocorrência que pudesse tirar o brilho do espetáculo futebolístico e a alegria do pessoense em receber finalmente um estádio que propiciaria a realização de bons jogos e estimularia o crescimento do nosso futebol.

Rui Leitão




A COPROLALIA, DOENÇA DOS PALAVRÕES Por Rui Leitao 

A COPROLALIA, DOENÇA DOS PALAVRÕES Por Rui Leitao

Quando criança, acompanhando meu pai numa ida ao aeroporto para aguardar a chegada de um governador do meu estado, tive um a surpresa que me deixou intrigado por muito tempo. Fiquei espantado ao ver aquela autoridade proferir um palavrão em público. Achei algo inadequado e desrespeitoso.

Depois, na vida adulta, compreendi que aquela era uma atitude normal. Afinal de contas, as autoridades são humanas e se comportam igual a todos nós. Menos quando isso se torna algo compulsivo, a permanente mania de falar palavras ofensivas ou socialmente inaceitáveis, em qualquer local ou em qualquer ocasião, até em solenidades oficiais. De vez em quando usar expressões fortes em momentos de grandes explosões emocionais ou de energia represada, pode ser considerado uma manifestação aceitável. Porém, proferir, em cada cinco palavras, três palavrões, passa a ser classificado como um comportamento doente ou de má educação.

E essa doença tem nome: coprolalia. É a tendência a proferir palavras obscenas ou fazer comentários socialmente depreciativos. O termo vocabular deriva do idioma grego “κόπρος”, que significa “objetos fecais” e “λαλία”, tagarela, conversa sem sentido. São palavras ou frases tidas como tabus sociais, xingamentos descontextualizados, repetindo palavras características de sua mente. Daí porque costumamos dizer que tais pessoas têm a “boca suja” porque contêm uma linguagem grosseira, despudorada, desbocada.

Não me acusem de puritano. Mas o exercício de determinados cargos relevantes exige o respeito a normas morais e éticas, o que chamamos de decoro, a forma correta de se portar, agir com dignidade e compostura. Tivemos um presidente da República que é repetitivo em proferir discursos utilizando um linguajar chulo, autoritário e desrespeitoso. Sem atributos intelectuais, apela para o baixo calão, num comportamento absolutamente incompatível como exercício da chefia de Estado ou de liderança política nacional. O mais incrível é que tem muita gente, inclusive muitos que vivem falsamente pregando moralidade e bons costumes, aplaudindo essa verborragia indecente que produz diariamente.

Numa reunião ministerial, tornada pública para todo o país, o que se via eram seus ministros o imitando e jorrando palavrões na emissão das opiniões e pareceres sobre assuntos que mereceriam ser encarados como importantes. A coprolalia não tem cura. O mais preocupante é que essa doença parece ser contagiosa.

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